Thursday, April 29, 2010

Facilidade


Sobre a última crise financeira e da qual se ouvem ainda alguns ecos mundo fora (Portugal incluído e que está agora sob a mira dos mercados): um dos motivos que se mencionam para a sua ocorrência é a facilidade que existiu durante alguns anos, no sentido de obter crédito barato junto dos bancos. A culpa é da facilidade. Mentira.

A culpa é de quem não conseguiu formar cidadãos, com consciência e responsabilidade suficientes, para entender que se ganham mil euros por mês, não podem ter despesas de mil e duzentos. Ou para entender que não podem ter oito créditos. E por aí fora. Apesar de reconhecer que o apelo ao consumo é fortíssimo e que na hora de assinar papéis, as instituições de crédito não abrem o jogo todo, se os cidadãos estiverem suficientemente informados, conseguem compreender o que devem ou não fazer em matéria financeira.

Comprar droga (qualquer uma) é relativamente fácil. Mesmo quem não faça parte do meio, entre portas e travessas consegue arranjar o que precisa. O mesmo para cigarros. Ou álcool. Apesar de todo o mundo desenvolvido ter problemas com a toxicodependência, sabe-se que a maioria da população não faz parte desse problema. Por ser fácil? Não. Porque conhecem as consequências desse acto e optam por não o fazer apesar dos apelos que vão surgindo.

A desresponsabilização do cidadão anónimo é mais um passo para outra crise qualquer.

Monday, April 26, 2010

O Paradoxo Salarial


Nas últimas semanas falou-se sobre os prémios salariais dos gestores de topo (Bava e Mexia nomeadamente). Por outro lado, vejo que alguns vêm a terreiro queixar-se que os ordenados do sector público são absolutamente ridículos quando comparados com os que se praticam no sector privado.

Traduzindo, os 3800 euros brutos de um deputado são uma pechincha quando comparados com o salário equivalente ao de um quadro do sector privado com responsabilidades equivalentes. Como tal, a motivação é alegadamente menor na medida em que o incentivo é manifestamente inferior.

Esquecem-se os paladinos defensores desta teoria que existe uma diferença fundamental entre público e privado. Se uma empresa privada apresentar prejuízos ano após ano, ou se um conjunto de investimentos não tiverem o resultado previsto, os responsáveis dessa empresa enfrentam uma falência e tudo o que daí advém: problemas pessoais, financeiros, familiares e estigma social. São obrigados a enfrentar uma série de consequências.

No estado não é assim porque não existem consequências. Se um governo entender que em 4 anos deve construir 10 autoestradas e se findo esse tempo se verificar que o investimento foi uma nulidade em termos económicos, nada acontece. Os governantes mudam, as empresas públicas continuam a existir - e a dar prejuízo - e esses mesmos governantes, responsáveis por esses investimentos falhados, no fim dos seus mandatos, vão trabalhar para o sector privado, usufruindo do melhor dos dois mundos.

Se querem ordenados compatíveis com as suas funções, que as desempenhem com seriedade. E já vai sendo hora de responsabilizar criminalmente as decisões que são tomadas claramente contra os interesses do País.

Tuesday, April 20, 2010

Envie um email

Por várias ocasiões tive oportunidade de criticar a inércia dos cidadãos relativamente ao poder político e/ou às situações que lhes causam perplexidade, mas que merecem da sua parte pouca atenção ou nenhum tipo concreto de medida.

Se há crime que me deixa perturbado é o da pedofilia. Não há nada mais vil e asqueroso do que abusar sexualmente de uma criança, que por natureza não se consegue defender e não tem como fugir da situação. É um dos grandes flagelos do nosso tempo enquanto sociedade.

Hoje leio uma notícia no DN, sobre um homem que foi libertado - com pena suspensa - depois de ter sido provado (através de declarações de testemunhas e relatório médico) que violou uma menina de 8 anos. Não vou escalpelizar a notícia, ela própria fala por si. Link aqui.

Enviei um email a vários responsáveis políticos solicitando que se debrucem sobre o problema. Bem sei que provavelmente não adianta muito, mas se ninguém reclamar nos sítios certos, se ninguém fizer ouvir a sua opinião para lá das mesas de cafés, para lá das conversas de cigarros nos intervalos do escritório ou nas caixinhas de comentários das redes sociais, não há nada que mude, é a realidade, perdoem-me a tónica algo sindicalista.

Se quiserem aproveitar o texto que enviei, façam-no, é só fazer copy/paste e enviar a quem de direito. Em baixo, o texto e os links directos para enviarem as vossas mensagens.

Ministério da Justiça
Primeiro-Ministro
Presidente da República(belem@presidencia.pt)
PS
PSD
CDS (cds-pp@cds.pt)
Bloco de Esquerda (bloco.esquerda@bloco.org)
PCP (pcp@pcp.pt)

E o texto propriamente dito.

Bom dia,

A confirmar-se a veracidade desta notícia, devo dizer que é absolutamente lamentável o ponto degradante ao qual o nível das decisões em termos judiciais chegaram. Não sei se serão erros de avaliação dos juízes ou se serão as leis que não lhes permitem tomar as decisões adequadas, contudo, e provado um crime de violação sobre uma criança, é impensável que se liberte uma pessoa destas com o argumento que não tem antecedentes. As crianças devem ser protegidas acima de tudo, na medida em que não têm como se defender de gente desta estirpe e representam o nosso futuro enquanto povo.

Bem sei que vivemos na base da separação de poderes, mas peço-lhe genuinamente, que dentro da sua esfera de influência e poder, que pressione quem de direito, por forma a alterar o estado actual da Justiça e das decisões que dela decorrem.

Deixo-lhe um link com a notícia: http://www.publico.pt/Sociedade/violador-de-crianca-com-pena-suspensa-por-nao-ter-cadastro_1432955

Melhores cumprimentos

E pronto, em cinco minutos, os vossos decisores têm vários emails na respectiva caixa de correio. Transforme as suas queixas em algo palpável.

Monday, April 19, 2010

50 Anos


A História, para além de nos entreter e fascinar, garante-nos outra faculdade: olhar para trás com serenidade e compreender o que é que fizemos bem e mal. Enquanto sociedade e enquanto indivíduos. Há inúmeros exemplos, entre comportamentos, leis, costumes e manias que vistas a partir do dia de hoje, são motivo de perplexidade e espanto e questionamos inclusive, o raciocínio que levou a sociedade a materializar algumas ideias.

Não é preciso ir muito atrás no tempo para encontrar exemplos; o século XX foi fértil neste tipo de ideias: fascismo, nazismo, ditaduras, duas guerras mundiais, a grande depressão, a guerra fria, entre outras efemérides que se podiam invocar.

Aprendemos alguma coisa com tudo isto? Penso que sim. As guerras de hoje não alcançam a magnitude de um conflito mundial, o mundo desenvolvido compreende os perigos da concentração excessiva de poder e até as crises financeiras, ultimamente tão badaladas, apesar de continuarem a ter um efeito erosivo em grandes franjas da população, não têm o impacto de outros tempos.

Contudo e sendo humanos, continuamos a errar, é intrínseco à nossa natureza. Deixo a sugestão, a todos os que leram o texto, e em especial aos nossos decisores (duvido que leiam o blog, mas fica à mesma a sugestão): sempre que tomarem uma decisão relevante, tentem imaginar como é que será vista daqui a 50 anos. Dá algum trabalho, mas evita muitas patetices.

Wednesday, April 14, 2010

PEC-Man


O PEC anunciado pelo Governo há algumas semanas baseia-se entre todos os apertos já conhecidos, num crescimento virtual. E é precisamente virtual porque existe apenas nos documentos apresentados. Sem crise, sem Wall Street, sem Lehman Brothers, sem credit default swaps, BPN's ou BPP's, o crescimento de Portugal na última década nunca passou dos 2%. Como tal, não será agora, por obra e graça do Espírito Santo, que a economia irá crescer a um ritmo superior.

E sem esse crescimento é impossível fazer o que quer que seja, permanecendo eternamente o problema das finanças públicas em Portugal e sendo solicitada invariavelmente, a intervenção da classe média através de impostos e consequente redução do seu poder de compra.

Quer isto tudo dizer, no próximo orçamento de Estado, para além das medidas já conhecidas, seremos presenteados com "medidas adicionais" que visarão com toda a certeza a estabilidade do estado social e a garantia que os mais fracos continuarão a ser defendidos e protegidos.

Sobre o País e as suas habituais controvérsias: os mesmos que criticam o Estado de forma vigorosa, são os que mais rapidamente defendem a sua intervenção. Ou são hipócritas, ou não compreendem que a presença do Estado tem como consequência os habituais episódios rocambolescos que nos vão chegando todas as semanas. Menos Estado, mais dinheiro no bolso.

Friday, April 9, 2010

Condução


Uma tese de mestrado defendida por Maria João Martins (enfermeira com 20 anos no activo) no ISCTE, fala entre outras coisas, sobre a constante negação de culpa invocada pelos entrevistados desta investigação quando confrontados com situações que violam manifestamente o código da estrada e as boas práticas de condução. Citando um dos entrevistados: "O carro ganhou vida própria".

O ser humano, explica a psicologia, tende a relativizar e desvalorizar aquilo que lhe corre menos bem, ou seja, em vez de assumir a culpa associada ao erro e lidar com esse facto a partir daí (sem subterfúgios), transfere a culpa para outro sítio qualquer e repete o comportamento erróneo. Desta forma, como é fácil concluir, a evolução simplesmente não existe. O desenvolvimento baseia-se na aprendizagem através dos erros, que implica impreterivelmente, assumir que algo correu mal. Percebendo-se porquê, é possível não cometer os mesmos erros e fazer melhor da próxima vez. Apesar deste argumento ser irrefutável e milhares de anos de história da humanidade o comprovarem, muitas pessoas continuam diariamente a transferir a culpa para outro sítio qualquer.

A condução em Portugal é o exemplo máximo do nosso sub-desenvolvimento enquanto povo: a má educação, falta de civismo e o estado permanente de razão auto-suficiente em que grande parte dos condutores se encontram espelham bem o nosso atraso civilizacional.

Antes de culparmos o condutor do lado, o vizinho, o patrão que é mau, o colega que é egoísta ou o político que é ladrão, devemos analisar o nosso comportamento em todas as suas vertentes. Vivemos num País difícil, mas se não limparmos a nossa casa primeiro, contribuímos também, para aquilo que tanto criticamos.

Tuesday, April 6, 2010

O Tempo


Muito se escreve sempre que um novo meio de comunicação invade a sociedade. Foi assim com a imprensa, com o rádio, com a televisão e mais recentemente com a internet. As catastróficas aves de rapina anunciam de imediato o fim dos outros meios de comunicação. A verdade é esta: todos os meios têm sobrevivido, a rádio inclusive, um dos alvos preferidos das citadas aves de rapina.

Outra verdade, que não pode ser ignorada é que tem verificado uma migração de uns meios para os outros; as pessoas que nos anos 20 ouviam rádio, transferiram o seu tempo para a televisão quando esta se massificou e por sua vez, nos dias que correm, aparentemente existe uma forte migração da televisão para a internet. A internet, tem de facto marcado a actualidade pela forma como se impôs e pelo rápido impacto com que atinge a sociedade em geral todos os dias. Sabemos que o mundo tremeu a três mil quilómetros de distância sem ligar a televisão. Isto era impensável há poucos anos atrás. Contudo, não me parece que seja o imediatismo o preponderante factor que conduz a humanidade para este novo meio. O tempo esse sim, é o grande aliado da internet. Para além de vivermos numa sociedade sobrecarregada de informação e de operações diárias - mas essenciais - à nossa sobrevivência, a dada altura, valorizamos o tempo com muito mais veemência do que antes. Não estamos para perder tempo a ver um programa que não gostamos ou publicidade que nos aborrece. Também são mais raras as pessoas que esperam ansiosamente por uma hora específica para ver um filme ou um programa (isto provavelmente explica o sucesso dos clubes de vídeo disponibilizados pelas operadoras de cabo). A internet, é a materialização máxima do "quero à hora que quero".

Conclusão: não me parece que a internet vá exterminar a televisão, a rádio ou a imprensa, apesar de migração que eu referi ser real e estar a acontecer neste preciso momento (se está aqui a consumir estas linhas, não está a fazer outra coisa qualquer). Não me parece que os outros meios de comunicação vão ficar sentados a assistir a uma morte anunciada e as possibilidades tecnológicas utilizadas por operadoras em Portugal como a Zon e a Meo são a prova desta adaptação. Poderá dar-se o caso como na música, de se transferir a maioria dos conteúdos físicos para suportes virtuais, mas daí ao desaparecimento, o passo é grande e citando Mark Twain: "The reports of my death are greatly exaggerated"

Sunday, April 4, 2010

Random Sentences

Life doesn't have a waiting line.