Friday, October 30, 2009

Noite


Sempre que falo com dinossauros da noite, dizem-me sempre que a noite está diferente. Que já não é a mesma coisa, é só miúdos, bebedeiras excessivas, já não há aquela magia. Os tempos mudam, as pessoas também e as novas gerações da noite pensam e agem de outra forma. A tal magia que os dinossauros falam, provavelmente, já não volta.

As discotecas são um caso estranho de análise; existe uma multiplicidade de espaços de divertimento nocturno, contudo, existe algo comum, em todos eles: desconfiança. Se abordar, com a mesma frase, a mesma pessoa, numa discoteca e no meio da rua às 4 da tarde, receberá, com toda a certeza, respostas completamente diferentes. Deve-se apenas ao factor engate? Não. Apesar do factor engate contribuir em larga escala para esta diferença de comportamentos, por si só, não justifica a estranha paranóia que inunda as discotecas.

Quando forem a uma discoteca (ou clube se quiserem), reparem na forma como a maior parte das pessoas olham umas para as outras. É como se estivessem à espera do próximo movimento furtivo. É por vezes engraçado, interpelar alguém para saber as horas ou pedir um cigarro e ver uma reacção idêntica à de alguém que está a ser assaltado num multibanco.

Os empregados, com raras excepções, apresentam regra geral, uma antipatia de todo o tamanho. As discotecas devem ser dos poucos negócios onde ainda é possível o pessoal de contacto (barmans etc..) ser altamente antipático e os clientes continuarem a frequentar o espaço.

Por último, como se vive um clima de desconfiança esquizofrénico, quando aparece alguém bem disposto de sorriso na cara, é visto como uma espécie de zombie. A conclusão imediata é que o indivíduo em questão é portador de uma valente moca. Pode estar só bem disposto, afinal de contas, saiu com esse propósito. Antes de sair à noite, qual é o seu propósito?

Thursday, October 29, 2009

Jogo de Cintura


Sou da opinião que os comportamentos desviantes aumentam na proporção da permissividade das leis vigentes. Um cidadão, comete os actos que lhe são permitidos. Mais, comete mais facilmente actos em que à partida sabe, que as consequências negativas do mesmo, poderão ser torneadas.

A corrupção em Portugal goza de um estatuto especial; engavetar um maduro por corrupção é obra. Mesmo quando as provas assim o indicam. A defesa de Isaltino Morais solicitou o parecer de dois penalistas (professores catedráticos por sinal) que tentam agora destruir o caso na secretaria. Fala-se em prescrição de crime (uma figura jurídica ridícula, um crime de corrupção é um crime de corrupção, hoje ou daqui a 50 anos) e na forma alegadamente ilegal de obtenção de provas na Suiça.

Mesmo que se consigam provar estas duas situações, eticamente, um comportamento criminoso, vai para lá das barreiras jurídicas. Falei aqui, antes das eleições autárquicas, que nós temos o poder de fazer alguma coisa. Falhando amanhã a Justiça e permanecendo Isaltino livre de fazer o que entender, nós já falhámos enquanto cidadãos quando elegemos este senhor.

Neste caso, e se Isaltino for ilibado, não foi só a Justiça que falhou.

Wednesday, October 28, 2009

Fulgurante


Foi a entrada da nova Ministra da Segurança Social, Helena André, ex-sindicalista e desprovida ao momento das declarações, de assessor de imprensa e relações públicas, lançou para meditação a seguinte pérola: "A ideia de que há muita burocracia na função pública não se confirma".
É verdade que o nível de burocracia nos últimos anos tem vindo a ser desagravado por muitas medidas governamentais, mas sabemos, que existe um caminho que deve continuar a ser percorrido. Vamos dar o benefício da dúvida à nova ministra e esperar que ela compreenda que, declarações em política, por mais inocentes que sejam os seus propósitos, estão sujeitas à devida extrapolação (pode a ministra aconselhar-se junto do ex-ministro Pinho sobre esta matéria).

Ainda sobre comunicação.

Devia ser incluído nos programas escolares (tão cedo quanto possível) aulas dedicadas à eficácia da comunicação. Não falo de gramática, construção frásica ou correcta utilização de figuras de estilo. Julgo ser importante formar as pessoas no sentido de conseguirem explicar o que quer que seja com um grau mínimo de desenvoltura. Quem trabalha directamente com clientes todos os dias sabe do que falo; muitas pessoas para descreverem um problema ou solicitar/cancelar um novo serviço fazem um esforço hercúleo para levar até ao fim uma tarefa, que supostamente, devia ser simples.

Ao contrário do que se diz, não acho que nas relações humanas exista falta de comunicação. Existe sim, excesso de comunicação, normalmente, por falta de capacidade de sintetização. E depois, há pessoas que gostam de falar mais que os outros, qual é o problema? Nenhum, se estiver num café sábado à tarde a beber um Trinaranjus. Mas tendo em conta o problema estrutural de baixa produtividade que temos, o entupimento crónico em centenas de serviços, tem que ser pensado, evitado e os respectivos comportamentos alterados. Comunicação QB. Aulas de comunicação nas escolas! Como é que vamos ser melhores que os outros sem aprendermos as bases?

Tuesday, October 27, 2009

O Seguro


Um texto que escrevi há uns tempos, perdido num domingo depressivo à tarde (um tipo morto, escreve uma carta de reclamação à companhia de seguros que não pagou à sua esposa o prémio do seguro de vida em causa).

Exmos. Senhores,

Venho por este meio, na condição de morto desde já sublinho, expressar a minha profunda indignação com a conduta irresponsável, execrável e arrepiante que vossas senhorias decidiram adoptar para com a minha pessoa - ainda que, indirectamente.

Durante anos a fio, paguei religiosamente (que já agora, e como vêem, não me serviu de muito ser religioso) aquilo que eu, enquanto pessoa de bem e cumpridora, e suas senhorias comigo acordaram como o preço justo para a minha morte futura. Anos a fio! Dinheiro que podia ter utilizado em tanta coisa. Não ouvimos nunca os outros dizer que a vida é curta e que para lá de Marraquexe só há areia. Pois bem, têm nesta carta um desalmado (literalmente) segurado que para além de ter poupado para a morte, nada agora deixou. Quando a minha mulher morrer com que cara é que a vou encarar, digam-me suas senhorias?

Para a cova não se leva nada. Até o fato do enterro, comprei-o em segredo anos antes. A minha mulher perguntava-me porque é que não podia mandar o fato fora. Respondia-lhe que tinha um valor sentimental. Ela lá desistiu. Na carta que deixei, disse-lhe que aquele era o fato a utilizar para efeitos fúnebres. Abanou a cabeça inconsolável, mas respeitou a minha vontade. Por tudo isto, e muitas mais coisas passei. Só porque fui eu a terminar com a minha vida, dizem vós, do alto das vossas torres que a minha mulher não tem direito a nada. Sabia que não tinha direito a arrepender-me depois de tomar uma decisão destas, mas vocês conseguiram mesmo assim, garantir, que um homem não pode descansar descansado.

E levo assim esta vida, aliás, esta morte, à espera que a minha mulher morra e me dê um raspanete. Uma semana antes de morrer, um amigo tinha ido fazer um exame à próstata. Disse-me ele que estava um homem guardado para aos 76 anos ser enrabado. Metáforas à parte e para além da frustração, deixais-me vós assim, em posição de quem perdeu a guerra, logo eu, que nem costela alemã tenho.

Solicito por fim, que reavaliem a minha situação, que deixam um homem na sua pretensa paz e que pela primeira vez, tendo em conta a força das circunstâncias, deixem um morto sossegado. Neste caixão, nem voltas dou, bem se veja.

Melhores Cumprimentos

Monday, October 26, 2009

Previsões


O mercado das probabilidades tem o melhor de dois mundos: por um lado, os seus serviços são imprescindíveis para ajudar a tomar decisões, por outro, as previsões não passam disso mesmo, ou seja, de previsões. De outra maneira passariam a ser certezas.

O impacto das probabilidades nas nossas vidas é significativo; a responsabilização dos meios emissores de probabilidades por outro lado, é praticamente nulo. O que quero dizer, é que mesmo em caso de desajuste face à realidade, no momento do estudo ou da previsão, em muitos casos, o estudo ou a previsão são feitos de qualquer maneira. Se alguma coisa correr mal, era um estudo, uma previsão. Se houvesse certezas deixava de o ser.

Assim foi recentemente nas eleições com as sondagens (houve casos de diferenças de 8 e 9 pontos percentuais) e assim é também com as já famosas previsões meteorológicas. Quem tiver oportunidade de visitar um centro ou instituto de meteorologia fica impressionado com toda a parafernália high-tech à disposição das ciências da previsão. Oferecem-nos "ciência" e se algo correr mal na previsão, já se sabe, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance.

Alternativas? Ficar sossegadinho se não tivermos dados que nos permitam tirar conclusões. Nas ciências e na vida.

Friday, October 23, 2009

Expectativas


Formado que está o novo Governo, neste ciclo eleitoral deposito as minhas expectativas na sociedade. Confio mais nela e na sua capacidade do que nos políticos. Bem ou mal, decidimos eleger suas excelências para governar parte do nosso destino.

Em teoria, a classe política pode fazer aquilo que bem entender; é a gravidade da consequência das suas acções que ditam o seu futuro. Para que estas consequências sejam correctamente avaliadas e para que daí se possam tirar ilações construtivas, a sociedade (nós todos) tem que perder um pouco de tempo, e dar o seu contributo.

O meu desejo para este ciclo, é ver a sociedade (ou uma parte significativa da mesma) a perceber um conceito simples, e de resto, popular entre economistas: "Não há almoços grátis." Basicamente, quer-se dizer que quando o Estado "oferece" alguma coisa, a dita coisa,no imediato tem o seu custo e mais cedo ou mais tarde, alguém vai pagar a factura. Como Portugal tem um tecido produtivo fraco em comparação com o resto da Europa, as nossas empresas não conseguem gerar receita suficiente (impostos) por forma a cobrir a despesa do Estado (compreendem agora porque se insurgem os economistas quando no Orçamento de Estado se prevê o aumento da despesa). Ora, se as empresas não estão em posição de contribuir de forma a que o Estado cumpra as suas obrigações, a quem é que o Estado vai pedir dinheiro? A nós, claro está (percebe agora também porque é que paga IVA a 20%, por exemplo).

Mas o Estado só faz isto tudo, e continua na sua senda despesista por um motivo simples: porque nós, enquanto sociedade, pressionamos pouco o poder político. O PS ganhou as últimas eleições com um défice previsto para 2009 de 5,9% (o Pacto de Estabilidade prevê 3%) e a prometer um TGV e um aeroporto. Mais despesa portanto. E o défice tem forçosamente que baixar. Dê lá por onde der.

Quando for preciso reduzir o défice, julgam que o Estado vai fazer o quê? Reduzir a despesa ou aumentar impostos? Os últimos 15 anos de governação em Portugal servem como resposta.

Thursday, October 22, 2009

A injecção


A vacina para a gripe A foi encomendada em número insuficiente tendo em conta a população total em Portugal. Não foi um erro, foi propositado e terá como motivo, razões económicas e apoiado também no facto de se considerar o vírus como não sendo da maior gravidade, isto é, não põe em risco a sobrevivência da maior parte da população.

Neste sentido foram escolhidos alguns grupos de risco - normal - e no saco enfiaram-se lá os políticos. Bom. O argumento para não se terem encomendado vacinas para toda a população é a de que o vírus não é perigoso ao ponto de justificar tal medida. Se assim é, porque é que os políticos que não fazem parte dos grupos de risco vão ser vacinados? Será que, pelo sim pelo não, é melhor vacinar os engomadinhos todos?

E mais engraçado, porque é que não foram encomendados lotes para quem do seu bolso quisesse pagar a vacina? Mais um pormenor insólito do socialismo: ou há para todos ou não há para ninguém. Faz lembrar as regras dos infantários para que todas as crianças se comportem devidamente.

Perguntas que ficarão, seguramente, por responder.

Wednesday, October 21, 2009

Pingo Doce e Saramago


Dois temas distantes mas que têm algo em comum: a nossa capacidade de prestar atenção e dissecar temas que não interessam nem ao Menino Jesus.

Primeiro, o Pingo Doce. Não sei quais eram os objectivos de comunicação do Pingo Doce para esta campanha, mas pode garantir-se que o da notoriedade foi cumprido com toda a certeza. Goste-se ou não, Portugal em peso fala da famigerada campanha. Uns dizem que é demasiado longa, outros que não podem com a voz da cantora, outros dizem que tem demasiados chapéus, alguns demasiados sorrisos e a lista continua entre impropérios e divagações.
Perde o Pingo Doce clientes com esta campanha? Não. Acho que é capaz de ganhar até, tal é o alarido que a coisa tem criado. Só no final da campanha se podem avaliar os estragos (ou recolher os louros). Pessoalmente também não gosto do anúncio, mas acredito que cumpra os seus objectivos (pressupondo apenas quais são na medida em que não tenho acesso aos dados da agência). À parte da qualidade cinematográfica da coisa, era interessante estabelecer uma relação de comparação entre a participação em actos eleitorais e os movimentos que se juntam em torno de coisas infrutíferas (peço desculpa a todos os que aderiram ao movimento em causa) como o grupo do Facebook anti-spot do Pingo Doce ou as petições online para terminar com o anúncio.

Saramago. Um anti-bíblico como tantos outros, terá dito que a Bíblia "é um manual de maus costumes" no âmbito do lançamento do seu novo livro, Caim. A reacção da Igreja não se fez esperar e mandou Saramago ler a Bíblia. Saramago disse hoje que a Bíblia é o livro mais falado e menos lido (o que não corresponde à verdade.. a Bíblia é o livro mais lido do mundo). Este tipo de discussões até pode gerar conversas interessantes, na medida em que, as questões que envolvem o Homem, a sua origem e aquilo que o transcende (ou não) são matéria para profundas reflexões e debates vivos. Aquilo que se conseguiu espremer da polémica (que já agora, e tal como no caso do Pingo Doce, vai ajudar a vender o livro) foi a declaração de um eurodeputado do PSD, um tal Mário David, que segundo consta, sugeriu a Saramago a renúncia à nacionalidade portuguesa. No topo da sua sapiência (?) terminou dizendo que não vai ler o livro. Que crítica patética é esta? Tal como o eurodeputado disse e bem, tem o direito à indignação, mas caro amigo, se fundamentar a sua crítica, o povo agradece. De outra forma, um papagaio de mesa do café mais próximo faz o mesmo que sua Excelência. Criticar sem ver, um novo artifício disponível em Bruxelas.

Em ambos os casos, a indignação é analisada de um ponto de vista medieval, ou seja, não se gosta de uma coisa, portanto, devemos eliminá-la. O anúncio do Pingo Doce literalmente e Saramago expulso do país. Eu como disse, também não gosto do anúncio, mas entendo que possa cumprir os seus objectivos e vejo o levantamento público em torno de um mau anúncio com alguma preocupação. Com igual preocupação vejo, as ondas de choque criadas pelas afirmações de Saramago: conseguiremos algum dia ser religiosos e tolerantes ao mesmo tempo?

Tuesday, October 20, 2009

Pequenos sarilhos


Grassa um desrespeito profundo pelas crianças. Apesar da maior parte dos especialistas indicar a importância fulcral deste período da vida do ser humano, continuam a ser ignoradas quase todas as recomendações, e já se sabe, na falta de educação, impera a ignorância e os maus costumes.

Minimizar as crianças. Isto é uma constante. Já me deparei diversas vezes com pais ou familiares a criticar a personalidade da criança em frente da mesma. Falam dela na terceira pessoa, como se não estivesse ali, sujeitando-a a um acto de humilhação perante terceiros, "A Joana é muito nervosa, muito hiperactiva, é um problema levantar-se e ir para a escola". Tudo problemas sem dúvida. Mas serão minorados com sessões de flagelação psicológica? Não me parece. Imagine o que era estar numa sala e duas pessoas começarem a falar de si - mal ainda por cima - e voçê tem que ficar calado/a a assistir ao espéctaculo. Nestes momentos criamos o terreno apropriado para estas crianças serem adolescentes problemáticos. "Não percebo porque é que o Pedro é tão revoltado" Depois digam que a culpa é do governo, da escola ou das companhias.

Todas as pessoas gostam de sentir que a sua missão está cumprida. Muitos pais têm o argumento monetário. "Nós sempre lhe demos tudo.. não sabemos como é que isto aconteceu." Ao contrário do que muitos pensam, eu não vejo grande drama em proporcionar uma vida com conforto material aos filhos. Aquilo que é necessário entender é que essa possibilidade não substitui o acompanhamento e a atenção de que as crianças necessitam. Não há mal nenhum em forrar um quarto a brinquedos. Desde que se entenda que os sentimentos que as crianças precisam de sentir enquanto crianças, não será proporcionado por uma Barbie, uma Wynx ou um GI Joe (não sei se ainda há destes tipos mas tudo bem). Não acho que os pais sejam o melhor brinquedo dos filhos (como afirmam muitos psicólogos), mas serão certamente o seu melhor.. ou pior professor.

Monday, October 19, 2009

A idade da indiferença


Qual é a idade ideal?

Na infância queremos ser adolescentes, na adolescência queremos ser jovens adultos, na jovem idade adulta queremos ser adultos e realizar os nossos objectivos, em adultos vêm as crises dos 30's e dos 40's. Depois construímos alguma coisa (em teoria), e queremos voltar aos 20's. A terceira idade então não se fala. Acumulámos o conhecimento de uma vida. Com azar contamos os trocos para os medicamentos do colesterol e os dias para chegar o Natal (quando chega).

Porque é que fomos desenhados com esta percepção das idades? Apenas em pequenos intervalos nos sentimos bem com a idade que temos. E quando nos sentimos bem, há sempre um qualquer mentecapto a dizer que somos novos ou que somos velhos. E o que se perde neste processo? Acredito que em cada idade temos uma forma específica de estar e de pensar. Tendencialmente, ouve-se com mais atenção as pessoas com mais idade, do que as que têm menos. Associamos idade a experiência acumulada e desvalorizamos o que pensam os mais novos. Desperdiçam-se assim gerações de pensamento e ideias. E quanto é que custa uma ideia? Menos do que uma que não foi aproveitada.

O estado, do alto do seu poleiro, podia - e devia - legislar no sentido de oferecer uma aplicabilidade orientada para os resultados, envolvendo directamente os jovens nas decisões do país. Dar poder de decisão aos mais novos? Sim. Tal e qual. Não poder absoluto, mas equilibrar a balança nesse sentido. Sabendo que os aparelhos partidários detêm a exclusividade de quem deve ou não deve participar na vida política (e 80% ou mais das vezes enaltecem os traficantes de influência em vez daqueles que têm de facto valor), a dita legislação iria no sentido de impor uma quota mínima de jovens com assento parlamentar (tal como foi feito com as quotas mínimas para o sexo feminino). Desta forma, garantíamos a voz de uma faixa etária importantíssima na construção do País. Um pequeno exemplo, e curiosamente com 40 anos, a ida do homem à Lua. A média de idades dos engenheiros da NASA envolvidos no projecto era de 26 anos.
Argumentem o que quiserem.

Sunday, October 18, 2009

Random Sentences

Nothing like a nice dress.

Friday, October 16, 2009

Ronaldofilia


Há notícias que servem exclusivamente para encher os jornais; algumas publicações exageram neste tipo de truque. Cristiano Ronaldo é uma das celebridades mais utilizadas nestes pseudo-episódios de cartilha oitocentista.

Ontem, numa dessas publicações, em médias parangonas, e dignas de um lado esquerda da primeira página, assim rezava: "Ronaldo com filmes porno no computador".

A pergunta, que até podia ser motivo de reflexão e servir de prosa para o artigo no interior do jornal, seria: e que homem é que não tem pornografia no computador?

É verdade, escandalizem-se meninas, desde a massificação da internet, que não há homem neste planeta que não tenha no computador, material da pesada. No limite, nem que seja no email.

Boys will be boys.

Thursday, October 15, 2009

Curvas

Se há coisa que tenho dificuldade extrema em entender, é a pancada da moda com mulheres excessivamente magras. Tudo bem, eu como homem, sinto-me naturalmente mais atraído por uma mulher magra do que por uma mulher gorda. Mas o que é uma mulher magra e uma mulher gorda?

De acordo com a moda, isto é uma mulher magra (quaisquer semelhanças com um exemplar encontrado numa morgue local é pura coincidência):

Numa pesquisa efectuada junto dos homens onde trabalho e que estavam disponíveis à hora do inquérito, em 8 apenas 1 estaria disposto a envolver-se fisicamente com a jovem em questão.

Esta é uma questão antiga e foi recentemente levantada por Karl Lagerfeld, um homem (?) do meio. Diz que as mulheres curvilíneas devem ficar de fora das passerelles; o editor de uma revista alemã disse em resposta que está cansado de retocar mulheres magras em Photoshop para que pareçam mais gordas. Em que é que ficamos?

Que a magreza das passerelles é excessiva todos concordam, mas é necessária? Esteticamente a roupa fica melhor numa mulher excessivamente magra ou numa mulher normal? E o que é uma mulher normal? (confusão histérica esta) Volto ao tema do elitismo: como é difícil ser-se magra, pelo menos naquela forma extrema, acaba por se tornar numa forma de diferenciação e um símbolo de exclusividade.
Uma espécie de.. "isto não é para todos". Seja esta explicação ou outra qualquer, a opinião pessoal do escriba e do meu painel de experimentados artistas, é que uma mulher, será sempre mais bonita, com as curvas QB. Na passerelle.. ou fora dela.

Wednesday, October 14, 2009

O Piaçaba


O piaçaba é considerado um dos avanços da humanidade em termos de higiene. O termo original provém de uma palmeira sul-americana com esse nome e cujas fibras são utilizadas no fabrico de vassouras e escovas.

Apesar de dar uma forte ajuda na limpeza da sanita depois de coiso e tal, o piaçaba constitui, e levando em linha de conta toda a parafernália tecnológica com que as diferentes indústrias hoje nos brindam, na realidade, devia ser considerado um atraso para a humanidade. É só incómodos. Primeiro, o seu receptáculo deve estar munido de um líquido suficientemente forte que anule o odor resultante dos resquícios, que o piaçaba é obrigado a raspar, após as humanas e indispensáveis operações gastro-intestinais.
Depois, por muito que se puxe o autoclismo e por muito que se esfregue o piaçaba na sanita, fica lá sempre qualquer coisinha. 24 horas depois sendo a sua utilização necessária de novo, é impossível desviar o olhar de pequenas manchas escuras incrustadas no bendito piaçaba.

Podia continuar esta fétida descrição, mas eu próprio não consigo. Solicito aos amáveis leitores e transeuntes deste espaço, que caso conheçam uma alternativa ao piaçaba, deixem uma mensagem ou um email.

Eternamente grato ficarei.

Frases

O cepticismo é a base do conhecimento.

Tuesday, October 13, 2009

Competição


O socialismo é a antítese da competição. Os grandes ideais da igualdade e da solidariedade para com o próximo criam sentimentos de condenação e repulsa para com aqueles que têm objectivos e pretendem viver a sua vida para lá do Estado.

As melhores universidades do mundo encontram-se no Reino Unido e nos EUA. Têm métodos de trabalho que em Portugal levariam a processos judiciais, quem sabe, recorrendo a invectivas constitucionais dignas do PREC.

Em 2008, o aluno com média mais baixa a entrar em Harvard foi de 19,6 valores. Ficaram de fora excelentes alunos do mundo inteiro, mas é assim mesmo que funciona, não cabem todos. A propina anual ronda os 50.000 dólares. E repare nisto, mesmo com notas destas e a pagar todo este dinheiro, o aluno, em caso de mau aproveitamento (à partida não acontecerá, mas não se subestime nunca a parvoíce de uma mente jovem), pode ser afastado do curso em causa e até ser expulso da universidade. Não se ouve falar de casos destes por aí, e os que são expulsos, ficam caladinhos, para não prejudicar ainda mais a sua futura imagem no mercado de trabalho. A famosa expressão "My way or the highway" aplica-se na perfeição. Quer a legislação, quer a sociedade, apesar de defender e enaltecer as liberdades do individuo, lembra-o que ele tem que cumprir a sua parte do contrato. Não cumprindo, há consequências.

Uma coisa destas em Portugal é impensável. Pagar 50.000 euros e correr ainda o risco de ser expulso, ou ser pressionado para mudar de curso caso não tenha bom aproveitamento? Um ultraje na mente das gerações "grátis" e dos eternos direitos ganhos na bendita época pós-Salazar. Em Portugal assiste-se a um fenómeno inverso: as universidades públicas têm o seu prestígio (e ainda bem) e as universidades privadas (com honrosas e raras excepções) são mais conhecidas por um certo facilitismo, porque afinal de contas, o cliente está a pagar.

A continuar assim, torna-se difícil criar universidades de referência na esfera privada. As universidades privadas não têm que satisfazer o cliente como se este estivesse numa mercearia. O cliente, para além de não ter sempre razão, não pode ser visto como um cliente tradicional, a instituição deve inclusive, subjugar os alunos a apertados critérios de exigência, sem medo das consequências.

O conceito de democracia para ser equilibrado não pode fornecer uma fonte inesgotável de direitos, liberdades e garantias sem exigir nada em troca. Um bom exemplo que ilustra a influência de certas leis do tempo do 25 de Abril; esta é uma legislatura com possibilidade de revisão constitucional, vamos ver se no lamaçal de minorias, se consegue algo substancial.

Monday, October 12, 2009

The Day After

Tenho motivos para estar contente. Não por vitórias deste ou daquele quadrante, mas pelos pequenos passos dados pela nossa sociedade, antecipando-se a iniciativas legislativas - que poderão nunca ver a luz do dia - e retirando do poder, pessoas que manifestamente diminuíam a qualidade da política em geral.

Felgueiras e Ferreira Torres de fora, ficamos ainda com o enérgico Valentim e com o inocente Isaltino. Pequenos passos, que não deixam de ser significativos.

Sobre Oeiras, e a estupefacção apresentada por muitas pessoas, que não entendem como é que um concelho do país com um alto nível de rendimentos e de licenciados, pode votar em alguém a braços com a Justiça, a resposta reside no facto de os principais beneficiados do favoritismo, do amiguismo e de outros fenómenos que a Justiça tratará (esperemos nós) de identificar e punir, são precisamente, os que têm mais dinheiro e não, os que têm menos.

Num país onde as condenações por corrupção escasseiam, abundam os prevaricadores.

Desta vez, parte dos cidadãos fizeram o que estava ao seu alcance. Espera-se o mesmo da República.

Saturday, October 10, 2009

Batata quente


No Expresso de hoje, uma peça fala sobre um incidente envolvendo um rapaz de 14 anos alegadamente morto à queima roupa na sequência de uma perseguição. Da mesma peça faz parte uma coluna intitulada "Outras mortes evitáveis", ou seja, mortes que resultaram, como quer o jornalista fazer notar, de um comportamento policial, que por ser menos comedido, resultou na morte de alguém que não devia ter morrido (perdoe o leitor a espécie de redundância utilizada).

Uma primeira leitura põe-nos do lado de jovens que perderam a vida cedo. Vou tentar uma segunda leitura.

Todos estes incidentes têm algo em comum: os falecidos estavam todos a praticar um crime. O rapaz da notícia tinha roubado um Opel Corsa. Dos cavalheiros da dita coluna, um tentou roubar um fio a um GNR que estava fora de serviço mas armado, outra tentava fugir da esquadra onde estava preso partindo uma janela com uma sanita, o terceiro estava dentro do carro com o tio depois de terem roubado ferro velho, o quarto assaltava um carro e o quinto para não destoar fugia também à polícia.

Tudo bons rapazes.

A nossa sociedade tendencialmente compreensiva, humanista e pró-vida, indigna-se com actos policiais, supostamente, mais agressivos. Curiosamente, são os mesmo que se queixam do aumento da criminalidade e da violência crescente nela aplicada. Apesar de não concordar com a concessão de uma espécie de carta branca para as polícias (tudo tem o seu limite), nestes casos enunciados pelo Expresso, a realidade crua é esta: se estes indivíduos não estivessem a praticar crimes, nenhum deles tinha morrido. É importante analisar as causas antes de discorrer em páginas de conclusões.

Determinados actos têm consequências graves. E é a consciência de que existem punições para esses actos que contribuem também para a diminuição de criminalidade; as condições sócio-económicas contribuem para o crime, mas um sistema legislativo pouco dissuasor não deixa de ser um forte impulsionador à delinquência.

Thursday, October 8, 2009

O fim da macacada (ou não)


Os cidadãos desta esplendorosa terra são conhecidos por possuir um certo sentimento negativista. Quando uma situação é complicada - e muitas são sem dúvida - a nossa previsão do futuro é invariavelmente negativa. As coisas não vão melhorar, pelo contrário, vão piorar. Não tem a ver com política desta vez, é uma questão de costumes e mentalidade. Aquilo que se pode fazer num primeiro plano, é individualmente combater esse sentimento e tentar procurar alternativas e soluções para sair de situações mais complexas. É esta vontade que resolve os problemas e mais nada.

Proponho que se discuta nas escolas primárias, básicas e secundárias, no âmbito das disciplinas relacionadas com cidadania ou formação cívica, este tipo de tema; as crianças em vez de crescerem a ouvir lamurias e desespero parental, ficam antes com outra perspectiva dos problemas, e de que existe vida para lá das ladainhas. Não fico surpreendido com os níveis de abandono escolar; ao primeiro problema, desiste-se da escola. Os pais fatalistas confirmam o diagnóstico e escreve-se de novo a mesma história.

Existem problemas em todos os países. Nos países ricos que olhamos com admiração, os problemas, quer do país, quer dos seus cidadãos, também surgem com frequência, a forma de lidar com eles e a capacidade digestiva dos mesmos é que é de uma diferença abissal. Se conseguirmos diminuir esta diferença, amanhã seremos melhores.

Wednesday, October 7, 2009

O Feudo


A Madeira continua a ser palco de episódios caricatos. Tendo em conta os actores presentes na ilha, não se esperava menos.

Desta vez, os gauleses - infelizmente sem poção mágica - militantes e deputados do PND foram impedidos de entrar numa inauguração jardinense por trabalhadores de construção civil. Fazendo fé nas imagens (que terminam a peça com um João Jardim a saltar sobre um palco de microfone na mão), um foi agredido a soco e outro foi placado ao melhor estilo do futebol americano.

A polícia presente no local, interveio apenas na segunda ronda de agressões. Que a polícia é muitas vezes passiva, facto que, pode não estar relacionado com influências de Jardim, não deixa de ser interessante observar João Jardim, himself, a autorizar o levantamento de cartazes por um grupo de jovens perante forças policiais expectantes ("Eu é que estou a mandar Sr. Agente").

Que a Europa termina na parte este dos Pirenéus já se sabia, a cada ciclo eleitoral sabemos, cada vez melhor, que os erros de navegação, se pagam caro.

Tuesday, October 6, 2009

Barulho


Sem estudos ou teses que comprovem esta teoria, arrisco-me a proferir a seguinte declaração: o volume da voz de um consumidor é maior quanto menor for o valor do preço pago por um determinado serviço. Esta teoria é frequentemente verificada em comboios e descobri-a por acaso.
Desloco-me a Aveiro com alguma frequência. Numa sexta-feira caótica, os últimos bilhetes disponíveis para um Alfa Pendular (AP) eram os da classe conforto, 35 euros só ida. Sem outra hipótese, teve que ser. O silêncio na carruagem era magistral. Ideal para fazer uma viagem calma, ler um pouco e descansar. Descansar! Numa viagem de comboio! Pensei que fosse impossível. Mas é, a 35 euros de distância.

No regresso vim em classe turística. Dicotomia. Crianças a passar constantemente para cima e para baixo, a senhora ao meu lado absolutamente enfastiada da viagem nem conseguia dormir, nem conseguia ficar quieta. Duas universitárias ao meu lado descreviam com fervor semanas de álcool e rapazes giros que lhes piscavam o olho à quinta-feira. Um constante ruído de fundo gravitava à volta da carruagem.

Noutro episódio, também por escassez de bilhetes (desta vez total), viajei num Intercidades (mais barato que o Alfa Pendular). O Intercidades é tudo o que eu escrevi no último parágrafo a multiplicar por 6. Por azar, nesse dia, bandos de universitários habitavam a carruagem onde eu seguia que para além do infernal ruído debitado, desrespeitavam por completo os lugares marcados, e sempre que alguém entrava na carruagem tinha que pedir encarecidamente a um dos jovens para desocupar o seu lugar. Junte-se ainda a este caldo, pais e mães a gritar com os seus filhos e o facto de em Coimbra, julgo eu, uma senhora ter entrado com duas galinhas. A semelhança entre este comboio e aqueles que vejo em filmes indianos é imensa.

O último episódio que registei recentemente foi num autocarro (ainda mais barato que o Intercidades, claro). Desconhecia eu, que quando um utente da Carris não tem bilhete válido, o mesmo utente será acompanhado até à esquadra mais próxima para identificação e suponho eu, pagamento da multa. Para o efeito, e até se chegar à esquadra, a porta traseira do autocarro utilizada para saída dos passageiros fica fechada, utilizando-se a porta de entrada para o efeito. Dois fiscais bloqueiam a saída do infractor e como deve calcular querido leitor, a salganhada que se gera entre o momento em que se regista a infracção e a chegada à esquadra é de doidos.

O preço de um serviço mais elevado disciplina as pessoas? (Repare-se como a mesma ideia é facilmente aplicável à restauração) As pessoas com mais dinheiro têm melhor acesso a um determinado tipo de educação é sabido, mas quando alguém de uma classe mais baixa usufrui de um serviço mais requintado, tem uma atitude mais comedida. O homem de facto, é ele e as suas circunstâncias (Ortega y Gasset).

Sunday, October 4, 2009

Ostentação


Tal como existe um minuto da manhã dedicado a uma dica ecológica (e bem de resto), devia existir um minuto dedicado à dica financeira. De cabeça, recordo-me que existe apenas um programa - na RTPN - do género, e transmitido à noite.

Já se conhece a situação do País, não vamos bater mais no ceguinho desta vez, como tal, cada cidadão deve precaver-se - e a julgar pela frequência com que todos se queixam, todos devem fazê-lo sempre que possível - e assegurar o seu futuro sem pensar em reformas que dificilmente antigirão os valores praticados hoje.

Uma cultura financeira forte é também um contributo para a economia, pois desta forma, contribui-se para um consumo mais responsável, para a diminuição do crédito mal parado, e até há benefícios em termos ecológicos. A consequência mais importante contudo, deste estilo de vida mais responsável, é o bem estar do próprio indivíduo, que não está permanentemente preocupado com as contas, e sendo regrado, é também, mais feliz (interessantes os estudos recentes que ligam a felicidade ao dinheiro).

Não é preciso ser um mago financeiro, bastando seguir um conjunto de pequenas regras: a prestação mensal relativa à habitação não deve ser superior a 40% do total dos rendimentos. Deve-se também, mensalmente se possível, abdicar de 10% do ordenado para uma conta poupança. Deve avaliar bem a contracção de um novo crédito, especialmente se ainda não terminou de pagar outros.

Cidadãos mais responsáveis contribuem para um país mais rico. Em todos os aspectos.

É preferível andar de autocarro, do que ir todas as semanas ao psicólogo com um esgotamento (se tiver dinhero para pagar o psicólogo).

Saturday, October 3, 2009

A Ditadura dos Estúpidos

A democracia é também uma ditadura: a ditadura da maioria! Significa que a vontade do maior número de pessoas dita o caminho a seguir. Ora quando a maioria é inculta, pouco e/ou mal instruída resulta............na ditadura dos estúpidos! Tenho um pequeno exemplo empírico para vos dar: Em tempos, num micro-cosmos (uma assembleia-geral do Belenenses que contava com cerca de 400 associados) assisti eu em poucos minutos a uma mudança de voto de cerca de 20/30 pessoas que se tornou suficiente para alterar uma decisão importante, mudança por mero "seguidismo" acéfalo e irresponsável. Nesse dia consolidei uma ideia que tinha há muito tempo: Em Portugal vivemos nunca deixamos de viver em ditadura, apenas a substituímos a ditadura de uma oligarquia para a ditadura dos estúpidos! Soluções? Apostar na educação e na cultura......mas a sério mesmo que com isso se prejudiquem as estatísticas. Para reforçar esta minha ideia deixo-vos um mimo da política autárquica nacional, mais um entre muitos outros.......


Friday, October 2, 2009

Geocentrismo Contemporâneo

Em todas as épocas da história existem pessoas altamente resistentes à inovação. O tema é estudado pelas ciências empresariais: tal como existem os early adopters (os que dormem à porta da loja à espera do próximo Ipod), existem também os que esperam pela quinta geração de um produto ou serviço para o começarem a utilizar.

Miguel Sousa Tavares é o marco nacional anti blogs, anti twitter, anti facebook, etc.. No plano internacional, o senhor Clooney afirmou recentemente que preferia fazer um exame rectal ao vivo na TV, do que ter uma página no Facebook. A argumentação que sustenta estas opiniões tem apenas como objectivo escamotear o medo dos interesses instalados. Qual é a consequência de todos estes serviços (twitter, facebook, youtube, etc..)? É o aparecimento do prosumer, ou seja, do consumidor com capacidade de produzir e publicar os seus próprios conteúdos.

Desde que apareceram estes fenómenos os dias continuam a ter 24 horas e as semanas 7 dias. As pessoas, naturalmente, começaram a dedicar mais tempo à internet do que, por exemplo, aos jornais, ao cinema ou aos livros. Se eu posso aceder a informação e a opiniões tão interessantes como as que encontro num jornal porque é que hei-de ir gastar dinheiro a comprar um jornal? Quando os consumidores - em massa como é o caso - se deslocam de um meio para outro, alguém perde dinheiro. Muito dinheiro. Um colunista de um jornal norte americano foi despedido depois de anos de colaboração no jornal, por o seu artigo semanal ser o menos clicado de todos os artigos de opinião publicados no site. A internet permite também isto: quantificação precisa. Não me admira portanto, ouvir teses apocalípticas sobre blogs (especialmente, vindas de cronistas do regime).

Para além disso, surgiram nos últimos anos, muitos autores em vários campos (literatura e música principalmente), nascidos na internet, isto é, reuniram uma base de fãs online, transportando depois o modelo para o mundo real e ocupando os charts ao lado dos que fizeram a sua carreira offline.

Basicamente o que a internet, através do fenómeno Web 2.0 fez, foi democratizar a disseminação de informação (seja ela de que natureza for). O establishment, habituado a anos de ditadura de espaço de opinião e produção de conteúdos, imbuído num espírito geocêntrico de século XV, decreta assustado, os perigos nefastos da internet.

Thursday, October 1, 2009

Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar

A dívida externa portuguesa cresce ao ritmo diário de 34 milhões de euros, isto é, 1,4 milhões por hora.

(O título é da autoria de Caio Júlio César que viveu há mais de 2000 anos, deveras um homem de visão)

A origem da espécie


Não é sobre o livro do grande Darwin que hoje vos escrevo, mas sobre a expressão 'faz-me espécie'. Confesso que algumas expressões me irritam um pouco (não ao ponto de me enervar, mas quando as ouço, deixam-me desconfortável). Quando ouço alguém dizer "sou muito ecléctico" a sensação é idêntica. Não sei, não gosto e pronto. Contudo, a palavra ecléctico tem uma razão de existir (vem do grego, gostava de conhecer este grego, visto que tudo vem dele, e significa aquele que escolhe). Neste caso, mesmo não gostando, tenho que me aguentar (obrigadinho ó grego).

Agora o faz-me espécie é mais frustrante porque aparentemente, não tem rezão de ser. Revolvida a internet e os livros disponíveis ninguém consegue encontrar explicação para a expressão. O seu significado - causar estranheza - não encontra paralelo nem do ponto de vista epistemológico, nem do ponto de vista da tradição oral arcaica ou contemporânea. Porquê a espécie então?

Utilizamos a conjugação do verbo fazer, neste caso o "faz-me" ou "o que me faz", para normalmente definir um estado pessoal. "Essa manta faz-me calor", "Estás a fazer-me impressão com isso" e por aí fora. Compreende-se esta parte da expressão (faz-me espécie ou faz-me confusão são expressões idênticas). A parte da espécie é que ultrapassa todas as explicações plausíveis. Nem o significado actual de espécie, nem o grego (agora apanhei-te com esta ó grego!) conseguem explicar o "faz-me espécie".

Rapaziada, tudo isto, faz espécie. Os linguistas consideram a expressão como sendo correcta e de utilização livre e à patacoada.

De qualquer forma, lembre-se sempre que quando algo lhe fizer confusão.. a espécie não tem explicação.