Nem sempre a culpa está do lado dos alegados predadores económicos, leia-se, os grandes interesses. Dois exemplos práticos.
Hoje de manhã, reparei que o mealheiro em que habitualmente deposito moedas de pequeno valor estava cheio. Dia livre, "Bom, vou comprar uma revista", peguei num considerável número de moedas de 5 e 10c e fui à minha vida. Perfazia o conjunto cerca de 50 ou 60 moedas. A revista que procurava só chegava às 12h00. Tudo bem. Mas não vou andar com 60 moedas às costas a manhã toda. Começa então a odisseia. Um cabeleireiro, quatro cafés, um mini-mercado, uma papelaria e uma lavandaria. Ninguém, repito, ninguém, me trocou as moedas. Comecei a pensar em todas as vezes que me perguntam se eu tenho dinheiro trocado e a achar a situação estranha. A resposta veio do mini-mercado: "Essas moedas só dão trabalho a contar ao fim do dia. Se quiser comprar alguma coisa tenho que aceitar, mas se quiser trocar vá ao banco, é para isso que eles servem." Não fui ao banco, mas fui a um ponto de venda desses abomináveis interesses económicos que rebentam com o pequeno comércio. Posso até dizer qual foi: "Minipreço" Perguntei se me podia trocar as moedas: ouvi de imediato um "Claro, até dá jeito" acompanhado de um sorriso. Fui alegremente para casa com a minha nota de 5 euros no bolso. Liguei o computador, fui ao site da revista que queria comprar no dito comércio local que tão bem me tratou, e comprei a versão online com o meu cartão de crédito, dispensando assim futuras visitas a estabelecimentos com tão elevados padrões de simpatia. Muito drama, pouca acção - para variar, muita queixa, pouca compreensão.
Segundo caso: falei via internet com um ex-colega de trabalho que não contactava há algum tempo. Ele, que ainda trabalha na mesma empresa, disse-me que as coisas andavam pior; pensei que se referisse à crise económica. Não. Este patrão, essa igualmente abominável figura - tinha como prática, e como forma de reter durante mais tempo os empregados e diminuindo os custos de formação - assim que contratava um empregado, ao fim de sete dias, propunha ao mesmo a celebração de um contrato sem termo, dando uma segurança ao trabalhador que o seu posto de trabalho estaria de certa forma garantido. Tendo em conta o mar de recibos verdes e contratos temporários que actualmente temos, esta era sem dúvida uma ilha de esperança. Até ao dia, em que apareceu um artista que trocou as voltas todas ao jogo. Um dos serviços da empresa é a distribuição de produtos; o distribuidor tem que ser simpático, cordial e paciente. Este senhor era antipático, mal-educado e irascível. Pressionado para se demitir, já que não reunia as condições ideais, recusou-se terminantemente a fazê-lo. Demiti-lo sem justa causa ia ser uma despesa terrível para a empresa nesta altura. Conclusão: a empresa agora sempre que contrata um elemento novo faz um contrato a termo de três meses renovável. E julgo que daqui até recorrer a uma empresa de trabalho temporário a distância é curta. De novo, a culpa não está só de um lado. Desafio a comunicação social - se é que alguém dessas bandas se perdeu por aqui - a fazer uma reportagem sobre pessoas que usam as entidades empregadoras de uma forma parasitária.
Friday, January 30, 2009
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