Sunday, September 20, 2009

Pensar

Não é por acaso, que por lusas terras, nunca se assistiu a uma revolução industrial, tecnológica, de serviços ou do que quer que seja. Assistimos a uma de cravos, e já gozas. Haverá motivos? Claro.

Temos uma sociedade civil - desde sempre - manifestamente medíocre. Pensemos pois, num hipotético e fantasioso exemplo que passo a anunciar. Um cientista (português) pretende fazer uma demonstração pública de um robot que permite cortar o cabelo à distância. Através de tecnologia bluetooth e com um receptor de sinal instalado perto do cliente é possível programar o corte de cabelo e sair da cadeira com o cabelo cortado em menos de 2 minutos e sem a intervenção manual de ninguém. Wow!

A notícia é transmitida pela comunicação social (a caixa de ressonância da medíocre sociedade civil) e a nossa reacção divide-se de imediato em dois vectores: negação e protesto. Em primeiro lugar, a maior parte das pessoas que assistir ao evento, espera genuinamente que algo corra mal. Dificilmente encontrará na assistência alguém que procure uma aplicação prática e construtiva do novo sistema. A parte do protesto então. Todas as associações do sector irão de imediato dizer (à porta do evento claro), que a nova invenção irá destruir milhares de postos de trabalho, que é o fim dos barbeiros e cabeleireiros e que esperam sinceramente que o governo faça alguma coisa.

O fim desta história (fictícia) é real: o cientista emigra para Inglaterra ou para os Estados Unidos, regista lá a sua patente, fabrica lá o seu novo produto e o resto do mundo (nós incluídos) importa esta maravilhosa inovação. O cientista dá entrevistas, e emite opiniões negativas sobre Portugal o que lhe garante ódio visceral e estatuto de pária (veja-se o silêncio tumular sobre a recente trasladação de Jorge de Sena, um pensador que tanto insistimos em esquecer). E demos então o nosso melhor para ficarmos pior.

"Estar à frente" significa nova tecnologia. Sempre foi assim. Há séculos atrás, estar à frente implicava coragem, determinação e chico-espertismo (uma das nossas capitais especialidades). Navegámos o mundo, descobrimos umas quantas coisas e liderámos. Esgotado este modelo, por nova tecnologia entendia-se novas formas de produção que permitiram massificar, literalmente, o mundo. E tivemos então as Revoluções Industriais. Nenhuma, como se sabe, aconteceu em Portugal. Basicamente, enquanto vivemos num sistema político que não implicava o voto da população - monarquia - os decisores dirigiam as suas políticas para onde bem entendiam e alguns fizeram-no de forma exemplar (D. João II). Na actual democracia, os políticos estão reféns da opinião pública; em Portugal não é bem assim, na medida em que os políticos são pouco fiscalizados pelos seus eleitores, o que faz deste cantinho um paraíso político. Sabendo que os políticos têm que agradar os seus eleitores (pelo menos em época de eleições) prometem-lhes aquilo que eles esperam: segurança. Em Portugal, segurança traduz-se em saúde grátis, ensino grátis, pensões e aumento do rendimento mínimo. Ninguém pede por nova tecnologia, naturalmente, os nossos amáveis decisores não se preocupam muito com o tema. Repare-se que há uns anos no bolo de promessas que eu atrás referi, incluía-se sempre descida de impostos. Nestas eleições, PS diz que não baixa impostos e o PSD diz que baixa dependendo do que encontrar. E nós até aceitamos isso. As nossas expectativas vão diminuindo (pergunte a um jovem se tem a certeza que irá receber reforma). Continuamos a aceitar que se despeje dinheiro público numa série de sectores e não percebemos que a forma de financiar esta demência é com os nossos impostos.

Com tecnologia competitiva, e passível de exportar para outros países, conseguiríamos financiar todos estes sectores sem recorrer a aumento de impostos. Assim se faz nos outros países. Precisamos de ser mais exigentes nestas matérias e tentar influenciar - dentro das possibilidades que cada um tem - os nossos decisores a dar um salto decisivo nesta matéria. Actualmente, o investimento do Estado em investigação e desenvolvimento não atinge 1% do PIB. Nos países desenvolvidos ronda os 3,5% (o triplo).

2 comments:

João Nogueira dos Santos said...
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Cris said...

Meu caro Miguel, devias vender rapidamente a quinta do farmville e dedicar-te as à política. Alistar-te num partido político, um qualquer. Precisamos de sangue novo!