Wednesday, September 9, 2009

O Elitismo

O elitismo é em certa medida algo paradoxal. Em primeiro lugar, o que é que faz com que alguém pense que faz parte de uma elite? Independentemente da área, essa pessoa pensa que terá conhecimentos, prática e superioridade intelectual sobre as massas relativamente a uma dada matéria. Assume, regra geral, uma atitude pedante, arrogante e petulante (não me lembro de mais adjectivos acabados em ante, podem enviar sugestões via email). Perante este cenário riquíssimo, a elite, sabedora daquilo que as massas alegadamente não sabem, tem várias preocupações que passo agora a enunciar.

Um elitista musical tem que respeitar uma série de regras: deve investigar de forma obsessiva as áreas musicais do seu interesse, sendo que antes disso, é impreterível que escolha estilos musicais fora do mainstream. Na eventualidade de encontrar um artista ou uma banda que seja do seu agrado durante algum tempo mas que, por obra do diabo, se torne mainstream, deve imediatamente espalhar aos quatro ventos que a banda era fora de série, mas que agora se tornou demasiado comercial. Outra característica fundamental é a crítica constante à música mainstream. Inclusive e se possível deve manifestar o seu absoluto desagrado com aqueles fenómenos musicais que nos verões, tradicionalmente, invadem os rádios e Ipod's de grande parte da população. Deve queixar-se deste tipo de fenómenos como se de um vírus se tratasse. Como se lhe fizesse uma confusão tremenda ao ponto de provocar uma dor de cabeça ou um pseudo-esgotamento. Nesta busca constante por estilos novos, ritmos e sonoridades diferentes do que a "manada" procura, naturalmente, a elite acaba por fazer o mesmo que o mainstream: ouve um tipo pré-determinado de música, onde o que cai fora do círculo fica para a malta do mainstream. É naturalíssimo por exemplo, que de início a elite adorava Deolinda. Agora contudo, já está um pouco mainstream. Aposto que o próximo albúm de Deolinda já será "meio comercial". O substituto já foi encontrado contudo! Oquestrada..! É diferente o suficiente e sempre dá para uns bons 6 meses até ser declarado anti-elite.

Passemos à escrita.

O elitista da escrita é mais ou menos idêntico ao musical. Na sua inesgotável inteligência não consegue entender como é que alguém lê Sousa Tavares ou Dan Brown. Milhões de livros vendidos são sinónimo de má qualidade. Sem nunca terem lido o livro pré-formatam o cérebro com ideias disparatadas sobre conteúdos livrescos. Andam sempre em busca do próximo grande pequeno autor e claro, lêem os clássicos, que já ninguém lê. Não tenho nada contra clássicos, tenho contra quem apregoa aos sete ventos que os clássicos é que são! Como se no mundo que vivemos e com a variedade literária disponível exista só uma verdade.

Por último, as definições de elitismo são elas próprias elucidativas do estado de espírito algo patológico dos que se inserem nesta definição:
- "Consciência ou convicção de pertencer a uma elite" (os tais que acham que pertencem a algo que só existe na cabeça deles próprios)
- "Convicção da superioridade das elites e dos seus membros" (a tal pancada snobe de superioridade)
- "Sistema sociopolítico que visa a formação de elites, mas que despreza as massas" (o desejo de ser um grupo pequeno por forma a ser notado)

Em resumo, o elitismo não passa de uma mistura de desejo de afiliação, protagonismo e um estado de espírito de "eu quero ser catalogado de qualquer coisa".

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