Friday, January 30, 2009

Afinal não é bem assim

Nem sempre a culpa está do lado dos alegados predadores económicos, leia-se, os grandes interesses. Dois exemplos práticos.

Hoje de manhã, reparei que o mealheiro em que habitualmente deposito moedas de pequeno valor estava cheio. Dia livre, "Bom, vou comprar uma revista", peguei num considerável número de moedas de 5 e 10c e fui à minha vida. Perfazia o conjunto cerca de 50 ou 60 moedas. A revista que procurava só chegava às 12h00. Tudo bem. Mas não vou andar com 60 moedas às costas a manhã toda. Começa então a odisseia. Um cabeleireiro, quatro cafés, um mini-mercado, uma papelaria e uma lavandaria. Ninguém, repito, ninguém, me trocou as moedas. Comecei a pensar em todas as vezes que me perguntam se eu tenho dinheiro trocado e a achar a situação estranha. A resposta veio do mini-mercado: "Essas moedas só dão trabalho a contar ao fim do dia. Se quiser comprar alguma coisa tenho que aceitar, mas se quiser trocar vá ao banco, é para isso que eles servem." Não fui ao banco, mas fui a um ponto de venda desses abomináveis interesses económicos que rebentam com o pequeno comércio. Posso até dizer qual foi: "Minipreço" Perguntei se me podia trocar as moedas: ouvi de imediato um "Claro, até dá jeito" acompanhado de um sorriso. Fui alegremente para casa com a minha nota de 5 euros no bolso. Liguei o computador, fui ao site da revista que queria comprar no dito comércio local que tão bem me tratou, e comprei a versão online com o meu cartão de crédito, dispensando assim futuras visitas a estabelecimentos com tão elevados padrões de simpatia. Muito drama, pouca acção - para variar, muita queixa, pouca compreensão.

Segundo caso: falei via internet com um ex-colega de trabalho que não contactava há algum tempo. Ele, que ainda trabalha na mesma empresa, disse-me que as coisas andavam pior; pensei que se referisse à crise económica. Não. Este patrão, essa igualmente abominável figura - tinha como prática, e como forma de reter durante mais tempo os empregados e diminuindo os custos de formação - assim que contratava um empregado, ao fim de sete dias, propunha ao mesmo a celebração de um contrato sem termo, dando uma segurança ao trabalhador que o seu posto de trabalho estaria de certa forma garantido. Tendo em conta o mar de recibos verdes e contratos temporários que actualmente temos, esta era sem dúvida uma ilha de esperança. Até ao dia, em que apareceu um artista que trocou as voltas todas ao jogo. Um dos serviços da empresa é a distribuição de produtos; o distribuidor tem que ser simpático, cordial e paciente. Este senhor era antipático, mal-educado e irascível. Pressionado para se demitir, já que não reunia as condições ideais, recusou-se terminantemente a fazê-lo. Demiti-lo sem justa causa ia ser uma despesa terrível para a empresa nesta altura. Conclusão: a empresa agora sempre que contrata um elemento novo faz um contrato a termo de três meses renovável. E julgo que daqui até recorrer a uma empresa de trabalho temporário a distância é curta. De novo, a culpa não está só de um lado. Desafio a comunicação social - se é que alguém dessas bandas se perdeu por aqui - a fazer uma reportagem sobre pessoas que usam as entidades empregadoras de uma forma parasitária.

Tuesday, January 27, 2009

Oliviero Toscani

O homem que nos anos 90 fotografou as brilhantes e polémicas campanhas da Benetton: "Historically, a lot of art was publicity. It was selling an ideology or a product. In the Church, for example, Renaissance artists worked for the Pope. We all work for the Pope. There is always a Pope somewhere."

Monday, January 26, 2009

Jacob Wallenberg

"Relationships are great, but cashflow is even better."

Adivinhe a profissão do senhor em causa.

Sunday, January 25, 2009

A culpa da culpa da culpa

E por aí fora e mais houvesse. É este o debate político em Portugal; o governo faz uma declaração. A oposição critica essa declaração. O cidadão critica ambas as declarações. Fim de ciclo.

Países com economias robustas e rendimentos per capita consideráveis: o governo faz uma declaração; a oposição critica nuns casos, está de acordo noutros. Caso não esteja de acordo refere os pontos que discorda e apresenta alternativas; as alternativas não entram em absoluta conformidade com o que o governo pensa. Umas vezes não se tem em consideração o que a oposição pensa, noutras vezes até é útil. O comum cidadão também critica. Mas mais, envia um e-mail a um deputado, ao primeiro-ministro, lê diários e semanários, vota sempre que lhe é solicitado esse dever e sabe do que fala.

Sócrates entrou na ladainha permanente de que o estado precisa de agir, precisa de investir para segurar empregos and so on. Ferreira Leite para além de criticar e não sugerir ponta de corno, manda ela própria as pedras para os seus telhados de vidro. Fala sobre o défice quando foi o PSD que nos deixou com os famosos 6,82% e quando foi no seu glorioso tempo de ministra das Finanças que o país esteve oficialmente em recessão - recordo que à época não havia crise internacional nenhuma. É como digo, se os políticos tivessem a certeza que a maioria das pessoas liam e se informavam nem se atreviam a dizer metade das parvoíces que dizem. De qualquer forma e sobre esta tema, partilho da mesma opinião que Ferreira Leite em matéria de investimento; não se deve investir à toa só para criar postos de trabalho durante dois ou três anos. Tal como não se deve salvar da falência toda e qualquer empresa; se não têm rentabilidade, têm que falir. É assim que funciona o mercado. O problema do estado não é as empresas falirem; é o desemprego. Que retrai ainda mais o consumo e lança um espectro de desespero na sociedade. Mas se as pessoas contarem com apoio estatal no período de desemprego com a garantia de que se comprometem a frequentar acções de formação/especialização para quando reingressarem no mercado de trabalho tenham mais trunfos na mão, este sim, é o melhor favor que o Estado pode fazer pelos seus cidadãos. Lançar dinheiro sobre estradas, pontes e barragens, como já se percebeu, por si só, não funciona.

O efeito Obama também chegou a Portugal, na sua forma mais bacoca; o claim do eng. Sócrates para a sua moção global é "PS: A força da mudança" - power of change - familiar? Perto da Feira Popular o PC tem um outdoor com um sugestivo "Sim, é possível" - yes, we can - também familiar?
Em dois cafés de Lisboa tive a oportunidade de ouvir a mesma esclarecedora posição sobre o comum cidadão acerca da eleição em causa, passo a citar: "Porra, agora é algumas 3 semanas de Obama.."

Boa semana!

Incredible India

A Índia, depois dos ataques a Mumbai não podia ficar quieta - em plena recessão mundial - a ver o número de turistas cair a pique. A resposta foi um novo anúncio em formato TV de 1 minuto, brutal na minha singela opinião, e que deixa qualquer um, atrevo-me a dizer, com vontade de visitar este país e que de certa forma apaga as imagens do atentado das nossas cabeças. O anúncio vem também na sequência da campanha "Incredible India" que já tem um ano; governantes da nossa amada terra, criai campanhas que exaltem as qualidades do nosso país desta forma. Mantenham parte da comunicação centrada nos mercados seniores do Reino Unido e norte da Europa, mas comecem - JÁ - como estão a fazer a Índia e outros países a chamar os 30ish e os 40ish (e que até têm poder de compra) ao nosso país que apesar de pequeno tem muito para oferecer.

O vídeo pode ser visualizado aqui.

John Maynard Keynes

"If you work in finance, the market can stay irrational longer than you can stay in your job."

George Gilbert Williams

"The system filters out the toughtful and replaces them with the faithful."

Saturday, January 24, 2009

Willem Buiter

"Finance is a scary, inherently unstable, essential activity."

Sunday, January 18, 2009

Nobel, futebol, Policarpo, Crítica Crónica, Filmes e Publicações

Ficou Portugal extasiado - como era de prever e de resto natural - com o prémio ganho por Cristiano Ronaldo; a mim próprio me causou muita satisfação, ver um português ganhar tão distinto prémio. De seguida veio a tristeza e passo a explicar: há umas semanas, Paulo Teixeira Pinto (ex-presidente BCP, a braços com uns processos relacionados com acções e offshores) criticou o facto de se conhecer mais depressa um futebolista que um Nobel. Deu-me que pensar, com todo o respeito que o futebol e outros desportos merecem; mas não será mais importante o nível de educação e cultura geral de cada português? E não seríamos melhores, e em mais áreas que o fado e o futebol, se uma franja significativamente maior da população tivesse acesso à informação que realmente interessa? A resposta é sim e não é difícil lá chegar - à resposta. Fiz então uma pequena experiência: perguntei a 10 amigos/conhecidos se conheciam algum português que tenha ganho um Prémio Nobel. Responderam todos Saramago. Muito bem. Depois perguntei se conheciam mais algum Nobel português; em dez, só um se lembrou de Egas Moniz (Nobel da Medicina em 1949). É altura de, por um lado continuar a enaltecer os feitos desportivos para que a nossa auto-estima não desvaneça por completo, e por outro temos que preparar melhor crianças, jovens e pelo que vejo muitos adultos, para uma melhor compreensão da nossa história e dos nossos feitos. É um trabalho vasto e que infelizmente terá necessariamente que durar mais que uma legislatura; isto implica que muitas medidas políticas não tenham efeitos imediatos e consequentemente não se colham grandes resultados eleitorais daí resultantes. É preciso coragem para investir mais nas escolas e na formação dos professores; temos que olhar para as universidades e para os jovens que nela adquirem conhecimento como a importante ferramenta para o amanhã. Desculpem a frase feita mas é a pura realidade. Quando se decidiu começar a trabalhar o projecto da ida do homem à Lua nos EUA a média de idades dos engenheiros envolvidos no programa era 18 anos. 18 anos! Quando Neil Armstrong e Buzz Aldrin fizeram a Humanidade sonhar estes engenheiros tinham em média 26 anos. É preciso valorizar os jovens talentos que temos e envolvê-los em projectos aliciantes que coloquem Portugal na rota do progresso e da modernidade. É urgente tomar-mos passos no sentido de educar as novas gerações para terem a percepção que quanto mais conhecimento adquirirem, maior sucesso encontrarão. É um trabalho que cabe não apenas ao Estado mas também às famílias, incutindo às novas gerações a noção que apenas com esforço e dedicação se consegue chegar onde quer que seja. Somos um povo que já dominou meio mundo!

Grande polémica à volta das declarações de D. José Policarpo; existe um certo fenómeno de vitimização islâmica quando palavras menos politicamente correctas são proferidas. Quando Bento XVI aludiu a conversa de Manuel o Paleólogo com o persa erudito no âmbito de uma conferência universitária, de imediato se levantou um coro de indignações. Mas das ameaças de morte e das fatwas lançadas pelos habituais Ayatolahs pouco se falou. Aqui voltamos ao mesmo. Policarpo é acusado de islamofobia enquanto a realidade se evapora em artigos de opinião e mensagens do worldwide establishment. A verdade, é que qualquer pai ocidental que se preze - como é o meu caso - teria uma séria conversa com a sua filha sobre os hábitos culturais islâmicos que como sabemos em muitos casos, são um tanto ou quanto.. preocupantes.

Este blog decidiu oferecer prémios aos seus leitores; o prémio ainda não foi especificado por falta de tempo, mas vem-me de repente à cabeça, uma garrafa de vinho de um clube de futebol à escolha. Para ganhar o prémio aviso desde já que se trata de uma hercúlea tarefa: descobrir um artigo de opinião com uma declaração de tom positivo ou uma sugestão específica que seja por parte do grande escriba do segundo caderno (Economia) do Expresso, Luís Marques de seu nome.

Ao que parece há aí uma qualquer caldeirada relacionada com a bandeira dos Açores e as FA. Não sei para quê tanto barulho. Querem independência? Que lhes seja concedida. Ah, pequeno detalhe, a torneira fecha-se com a independência. Temos negócio?

Na embaixada de Angola em Lisboa para obter vistos são agora necessárias - em alguns casos - três noites dormidas num carro ou fazer parte de uma fila de espera que se inicia às 5h30 (da manhã). Nada garante contudo que a situação fique resolvida. Folgo em saber que se conseguiu transferir além fronteiras os famosos sistemas que impulsionam a corrupção e que promovem o chico-espertismo em detrimento da justiça e da equidade. Ao contributo angolano nesta matéria e em nome deste blog, muito obrigado.

Vi o filme A Troca de Clint Eastwood, recomendo vivamente, uma história da América no período Grande Depressão que mostra não só o lado aflitivo/melancólico de uma mãe em busca do filho, mas também o lado negro de forças policiais e políticas corruptas que contaminavam a sociedade de então. Muito bom!

Ultimamente tenho lido com alguma regularidade a Newsweek e a Economist; a diferença em termos de artigo de opinião destas publicações para as equivalentes portuguesas é no mínimo brutal. É raro ver um daqueles artigos - à portuguesa? - em que se fala mal de alguém, por falar. Arrisco-me a dizer que em cada dez artigos, nove sugerem uma ou mais alternativas ao problema descrito. Serão os estrangeiros mais inteligentes? Não. Trata-se a meu ver, de consciência social. A tal consciência social que quase todos os comentadores e escribas de opinião acusam os políticos de não ter, eles próprios sem se dar conta, não a têm. Que contributo posso eu dar ao meu país se me limitar a falar mal por falar? Eu tenho que apontar as situações que me desagradam enquanto cidadão mas tenho também - se tiver inteligência e desenvoltura para tal - que propor alternativas a esse mesmo problema. Esta é a única forma de pressionar o poder político de uma forma séria e com consequências práticas. Aqueles que têm a oportunidade de se fazerem ouvir e que optam pelo caminho da crítica gratuita sem proporem alternativas, são tão responsáveis pelo actual estado do país como os políticos que criticam. Só se consegue fazer uma ideia caminhar se forem muitos a puxar a corda para o mesmo lado. Parece que por aqui fazemos questão de cortar a corda em mil bocadinhos.

Boa semana!

Warren Buffett

"It´s only when the tide goes out that you realize who has been swimming naked."

Al Ries

"If you know what it is you´re looking for, you can recognize it a lot easier when you find it."

Samuel Huntington

"Democracy is the product of very specific cultural processes."

John Maynard Keynes

"In the long term, we will all be dead."

Séneca

"Quando uma pessoa não sabe para que porto se dirige, nenhum vento lhe pode ser favorável."

D. João I, Mestre de Avis

"Mais vale terra padecer, que terra se perder."

Thursday, January 8, 2009

Mais milhões

Oiço hoje que Portugal finalmente descobriu como resolver grande parte dos seus problemas; fá-lo-à dando mais dinheiro aos autarcas de forma indirecta e corrupta. Valentins, Fátimas e Isaltinos irão surgir em catadupa; o Governo hei por bem atribuir a adjudicação sem concurso a obras até, e agora aí vem o número redondo, 5 milhões de euros!!! Voilá! Em ano de eleições, autarcas amigos, podeis gastar até 5 milhões de aéreos sem que vos perguntem charuto!

Tuesday, January 6, 2009

Interview

Sócrates limitou-se a confirmar que é um político ligeiramente acima da média; a entrevista serviu também para eu perceber que os jornalistas/comentadores de política deste glorioso País fariam provavelmente o mesmo ou pior que os políticos que lá estão. Previa-se uma intensa bateria de perguntas; revelaram-se praticamente todas fáceis de responder e deram inclusive para brilhar! Foram perguntas em jeito de assistência para golo, onde Sócrates se limitou a finalizar com um sorriso nos lábios. Numa altura de crise de confiança como nunca antes vista perguntam a um 1º ministro porque é que salvou a empresa Y ou Z. Queriam o quê? Que falisse tudo? Ridículo.

O PSD, numa contínua acefalia, através de Paula Teixeira da Cruz na SIC Notícias hoje, começou a sua análise à entrevista criticando o facto de Sócrates ter levado uma camisa branca da praxe e gravata a condizer(!). Disse depois que foi demagógico e paupérrimo. Análise?

Thursday, January 1, 2009

Bairro do Armador

Um bairro de Chelas, onde ontem à noite parte da mesma terá sido celebrada ao som de tiros. O ano passado uma criança de 9 anos faleceu noutro bairro, na sequência de uma bala perdida aquando de uma brincadeira do género.

Ouve-se a notícia e reprova-se de imediato. Ou assim pensava eu. Mais uma vez a sociedade civil falha redondamente. Duas pessoas são entrevistadas - moradores do bairro - e quando questionadas sobre o evento dizem que não se importam e que não passam de brincadeiras. O motivo? Simples. Formação e educação. Bem sei que não é a primeira vez que escrevo isto mas como é que podemos produzir governantes decentes se a base não funciona? Que escrutínio é que existe? Se andar aos tiros "não tem mal nenhum", que dizer do resto?

Bom Ano.