Friday, October 30, 2009

Noite


Sempre que falo com dinossauros da noite, dizem-me sempre que a noite está diferente. Que já não é a mesma coisa, é só miúdos, bebedeiras excessivas, já não há aquela magia. Os tempos mudam, as pessoas também e as novas gerações da noite pensam e agem de outra forma. A tal magia que os dinossauros falam, provavelmente, já não volta.

As discotecas são um caso estranho de análise; existe uma multiplicidade de espaços de divertimento nocturno, contudo, existe algo comum, em todos eles: desconfiança. Se abordar, com a mesma frase, a mesma pessoa, numa discoteca e no meio da rua às 4 da tarde, receberá, com toda a certeza, respostas completamente diferentes. Deve-se apenas ao factor engate? Não. Apesar do factor engate contribuir em larga escala para esta diferença de comportamentos, por si só, não justifica a estranha paranóia que inunda as discotecas.

Quando forem a uma discoteca (ou clube se quiserem), reparem na forma como a maior parte das pessoas olham umas para as outras. É como se estivessem à espera do próximo movimento furtivo. É por vezes engraçado, interpelar alguém para saber as horas ou pedir um cigarro e ver uma reacção idêntica à de alguém que está a ser assaltado num multibanco.

Os empregados, com raras excepções, apresentam regra geral, uma antipatia de todo o tamanho. As discotecas devem ser dos poucos negócios onde ainda é possível o pessoal de contacto (barmans etc..) ser altamente antipático e os clientes continuarem a frequentar o espaço.

Por último, como se vive um clima de desconfiança esquizofrénico, quando aparece alguém bem disposto de sorriso na cara, é visto como uma espécie de zombie. A conclusão imediata é que o indivíduo em questão é portador de uma valente moca. Pode estar só bem disposto, afinal de contas, saiu com esse propósito. Antes de sair à noite, qual é o seu propósito?

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