Friday, October 2, 2009

Geocentrismo Contemporâneo

Em todas as épocas da história existem pessoas altamente resistentes à inovação. O tema é estudado pelas ciências empresariais: tal como existem os early adopters (os que dormem à porta da loja à espera do próximo Ipod), existem também os que esperam pela quinta geração de um produto ou serviço para o começarem a utilizar.

Miguel Sousa Tavares é o marco nacional anti blogs, anti twitter, anti facebook, etc.. No plano internacional, o senhor Clooney afirmou recentemente que preferia fazer um exame rectal ao vivo na TV, do que ter uma página no Facebook. A argumentação que sustenta estas opiniões tem apenas como objectivo escamotear o medo dos interesses instalados. Qual é a consequência de todos estes serviços (twitter, facebook, youtube, etc..)? É o aparecimento do prosumer, ou seja, do consumidor com capacidade de produzir e publicar os seus próprios conteúdos.

Desde que apareceram estes fenómenos os dias continuam a ter 24 horas e as semanas 7 dias. As pessoas, naturalmente, começaram a dedicar mais tempo à internet do que, por exemplo, aos jornais, ao cinema ou aos livros. Se eu posso aceder a informação e a opiniões tão interessantes como as que encontro num jornal porque é que hei-de ir gastar dinheiro a comprar um jornal? Quando os consumidores - em massa como é o caso - se deslocam de um meio para outro, alguém perde dinheiro. Muito dinheiro. Um colunista de um jornal norte americano foi despedido depois de anos de colaboração no jornal, por o seu artigo semanal ser o menos clicado de todos os artigos de opinião publicados no site. A internet permite também isto: quantificação precisa. Não me admira portanto, ouvir teses apocalípticas sobre blogs (especialmente, vindas de cronistas do regime).

Para além disso, surgiram nos últimos anos, muitos autores em vários campos (literatura e música principalmente), nascidos na internet, isto é, reuniram uma base de fãs online, transportando depois o modelo para o mundo real e ocupando os charts ao lado dos que fizeram a sua carreira offline.

Basicamente o que a internet, através do fenómeno Web 2.0 fez, foi democratizar a disseminação de informação (seja ela de que natureza for). O establishment, habituado a anos de ditadura de espaço de opinião e produção de conteúdos, imbuído num espírito geocêntrico de século XV, decreta assustado, os perigos nefastos da internet.

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