Viver numa cidade grande pode ser o cabo dos trabalhos para quem quer ser diferente. Não para quem é naturalmente diferente diga-se, mas para quem faz um esforço para ser diferente. Michael R Solomon nos seus livros sobre comportamento do consumidor afirma que as pessoas tendem por um lado a diferenciar-se das outras pessoas e por outro compreendem - intrinsecamente- que se forem demasiado diferentes acabam por ser ostracizadas. Concluindo, as pessoas querem ser diferentes, mas não muito diferentes.
Nas grandes cidades (Lisboa por exemplo), a multiplicidade de estilos e formas de estar eleva o trabalho de ser diferente a um nível mais complexo. A diferenciação só faz sentido se houver capacidade para exteriorizar essas diferenças. Vivemos então numa sociedade de consumo, ideal para nos ajudar nesta tarefa de diferenciação. Diferenciar é surpreender os outros. Ou não.
Muitas pessoas são de facto, diferentes. Uma grande parte quer ser diferente. E uma maioria quer à força toda ser diferente não o sendo. Este último grupo segue à risca um conjunto de regras que levam impreterivelmente em linha de conta, a imagem que as outras pessoas têm de si. Passo a enunciar algumas destas regras:
- Tudo o que é mainstream não faz parte do seu gosto pessoal; Dan Brown na literatura, Spielberg no cinema ou os The Killers na música não entram no seu mundo nem a pagar à cabeça. Tudo o que são fenómenos de massa não interessam. Afinal de contas, como é que vão conseguir ser diferentes a gostar do mesmo que os outros gostam?
- Roupa. A roupa assume-se como um factor determinante neste grupo. Com o crescente número de tribos urbanas é cada vez mais complicado ser diferente. É natural então, que se veja por aí conjuntos improváveis como sapatos de vela, baggy jeans, um polo Fred Perry (Lacoste não pode ser porque toda a gente já tem) e uns Ray Ban do filme "Aviador" (infelizmente um filme mainstream, mas pronto, se for só uma coisa que pertence à manada, provavelmente será considerado diferente na apreciação geral)
- Os locais para comer. É absolutamente imprescindível ter duas motivações constantes nesta matéria: garantir que se vai aos restaurantes badalados há uma porrada de anos e descobrir os restaurantes novos antes de 1/10 da população. Os restaurantes mais antigos indicam um estilo de vida de conaisseur, dos que conhecem os cantos à cidade, que não andam nisto há dois dias. Ser diferente implica, ter conhecimento de causa. Ser o 'early adopter' dos novos espaços de degustação garante igualmente uma imagem na cabeça dos que nos observam de reverência. "Aquele gajo conhece tudo.. aquele gajo tá sempre em cima do acontecimento" Nada contra. Excepto se o comportamento for premeditado. Regra geral é.
Devemos sentir-nos bem connosco próprios ou será mesmo preciso agradar um bocadinho os outros? E a ser verdade vale a pena o tempo dedicado à diferenciação ou é preferível o "hate ir or love it"? Não sei.
Viva a diferença!
Friday, September 25, 2009
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1 comment:
Devemos sentir-nos bem connosco próprios ou será mesmo preciso agradar um bocadinho os outros?
É sempre um misto de ambos.....nenhum homem (ou quase por acaso ja conheci alguns na serra de tavira) é uma ilha.
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