Monday, December 28, 2009

Coitadinhos


Por diversas vezes critiquei aqui o papel da sociedade civil; sendo certo que os políticos desempenham um papel preponderante na degradação da nossa qualidade de vida, nós enquanto membros de um Estado de direito que nos possibilita alguma intervenção, não vamos muito além da banal conversa de café que não produz um milímetro do que quer que seja.

De qualquer forma a nossa inacção tem motivos, um deles penso eu, está relacionado com a pressão efectuada por organizações que funcionam mais como força de bloqueio do que como força dinamizadora. O Sindicato dos Jornalistas pediu a intervenção da ERC (outra entidade mirabolante que nos protege de coisa nenhuma) porque o jornal Destak começou a utilizar publicidade contextual, ou seja, num texto jornalístico determinadas palavras quando clicadas ou quando o cursor do rato as sobrepõe conduzem o leitor para outra página ou accionam um pop-up com a dita publicidade.

Está com medo o Sindicato, que os textos sejam desvirtuados para que se possa incluir publicidade nas notícias. Esta preocupação em manter a verdade nas notícias é no mínimo divertida: conhecemos todos a enxurrada de notícias que são veiculadas sem se ter a certeza do que é que se está a dizer e que origina de resto, consequências graves na imagem pública de muita gente. Por outro lado, é de registar que somos dos poucos países desenvolvidos onde os jornais se declaram como independentes. Em democracias avançadas como a do Reino Unido ou dos EUA até as séries de desenhos animados com cariz de crítica social se assumem como liberais ou conservadores.

Cabe ao comum cidadão decidir se quer ou não ler estes ditos textos com publicidade contextual, sendo esse julgamento que deve decidir a existência deste tipo de notícias. Se o público rejeitar a ideia, as empresas na sua lógica económica abandonarão a ideia. Já somos adultos o suficiente para decidir o que é bom ou mau para nós.

Thursday, December 24, 2009

Feliz Natal

Divirtam-se sobretudo, abraços.

Wednesday, December 23, 2009

Agenda Pessoal


Da discussão política em Portugal pouca coisa se consegue espremer; em vez de um debate construtivo do qual possa resultar algo em benefício do comum cidadão, assistimos de forma continuada a acesas lutas de argumentos vazios em torno de questões onde supostamente, devia reinar a convergência. Qual é o objectivo do País, pergunte a qualquer político. Mesmo assim, voltando um pouquinho atrás e lembrando o pacto de Justiça entre PS e PSD, aquilo que se verificou no fim, foi cada partido a arrogar para si mesmo o ónus de uma decisão alegadamente produtora de benefícios para todos. Conhecemos também o lamaçal em que a Justiça se encontra, não é preciso derivar muito sobre o tema. Ora, se em divergência nada se consegue produzir e em convergência também nada se consegue produzir, qual é a solução?

Mudar de políticos não é de certeza, enquanto forem os partidos a elaborar por sua vontade as listas de deputados, os futuros políticos resultarão sempre das simpatias e influências conseguidas e nunca do seu mérito. Naturalmente, na altura de tomar decisões e assumir posições, alinharão as suas insignificantes vontades com a conveniência dos poderosos que lhes abriram as portas. Portanto, esqueça-se os políticos, pelo menos no modelo que se encontra em vigor.

Este sistema político, tendo em conta as características da nossa forma de ser, é impraticável. É preciso criar regras que evidenciam o mérito baseado nas especificidades próprias do indivíduo e não na sua capacidade de se relacionar ou de causar boa impressão.

Tuesday, December 22, 2009

Descubra as diferenças



Francisco George (Director Geral de Saúde) e Bruno Aleixo (conhecido comediante).

Monday, December 21, 2009

Portugal i love you, but you're bringing me down


Roubei o título deste post a uma música de LCD Soundsystem e que ilustra na perfeição, o sentimento que tenho neste momento pelo meu País. Não que tenha viajado este mundo e o outro, mas dizia o outro, não há nada como a nossa terra e mesmo com todos os nossos defeitos, gosto deste cantinho, mais do que outro sítio qualquer.

Mas para viver na nossa terra, temos que o fazer com um mínimo aceitável, que no caso de alguns está muito bom, para outros nem por isso. Pessoalmente, pareço um gajo em desespero a remar, remar, sem sair do mesmo sítio. Uma metáfora bem simples, mas que tal como não haver nada como a nossa terra, também não há nada pior que remar sem sair do mesmo sítio. As notícias que têm surgido são devastadoras, não estando o adjectivo longe da verdade ou exagerado que seja. Já falei aqui sobre défice e endividamento externo, o fim de ano a coincidir com o fim de uma década, trouxe mais dados alarmantes.

O nosso poder de compra per capita desceu, tendo como referência o valor do ano 2000 ou seja, trabalha-se o mesmo, compra-se menos. E este ano os preços desceram por causa da crise internacional veja-se bem o descalabro. Não é que se viva na miséria generalizada, o país melhorou nos últimos 20 ou 30 anos (em km de auto-estrada e rotundas pelo menos), mas o objectivo é viver ao nível do resto da Europa, não retroceder (ambição, um quase crime capital neste país).

Fez-se um acordo que previa o aumento sucessivo do salário mínimo para 500 euros até 2011. A confederação do patronato diz que em 2010, pretende que o salário suba para 460 euros em vez dos 475 previstos. E faz-se mais contas. Chegou-se à conclusão que o salário mínimo actual, em proporção, é inferior ao praticado em 1974, ano da bendita revolução. Para ser igual ao de 74 deveria o salário mínimo ao dia de hoje, rondar os 568 euros. Pergunto eu, que raio de tecido empresarial temos nós, que paga salários mínimos equivalentes aos de 30 anos atrás? Quando se diz que o País evoluiu, alto e pára o baile, que muitas reticências há que colocar nesta insidiosa afirmação. A melhoria do nosso nível de vida esteve directamente relacionada com a enxurrada de fundos provenientes de Bruxelas, que beneficiaram alguns mas que nada de novo trouxe a outros. A vida do comum cidadão melhorou, mas numa medida indirecta, ou seja, sempre dependente do que os grandes interesses económicos definiram como benéfico para eles. As auto-estradas são provavelmente o melhor exemplo desta pescadinha de rabo na boca, toma lá conforto para andares a curtir de norte a sul, dá cá impostos que a coisa não é barata. E os planos para o País em vez de serem definidos pelo Estado, foram definidos por todos os que fizeram negócios com o Estado.

Que se pare dois minutos para pensar na questão do poder de compra e do salário mínimo e conclua-se com responsabilidade, o que se deve exigir dos políticos. A velha conversa de que são todos iguais e mal por mal, vota-se no do costume, tem uma consequência perigosa: não é mais do mesmo. Se assim fosse, os indicadores estagnavam. Mas suas excelências, têm tido a capacidade de fazer retroceder a qualidade generalizada do nível de vida. A capacidade está cá, contudo, mal aproveitada e ceifada por regulações que servem os interesses do costume. Business as usual, ao seu melhor nível.

Friday, December 18, 2009

Cartas Soltas - Empregado de Luxo


Um empregado de um restaurante de luxo, invectiva sobre os detalhes pitorescos dos seus últimos 30 anos.

"Nos últimos 30 anos, fui desenvolvendo relações nalguns casos, de amizade com muitos dos clientes que passaram por este balcão. Estão a ver aquele estereótipo do tipo que se senta num balcão depois de ser despedido? Eu sou o gajo que ouve e serve os whiskies de 50 euros o copo. Durante este tempo, aprendi bastante. As pessoas com muito dinheiro até nem são antipáticas de todo. Comecei a interessar-me pelos assuntos que me iam chegando aos ouvidos. E gostava de ler nos semanários, notícias sobre as pessoas que servia tantas vezes. Curiosamente, os que pareciam super simpáticos na televisão revelavam-se autênticos trastes. O mesmo para os que pagavam com o bendito cartão de crédito com a inscrição DR.

Muitos familiares e conhecidos meus perguntavam-me o que é que levava as pessoas a gastarem tanto dinheiro em comida. Eu que estou dos dois lados do balcão, tentei explicar, em vão diga-se de passagem, que a questão não era a comida. Para além da comida ser de facto, diferente do restaurante onde eu vou quando as minhas filhas fazem anos, a prestação do serviço em si, é outra loiça. Como dizem os experimentados homens do marketing, aquilo não é um almoço ou um jantar. É uma experiência. A sincronização dos empregados, a atenção ao ponto de não ter que levantar o dedo para que lhe encham de novo o copo, a delicadeza do trato e a simpatia crónica sem o sentido depreciativo do termo. Isto tudo junto, vale dinheiro. Bastante dinheiro. Mas deve ser daquelas coisas que só passando por elas. É a mesma coisa que a psicologia penso eu. Ora, que qualificações tenho eu para ouvir gente que tem problemas que eu nunca hei-de ter na vida? Nada. Sirvo lagosta ao balcão. Por exemplo. Devo ter aquela coisa de ser bom ouvinte. Não sei como é que o faço. Mas faço. E resulta pelos vistos. Senão não tinha durado 30 anos aqui. Os empregados mais novos dizem que já devo 10 anos à terra. E eu acho o mesmo. Mas gosto disto. Vivi uma vida de rico, sendo remediado. Ou melhor, conheci-a de perto. E fiz parte dela de certa forma. No meu caso, tal como os clientes, fui mais que um empregado de balcão. Isto também, foi uma experiência. Do caraças."

1755

“Amanheceu o dia, em que a Igreja celebrava a festa de Todos-os-Santos, que era em um sábado, sereno, o sol claro e o céu sem nuvem alguma. Pouco depois das nove horas e meia da manhã [...] começou a terra a abalar com pulsação do centro para a superfície; e, aumentando o impulso, continuou a tremer, formando um balanço para os lados do norte a sul com estragos dos edifícios, que ao segundo minuto de duração começaram a cair, ou a arruinar-se, não podendo os maiores resistir aos veementes movimentos da terra, e à sua continuação. Duraram estes, segundo as mais reguladas opiniões, seis para sete minutos, fazendo neste espaço de tempo dois breves intervalos de remissão este grande terramoto. Em todo este tempo se ouviu um estrondo subterrâneo, por modo de trovão, quando soa ao longe. Escureceu-se algum tanto a luz do sol, sem dúvida pela multiplicação de vapores, que lançava a terra, cujas sulfúreas exalações muitos perceberam. Foram vistas em várias partes fendas na terra de bastante extensão, mas de pouca largura. A poeira, que causou a ruína dos edifícios, cobriu o ambiente da cidade com uma cerração tão forte que parecia querer sufocar todos os viventes.A estes impulsos da terra se retirou o mar, deixando nas suas margens ver o fundo às suas águas, nunca dantes visto; e encapelando-se estas em altíssimos montes, se arrojaram pouco depois sobre todas as povoações marítimas, com tanto ímpeto que parecia quererem submergi-las, estendendo os seus limites. Três irrupções maiores, além de outras menores, fez o mar contra a terra, destruindo muitos edifícios e levando muitas pessoas envoltas nas suas águas.Como era dia solene, estavam as igrejas cheias de gente, ficando imensa debaixo de suas ruínas logo que as abóbadas e paredes destas se desfizeram, e caíram. Os que estavam ainda em casa e transitavam as ruas, igualmente uma grande parte foi vítima da mesma calamidade. Os gritos alaridos, clamores ao Céu pedindo misericórdia, sucedendo-se uns aos outros, tudo consternava e movia a lágrimas. Nem os pais buscavam os filhos, nem esposas os consortes, nem mesmo os bens terrenos eram objecto do amor de seus proprietários; ninguém cuidava senão em salvar a vida, e pedir a Deus a salvação de suas almas.Tinha muita gente buscado as margens do Tejo para se livrarem dos edifícios, temendo as suas ruínas: porém, entrando o mar pela barra com uma furiosa inundação de águas, fizeram o mais lamentável estrago, passando os seus antigos limites; e, lançando-se por cima de muitos edifícios, fez aumentar o horror com a voz vaga, que por toda a cidade se espalhou, que o mar crescia.Logo depois do terramoto, primeiro se começou a ver arder o palácio do marquês de Louriçal, a Igreja de São Domingos, o Recolhimento do Castelo, e outros edifícios, em que as luzes, ou fogões das casas, tinham comunicado o fogo aos madeiramentos. Isto, que aumentou as desgraças, fez multiplicar o susto. [...]Continuaram os tremores de horas a horas com menos violência, mas com igual horror, temendo-se que a terra se abrisse com a veemência de tantos abalos.”

Notícia do Terramoto, Cláudio da Conceição, Lisboa, Frenesi, 2005 (1.ª ed. Gabinete Histórico, tomo XIII, cap. VII, 1829) pág. 11-13

Tuesday, December 15, 2009

Open Mind


Ter uma mente aberta é um exercício de elevada complexidade e determinação. Numa primeira observação, ou percepção se quiserem, ter a mente aberta é aceitar as diferenças dos outros. Entendem-se neste plano, as coisas mais básicas e que a nossa simpática e compreensível sociedade teve a amabilidade de nos ensinar: aceitar o facto de algumas pessoas não terem a mesma cor de pele que nós e por esse motivo não as discriminar. O mesmo se aplica a pessoas com deficiências, emigrantes e por aí fora (em resumo, as minorias). A nossa condescendência com estas minorias vai aumentando de acordo com o passar do tempo, ou seja, quanto maior é o nosso nível de convivência e habituação com um dado grupo, maior será a nossa aceitação perante o mesmo (lembre-se da reacção há uns anos, que a maior parte das pessoas tinha, quando via dois homens de mão dada).

E se aceitarmos tudo isto, temos a tal.. open mind? Afinal de contas, somos um motor da sociedade! Não. Somos tolerantes, que é diferente de ter uma mente aberta. Carregamos intrinsecamente toneladas de preconceito connosco. Quantas vezes avaliámos uma pessoa pela roupa que veste? Pelos acessórios que tem no carro? Pela música que ouve? Pelo penteado? Por ser gordo? A precipitação dos nossos julgamentos superficiais são precisamente a origem da falta de tolerância. Mais, quando formamos uma percepção superficial sobre alguém ou alguma coisa, de imediato formamos crenças que suportem esta percepção. Um maluco para ser maluco, consegue sempre apresentar razões para o ser.

Viver sem preconceito é utópico, ter a mente aberta é possível, implicando contudo, um exercício diário, passível de se tornar, digamos, inquietante. A expressão separar águas não fica neste caso, muito longe do seu sentido estritamente literal.

Sunday, December 13, 2009

Cartas Soltas - Medo do escuro


A morte tenta marcar consulta num psicólogo, para deixar de ter medo no escuro.

"Senhor Doutor,

Pretendo com esta carta antes de mais, sensibilizá-lo para a realidade que me prende e atormenta numa voraz vontade de viver a vida como outro conceito qualquer. A sociedade em que o doutor se insere, foi a que mais se desenvolveu na compreensão de fenómenos tortuosos. Diga-se de passagem, que foi também, a que mais se esforçou para os desenvolver e aplicar. De qualquer forma, esta introdução serve para explicar que o meu pedido vai no sentido de lhe mostrar que falo verdade e que não se trata de nenhuma brincadeira. Até à data, nenhum dos seus colegas acreditou nas minhas sinceras palavras. E deste problema doutor, tenho que me livrar.

Ora, por estranho que pareça, eu, a morte, tenho medo do escuro. Bem sei, que à luz de todas as percepções que a sociedade tem de mim, isto é no mínimo, um paradoxo. Mas eu não tenho culpa que me associem a uma coisa má. Eu não sou boa nem má. Nem vou buscar ninguém de barco. Nem tão pouco peguei numa foice na vida. Mesmo que uma coisa desses existisse, imagine a sujeira que não seria, levar as pessoas para o outro lado, ceifadas como se diz. Bem sei que é uma metáfora, mas mesmo assim, é um exagero de todo o tamanho. Portanto, como qualquer outra coisa que habita este mundo, tenho os meus medos e as minhas incertezas. O escuro é uma delas, e segundo percebo, é possível através dos vossos estudos, compreender este medo e fazer com que ele desapareça. Só peço um pouco mais de qualidade de vida. Já sei o que é que está a pensar. A morte a pedir qualidade de vida. É um paradoxo, bem sei. Mas se eu existo, estou viva. Compreende o meu drama? Estar vivo, não é o contrário de estar morto no meu caso. Aí tem doutor, uma coisa para pensar, vocês que tanto gostam de reflectir sobre tudo e mais alguma coisa. Eu, na minha simples existência, só quero perder este medo. Pensando bem e voltando atrás, se calhar estar morto é o contrário de existir, faz mais sentido. Assim podem incluir-me nestas vossas tiradas pitorescas.

Tendo tudo em conta, compreenda o meu sufoco, e guarde meia-hora do seu dia para mim. Bem sei que me dedicará uma eternidade daqui a uns anos, mas por agora, preciso só de meia-horinha durante umas semanas.

Certa da sua sensibilidade, aguardo notícias suas. De uma forma ou de outra, falaremos um dia (isto não foi uma ameaça doutor, a vida é mesmo assim, ou melhor, a morte é mesmo assim.. bom, como quiser, só não quero ferir a sua sensibilidade).

Cumprimentos,
A Morte"

Thursday, December 10, 2009

Sentidos


Formulamos certezas de forma intrínseca. As certezas que temos trazem-nos segurança. Aparente, porque muitas certezas têm na sua essência outro significado qualquer; lá porque temos a certeza não quer dizer que estejamos certos. Quantos de nós, chegaram a uma qualquer fase da vida, e como que desabando uma montanha sobre nós perguntamos: "Mas afinal o que é que eu sei?"

Chegar a esta fase, apesar do sentimento desagradável que é sentir a pesada estaca zero, deve ser uma vitória. Acabamos por, intrinsecamente de novo, tentar construir uma nova rede de crenças, desta feita com mais cautela, mais precaução, mais inseguros e de início com um pouco menos de fé. Mas inicia-se um novo ciclo, com menos erros espera-se, a esperança diz o povo, o resto já sabem.

A partir daqui os caminhos divergem: errar é humano, duas vezes é animal. E por aí fora. E errar duas ou mais vezes pode ser mais do que emoção. Pode ser de novo, o desejo súbito da certeza e a serenidade aparente que a mesma traz. Viver constantemente em questão é algo trabalhoso. O sentido que as coisas tornam, o rumo que nos decide e a certeza do que será, são uma periclitante equação, com resultados sempre diferentes. A cada minuto. E a hora, a hora em que desistimos da questão, quando a resposta é para sempre, é desistir, para sempre também, daquilo que queremos. Entregar-nos, não é o mesmo que nos mandarmos de cabeça. O que é que se perde com tanta ponderação? E o que é que se ganha com tanto ímpeto? Tudo e nada. Não há respostas certas. E é esta premissa que nos tortura e que nos leva a tirar, as tais conclusões precipitadas. Quantas vezes ouviu "Não tires conclusões precipitadas", quer o tipo dizer, que podes cair do precipício e lá vão as certezas todas embora. Ninguém gosta de ouvir disto. O fantasma da estaca zero. Quantas vezes é preciso voltar ao zero? Mais uma pergunta por responder. E como é que se vive assim? Para esta a resposta é simples: não se pensando nisso. E termino com este paradoxo, pensar demais aflige, pensar de menos leva ao erro. E agora?

Monday, December 7, 2009

Copenhaga


O aquecimento global será sem dúvida um dos grandes temas deste século. Sinceramente, não sou propriamente um activista da causa, apesar de reconhecer a seriedade e gravidade do fenómeno. Já hoje, se sente em muitas partes do globo, fenómenos climáticos extremos e com consequências graves (uma ilha com cerca de 300 habitantes e que se estima que irá desaparecer por causa da subida do nível das águas, já firmou um acordo com a Austrália para alojar a sua população quando o inevitável acontecer).

Basicamente, os países que mais emitem CO2 (como é o caso da China e EUA), não podem de uma hora para a outra, reduzir as suas emissões para os níveis pretendidos pelos ambientalistas. É muito interessante ser a favor de menos emissões, mas sabe muito bem, ter todo o conforto ocidental à porta de casa (que implica emissão de CO2). Segundo dados recentes, o território da França tem capacidade para produzir alimentos para um máximo de 650.000 pessoas (não recorrendo a qualquer tipo de indústria e consequentemente à não emissão de gases de efeito de estufa). A população estimada do país é de 64,4 milhões de pessoas.

Apesar de acreditarmos nas consequências graves que os cientistas nos apresentam, não conseguimos imaginar-nos num mundo com fenómenos extremos a cada três dias, fome, destruição, secas extremas, falta de alimentos, migrações e o diabo a sete. Uma catástrofe bíblica resumindo. Alguém consegue imaginar isto? Claro que não. Portanto, o esforço e vontade para a redução necessária das emissões de CO2, ficarão circunscritos a pequenos actos (que têm o seu valor), insuficientes para dar a volta à coisa.

Soluções? 27.000 conferencistas em Copenhaga a partir de hoje. Vamos ver.

Sunday, December 6, 2009

Carta de Reclamação - A Morte


A morte, indignada, escreve uma carta a organizações religiosas, reclamando sobre a percepção que tem sido transmitida às populações sobre si própria.

"Boa tarde,

O vosso esforço por me evitar é no mínimo, divertido. A tradição judaica ensinou-vos, nos últimos 3.000 anos, que existe vida para além da morte. Pouco me importa. Querem achar que são eternos, força. Porque não? Até compreendo. Atravessam uma vida louca, cheia de obstáculos, sensações, emoções, tristezas, alegrias e tremoços. A micronésima parte que vocês representam no universo não passa disso mesmo, mas entendo, que sendo uma experiência para vocês tão complexa e atribulada, não possa acabar assim, sem mais nem menos.

Durante muito tempo, a vossa famigerada instituição, tranquilizou milhões de almas perdidas. Se havia vida depois da morte, nada havia a temer. E se querem a minha opinião, naqueles tempos, mais valia estar morto que estar vivo. Mas tudo mudou. Lentamente, mas mudou. As vossas miseráveis vidas, tornaram-se ligeiramente menos miseráveis em alguns sítios. Os vossos corpos duram agora muito mais tempo, e os cavalheiros das batas brancas vivem numa luta desbravada para adiar a bendita hora. Os únicos que admiro, sinceramente, são os que escolhem viver. A maior parte de vós, não entende, o que é pensar em mim e sentir alívio. Quando a ideia de partir se torna agradável, ficar aí, significa qualquer coisa. Divirto-me também com toda a literatura que vocês desenvolveram ao longo dos anos e o medo de mim, tornou-se de tal forma gritante, que até já diagnosticam pessoas com a tal da hipocondria, que sim, em última análise, é medo também de morrer.

Aquilo que pretendo, de uma vez por todas, é que se transmita a minha importância enquanto parte de um ciclo natural; o vosso mundo tem um fim. Tudo começa e acaba. Eu sou um simples símbolo de determinados fins. Não tem que ser uma alegria, nem uma tristeza. É o que é. Um fim. Tratem das vossas massas como eu trato do meu poder: com muito cuidado. Descobrirão, mais rápido do que pensam, que não devem ter medo da verdade. A bem, ou a mal.

Despeço-me, não para sempre claro."

Wednesday, December 2, 2009

Pictures inside my head


De acordo com o Público de hoje, todos os dias há um bebé português que vai nascer a Espanha. São estes os pequenos (para já) sinais da nossa debilidade económica. Maternidades encerraram, obviamente, porque era necessário reduzir o défice. A falta de dinheiro para manter as estruturas básicas do país (e uma maternidade é uma estrutura básica) tem uma consequência, igualmente, básica: se a organização Estado não tem capacidade de assegurar serviços básicos, outras organizações o farão, neste caso, o Estado espanhol.

À medida que nos vamos endividando mais e mais, a nossa cotação internacional vai descendo e a nossa capacidade de contrair crédito é cada vez menor. Menos crédito significa dinheiro mais caro para quem dele precisa para investir. Nada é catastrófico, porque em matéria política, tudo é volátil. Contudo, se continuarmos a optar pela esquizofrenia das obras inúteis, as organizações, leia-se, os Estados com acesso a dinheiro mais barato, tomarão o seu lugar nas nossas instituições, deslocalizando os centros de decisão para algures na Europa.

Se acham a tirada rebuscada, o que dizer de recentes comentários do governo espanhol, insinuando a necessidade de consertar posições entre Portugal e Espanha relativamente a matérias de decisão no âmbito da UE? Pequenos passos, nada inocentes. Vivemos numa época sem fronteiras, onde a soberania de cada país, de capital depende. Todos os que dependem do Estado para viver, mais cedo ou mais tarde, compreenderão (à força provavelmente) que as benesses intermináveis de que gozam conhecerão um fim amargo.

Tuesday, December 1, 2009

Random Sentences

A intranquilidade do relativismo, deve ser tudo, menos um susto para a nossa calma.

Monday, November 30, 2009

Islamigrante


A Suiça, país de chocolates, relógios e contas bancárias chorudas, decidiu referendar uma questão incómoda: a utilização de minaretes em mesquitas. O resultado do referendo foi um rotundo não, estando agora a construção desse tipo de edifícios, limitada por legislação vigente e resultado da vontade do povo. Imperou a soberania e costumes de um país às vontades religiosas de uma cultura.

Para lá de vontades e mentalidades, a questão de fundo é esta: como é que se desenrola o equilíbrio entre os que querem tentar uma vida melhor noutro país e os que devem (?) acolhê-los? O fantasma do nacionalismo está bem presente em toda a Europa, que durante o século XX, sofreu na pele, o idealismo exacerbado da corrente isolacionista. Dentro desta lógica, existe vontade política no sentido de acolher emigrantes, basicamente por dois motivos e não pelos seus lindos olhos: mão-de-obra para trabalhos desqualificados e um boost na natalidade. A lenga lenga da integração e compreensão serve estes dois propósitos. A integração real, contudo, não é fácil. O esforço da integração deve ser maior por parte de quem chega, ou dos que cá estão? Num mundo ideal não haveria esforço, mas sabemos que vivemos num mundo para lá de imperfeito. O tempo passa e a memória também. Muitos países (Portugal incluído) fazem um teste linguístico e tornam o processo de legalização, ao contrário do que se pensa, cada vez mais burocratizado. Podes vir, mas com cuidado, é esta a mensagem.

Descobriremos, em pouco tempo julgo, os limites da igualdade europeia pós-guerra. A fossa entre o que os homens idealizam e aquilo que realmente acontece, cresce funda dentro de nós, curiosamente, no mesmo local de onde a mesma devia desaparecer.

Sunday, November 29, 2009

Random sentences

A argumentação absolutista é um bom ponto de partida para uma conversa inerte.

Wednesday, November 25, 2009

Os jargões


O jargão, uma palavra por mim considerada, um valente palavrão, equiparável apenas, a esplendorosos termos como idiossincrasia, hermenêutica ou especificidade, tem uma natureza, no mínimo, preocupante. O jargão é, basicamente, a gíria utilizada por alguns grupos profissionais que caracteriza a sua forma de falar enquanto especialistas de um dado ramo: advocacia, economia, política etc..

Para que serve o jargão então? A justificação do lado de lá da barricada é que a precisão inerente a determinadas actividades profissionais não pode ter margem de erro considerável, sendo portanto necessária, a utilização de complexos termos, suficientemente diferenciadores e que dissipem qualquer confusão. Deste lado da barricada, defendo eu que o jargão serve, traços gerais, um grande propósito: aumentar margens de lucro de uma forma pornográfica.

A assimetria da informação está na base da desigualdade em termos negociais: quando não estamos completamente seguros daquilo que nos estão a dizer fazemos perguntas. É nesta fase que entra o jargão. Não compreendendo aquilo que o jargão nos quer dizer, resta-nos aceitar aquilo que ele prega. Esta codificação aparentemente harmoniosa serve curiosamente, praticamente em exclusividade, actividades que envolvem muito dinheiro e que são por costume, caras e indispensáveis: banca, justiça, política, economia. Apesar das desigualdades que provocam, as sociedades sem estes pilares, são lugares bem piores do que os que conhecemos hoje.

Tendo em conta que o Estado não nos consegue proteger da mesma forma que protege estas classes (porque depende das mesmas para sobreviver), devemos nós, esforçar-nos por conseguir descodificar estes enredos linguísticos. O caminho, para que a presença asfixiante do Estado, seja menor nas nossas vidas, depende também, daquilo que somos capazes de fazer.

Monday, November 23, 2009

Criação (In)Válida


Alguns autores e a sua respeitável turba de seguidores, defendem que as criações, ou a criatividade se assim lhe quiserem chamar, só existe, se conseguir chegar ao mercado. Um quadro, um livro, uma escultura e por aí fora, só são consideradas património criativo se forem validadas pela sociedade onde se inserem como tal.

Que verdade é esta? O que pensar do fenómeno criativo póstumo? Van Gogh, considerado hoje um génio, morreu com 37 anos, louco, sem dinheiro e com fome. Os seus quadros valem agora milhões de euros. É muito mais barato negociar com um criador morto do que com um vivo. E é aqui que se aglutina esta história da criatividade: em dinheiro. É perfeitamente possível, ser criativo, determinado e mesmo assim, não chegar muito longe. Fernando Pessoa publicou dois livros em vida, curiosamente, nenhum deles alvo da paranóia intelectual (justificada de resto) que hoje habita a nossa sociedade.

Uma criação, é uma criação. Pelo simples facto de não atingir as massas, ou os circuitos comerciais que as distribuem, não lhes retira significado de qualquer natureza. O homem e a sua criação, existem, para lá das sociedades, dos seus filtros e até do próprio tempo que as caracteriza. De outra forma, a disrupção fica limitada a extremos: da empolada simplicidade ao disparate desnecessário.

Friday, November 20, 2009

O Paradoxo Best-Seller


Os dizeres, como é o caso dos provérbios, têm um problema: a sua verdade superficial, não se deve aplicar dogmaticamente a tudo o que mexe. Basicamente, não se podem utilizar estas verdades culturais para tirar conclusões. "Depressa e bem não há quem" é um bom exemplo para ilustrar a superficialidade da coisa: algumas tarefas implicam calma e discernimento, outras nem tanto. De qualquer forma, o problema estrutural das tarefas e a consequente produtividade, reside na eficiência das mesmas. A questão não é a velocidade a que as coisas se fazem, mas antes, o que é preciso fazer para que as coisas corram, depressa, e bem. Do ponto de vista estrutural e de sociedade, os provérbios são uma fonte de atraso.

Por outro lado e por diversos motivos, habita a seguinte ideia dentro de nós: se muita gente tem, não deve ser grande coisa. O que eu acabo de escrever, tem naturalmente as suas limitações e não se podem tirar conclusões para tudo e mais alguma coisa, com base nesta afirmação. Mas podem-se inferir algumas coisas e em particular, no campo cultural. As modas, ou seja, os acontecimentos que mais vezes se verificam, são efémeros em parte por isto; se toda a gente tem, a dada altura, deixa de ser grande coisa. E vem outra moda.

A música não é diferente: é comum encontrar pessoas que adoram uma banda a dia 1 e a odeiam a dia 15. Muitas vezes tem a ver com o facto da tal banda ser agora conhecida, logo, deixou de ser grande coisa. E aplique-se a mesma ideia aos livros. Um Dan Brown, quando sai, é catalogado de imediato como mainstream. Se todos lêem, não deve ser grande coisa. Pergunte aos eruditos se já leram um Dan Brown. Respondem todos com um esgar arrepiante. Apesar de já o terem lido.

O próprio comum dos mortais, perante um fenómeno mainstream, quando consome algo desta natureza, tem que ter, para si próprio e para os outros, uma justificação para o fazer. Ninguém gosta de se associar a algo que - por preconceito - não é grande coisa.

Não temos que catalogar o que vemos, lemos ou ouvimos de acordo com a massificação do próprio fenómeno. A distribuição mais ou menos disforme de um conceito não deve servir nenhum propósito conclusivo. Lá porque queremos ser elitistas não temos que trucidar o que muitos gostam. Contudo, não quero ser absolutista na minha opinião, muita coisa das massas é má. Mas muita coisa 'elitista' na busca da disrupção e do diferencialismo produz também coisinhas muito más. Outro factor a ter em conta, é o tempo. Muitos fenómenos que foram mainstream no seu tempo, são hoje admirados pelos elitistas (anti-mainstream), o que não deixa de ser interessante.

Concluo então, e em parte, que um elitista cultural é um mainstreamer fora de prazo.

Thursday, November 19, 2009

Cartas de Agradecimento - O Divórcio


A instituição divórcio, escreve uma carta ao estado português, agradecendo a constante evolução da sua quota de mercado.

"Digníssimos Senhores,

Durante o período a que suas excelências apelidam de "tempo da outra senhora" eu praticamente não existia no vosso país. Fiz muita pressão junto dos órgãos de comunicação social, tentando associar a minha existência, a uma sociedade aberta, moderna e desenvolvida, onde a liberdade de cada um era agora mais abrangente. O amor, queria eu que vocês entendessem, não era para toda a vida. E não sendo para toda a vida, o divórcio era inevitável. Mas no "tempo da outra senhora" ninguém acreditou em mim. A família, era o núcleo da sociedade. E assim, assisti, impávido e pouco sereno devo dizer, à construção de eternas histórias de amor. Ou pseudo-amor? Bom, vamos acreditar por agora, que seriam histórias de amor. E a paranóia pelo casamento foi de tal ordem, que enviavam vocês rapaziada para a guerra e as meninas casavam-se por procuração. E onde é que já se viu isto, um casamento sem noite de núpcias? Onde é que andava toda a gente com a cabeça?

Aquando da queda "da outra senhora" veio a liberdade e eu claro, não me fiz rogado e entrei país adentro. Onde chega a Coca-Cola, chega o divórcio. Eu, gostem ou não, faço parte da evolução social. Um homem ou uma mulher toma uma decisão, arrepende-se e tem como dar a volta a coisa. À custa, por vezes, de muito dinheiro é certo, mas ainda assim, tem como dar a volta. Não compreendo, de todo, a revolta de algumas instituições, religiosas por exemplo, contra a minha condição. Clamam o livre arbítrio para a humanidade, mas reduzem-nos a um amor que se revela a longo prazo moribundo e arcaico. O amor humano? Não me façam rir.

Compreendo por outro lado, que existe uma motivação económica agregada ao casamento. Faz parte da sua génese e contra isso, nada de nada. Agora, porque é que uma pessoa tem que morrer agarrada a outra só porque no início da vida teve que.. tratar da vida? E os que se casam com a paixão a sair-lhes pelas orelhas? Que não percebem que a paixão é o mais insidioso dos sentimentos? E que gostem ou não, passa. Não como vento, mas passa. E a teoria que depois da paixão vem o amor, não é uma teoria. Para o ser, precisaria de ser demonstrada, e quem, no seu perfeito juízo, consideraria o amor a médio prazo, uma verdade demonstrada?

Aproveito hoje, o dia do meu aniversário, para agradecer o vosso empenho tremendo em aumentar a minha taxa de ocorrência. Em Portugal, ao que parece, metade das pessoas que se casam, divorciam-se. Uns redondos 50%. Sei também que à volta de 70% desta taxa se deve a problemas financeiros, coisa que no vosso país, é o status quo. Este factor aliado à ideia de que o casamento é uma das vias para a felicidade, garante-me um futuro risonho. Deixo-vos um conselho e contra mim falo: não hipotequem a felicidade dos vossos cidadãos em nome da natalidade. A vossa libertação não deve depender de um papel.

Tuesday, November 17, 2009

A traficância do trato


Que a justiça em Portugal é lenta, cara e semi-inoperante não é novidade. Que contribui para o nosso atraso económico e em certa medida, para algum atraso civilizacional é também verdade. Por grande que seja a capacidade e propensão de um povo para a evolução, se vir constantemente as suas iniciativas frustradas por mecanismos (como é o da justiça) que o impedem de alcançar os seus objectivos, pouco pode fazer nesta matéria. Se eu estiver doente, posso tratar-me noutro país. Posso estudar noutro país se quiser. Mas se tiver um problema legal em Portugal, não o posso resolver na Suécia (mesmo que tenha as contas com muitos zeros).

Vem ao caso a situação do processo Face Oculta; na rede tentacular em que os vários arguidos do processo se moviam, imperavam os conhecimentos, os favores à família e aos amigos e a conivência de poderosos intervenientes. A desacreditação do comum cidadão na justiça é visível, não pelo comentário habitual relacionado com a impunidade dos poderosos a braços com a lei, mas pela percepção que formam acerca da relação que os outros países têm com a corrupção. Começa a grassar a ideia - errada - que o fenómeno da corrupção é idêntico em todos os países. Forma-se a ideia de que nas mesmas circunstâncias, o mesmo aconteceria noutros locais. Que o problema reside no comportamento dos criminosos e não no sistema que os regula. Não é verdade e mais, pode-se facilmente estabelecer a relação entre baixos níveis de corrupção e altos níveis de qualidade de vida e desenvolvimento (norte da Europa, América do Norte, Austrália etc..). Haverá certamente corrupção nesses países, contudo, não existe um sistema penal permissivo como é o nosso. Em Portugal, a expressão "pena leve" é levada à letra aquando da formulação das leis.

Sabendo que os políticos farão apenas o esforço, fruto da pressão exercida pela sociedade (que não é muita) para alterar o estado actual da coisa, cabe à própria Justiça encarregar-se (tendo legitimidade para o fazer) de ocupar a posição que merece junto da opinião pública e que é de resto, fulcral para o desenvolvimento do País e dos seus cidadãos.

Fica a pergunta. Quem é que fiscaliza a Justiça?

Monday, November 16, 2009

Random Sentences

E se a tua vida não der um livro?

Sunday, November 15, 2009

Sistemas


Os sistemas ditos sociais, sejam eles de que natureza forem, são criados, mantidos, alterados e destruídos pelo homem. Para que num sistema democrático - como é o nosso - as coisas funcionem de acordo com os salutares princípios da pseudo-igualdade (sim pseudo, o conceito perverso de igualdade absoluta não passa de uma utopia idêntica em termos filosóficos às ideias de Marx e Engels), é importante que as regras que desenham as formas de actuação e consequentemente os comportamentos em geral, estejam imbuídas de um espírito igualitário. Há uma tendência para deslocar a conversa da igualdade para os direitos sociais, mas repare-se na importância que não é dada a esse princípio nas matérias económicas e nas delapidantes consequências da não aplicação do mesmo.

Um exemplo recente. O Tribunal de Contas chumbou a adjudicação de duas novas auto-estradas porque ao preço inicialmente proposto pelas empresas vencedoras do concurso acrescem agora mais de 300 milhões de euros. O sistema protege o contribuinte de uma situação em que aparentemente o estado português sairia lesado (através do Tribunal de Contas). Por outro lado, é possível, dentro do mesmo sistema, e com base no princípio da igualdade, às Estradas de Portugal recorrer da decisão do Tribunal de Contas alegando as razões que julga serem pertinentes para se adjudicar os trabalhos independentemente do novo preço. O sistema, incompreensivelmente, permite que as obras se iniciem antes da decisão dos tribunais. Ou seja, as construtoras fazem as auto-estradas e se no final o nosso moroso sistema judicial decidir a favor da não adjudicação dos trabalhos, as auto-estradas já estão feitas e as construtoras são indemnizadas, recebendo mais do que o novo preço proposto! Igualdade?

Apesar das matérias desta natureza, conferirem algum grau de complexidade na sua interpretação, é fundamental, começarmos a prestar mais atenção aos discursos políticos que vão de encontro à escalpelização destes temas.

Friday, November 13, 2009

Carta de Reclamação - O Desgosto


Depois da namorada pôr fim a 8 anos de namoro, um jovem de 23 anos decide suicidar-se, deixando claro está, a tradicional carta de suicídio.

"Olá Rita,

O que sinto hoje é tão avassalador como o dia em que te conheci. Mais avassalador que o primeiro beijo que te dei ou do que te disse ao ouvido naquele dia no metro. A intensidade desta dor supera tudo o que senti e que vivi contigo. Consigo fazer esta comparação porque é tudo tão vivo em mim. Depois do que me disseste há uma semana lembro-me de tudo como se fosse hoje. Inundou-me de sensações e sinto-me perdido num turbilhão estranho de mágoa, revolta e saudade. É insuportável.

Tento distrair-me durante o dia, faço tudo para que a minha mente viaje para outro sítio qualquer. É um esforço hercúleo. E patético. Não paro de pensar em ti. Até um simples cheiro de perfume me deixa paranóico. Mandei fora as cartas todas que me escreveste. Tive a falar com o meu primo sobre isto, ele diz-me que preciso de ser mais racional e que não devo ficar chateado contigo. As pessoas deixam de gostar o suficiente umas das outras. A vida é mesmo assim. Mas este dia-a-dia imensamente triste não é a vida. Sou eu sem ti. Para sempre. É este o meu drama. Pensar que não te vou ter mais nenhuma vez. E ter essa certeza em mim. Ouço em repeat a Someone Great dos LCD.. adormeço com lágrimas nos olhos e com o sonho em ti. Que não passa disso. De um sonho.

Falam sempre em tornar os sonhos em realidade. Tu conseguiste transformar a minha realidade num sonho. Literalmente. Não digo isto para te sentires mal, mas é estranho para mim constatar que muitas palavras têm agora outro significado. Hoje sou eu e as minhas circunstâncias. Hoje, mais tremendas que nunca. E o problema maior é que ninguém fala a minha língua. A de hoje, pelo menos. Se eu sinto isto tudo ao mesmo tempo, como é que posso ter calma? Ou esperar que o tempo cure o que quer que seja? O que eu queria, eras tu. Mas já sei que não te posso ter. Nunca mais.

Disse muitas vezes, a muitos amigos, que me pediam conselhos sobre como terminar relacionamentos, que nós é que somos importantes e que o que interessa é sentir que estamos bem. Hoje sou eu a conhecer o egoísmo - necessário compreendo - dessa retórica. Aquilo que eu decidi fazer hoje, não é um acto de coragem, pelo contrário, coragem era eu ficar aqui a lidar com o meu sonho. Isto é egoísmo, puro, não muito diferente dos conselhos que dei aos meus amigos. O importante hoje, é isto passar, ir embora. É eu ficar bem. E ironicamente, mesmo sem estarmos juntos, depois de eu fazer isto, sou eu que ponho um fim na nossa história. Perdoa-me o protagonismo, mas como dizem, é o que se leva desta vida.

Despeço-me de ti com um beijo, intenso como sempre, mas hoje, e também para sempre, com outro sabor. Deixo cá o meu sonho e parto sozinho, para outra realidade."

Thursday, November 12, 2009

O Cerco


Iniciado outro ciclo legislativo, a incongruência entre as estratégias apresentadas para dar um novo rumo ao País e aquilo que na prática vai acontecer, começa já, cedo, a dar sinais de si.

De acordo com o governo eleito, parar com o investimento público (auto-estradas e demências de natureza similar) significa parar de incentivar a economia e contribuir para o descalabro total. É possível escalpelizar de forma fácil a questão das estradas, mas deixemos esse exercício para outro dia (só como nota de rodapé, para uma auto-estrada ser rentável, deve a mesma registar, um tráfego diário de 15.000 veículos, não sendo portanto difícil, pensar em meia dúzia delas que nem 1/4 deste valor atingem).

Não se pare então com o investimento público. Muito bem. Contudo, não parar com o investimento público, implica gastar mais dinheiro. Existem duas hipóteses de alimentar a besta: financiar a coisa com impostos (impossível, na medida em que a carga fiscal, quer das empresas, quer das famílias, já está no limite) ou fazer investimentos com retorno (no caso das estradas, os tais 15.000 veículos/dia que não se sabe bem de onde é que vêm, cada vez que se inaugura uma brincadeira destas).

Quando se gasta dinheiro da conta e não se arranja maneira de colocar lá dinheiro novamente o que é que acontece? Voilá.

Sem nenhuma saída, porque fazemos parte do Euro e as contas serão saldadas queira-se ou não, resta-nos cortar na despesa e manter o mesmo nível de impostos. Traduzindo, dar o mesmo e usufruir cada vez menos.
Sempre que reclamarmos mais Estado, devemos ter em mente onde é que o mesmo vai arranjar dinheiro para nos continuar a dar brinquedos (um bom exemplo são os estádios construídos no âmbito do Euro 2004, alguns deles votados hoje ao abandono, com retorno zero e sem nenhuma perspectiva válida que remende o imbróglio causado).

Random Sentences

Só tem problemas, quem tem alternativas.

Tuesday, November 10, 2009

A Parábola do Cinto


Existem várias razões para o nosso subdesenvolvimento. Uma delas, reside na nossa luta, inigualável penso, em aceitar que vivemos num mundo de probabilidades.

Muitos comportamentos podem ser determinados pelas probabilidades; podemos escolher algo ou aceitar o cumprimento de uma dada lei, com base na crença que temos das probabilidades. Sabemos que o uso de cinto de segurança nos automóveis, não garante - mesmo cumprindo todas as regras do código da estrada - que em caso de acidente, os ocupantes saiam ilesos do dito cujo. Mas dizem os números, que morrem mais pessoas sem cinto de segurança do que com cinto. Logicamente, não nos passa pela cabeça (por algumas passa, mas são felizmente, cada vez menos), deixar viajar crianças num carro sem o cinto devidamente colocado. Mesmo sabendo que o cinto não garante a vida eterna. Simples. Aceitamos o facto e não colocamos a vida dos pequenos, em risco desnecessário.

Quando introduzimos as probabilidades nos estilos de vida a coisa começa a emperrar. O consumo exagerado de álcool ou tabaco aumenta as probabilidades de contrairmos doenças graves. Se não incorrermos em comportamentos de risco reduzimos essa possibilidade. O que não impede que morram pessoas em idade jovem e que nunca tenham fumado ou bebido. Quem nunca ouviu a história do velho que morreu aos 98 anos e que fumava dois maços por dia? Passem no IPO e ouçam as histórias dos que fumavam 2 maços por dia. É óbvio, que o número de pessoas afectadas pelo tabaco, é muito maior do que os que fumaram a vida toda sem nada lhes ter acontecido. É interessante ouvir o argumento do velhinho vezes sem conta. Quando este argumento desaparecer demos um passo importante em termos de mentalidade. (PS: não me incomoda as escolhas que cada um faz, eu próprio não sou nenhum santo; não precisamos é de defender os nossos excessos para lá da racionalidade)

Outra barreira psicológica engraçada e relacionada com as probabilidades é o grau de habilitações. Dizem os números que quanto maior o grau de habilitações, menor o tempo no desemprego e maior o rendimento. Quando tenho esta conversa com alguém sou bombardeado com o primo que ganha 600 euros no call center, o filho que tirou Direito e é vendedor ou o amigo que tirou Arqueologia e está desempregado. É a realidade, muitas pessoas com cursos superiores, não trabalham na sua área de formação. É também verdade, que muitas universidades primam pelo facilitismo e que muitas pessoas que tiram um curso superior não adicionaram nada por aí além ao seu intelecto. Uma coisa é o que escrevemos num currículo, outra é o que de facto, evoluímos. A realidade, dura, é que muita gente, tirou o curso por tirar. Não estou a tentar desculpar a incapacidade do nosso mercado de absorver profissionais, mas este é um factor a ter em conta: se as pessoas não sabem dizer pão com queijo, não é por terem um curso que vão arranjar trabalho. De qualquer forma, e voltando ao argumento inicial, mesmo a mais insípida das aves raras, com curso superior (a não ser que seja Mergulho), mais cedo ou mais tarde, consegue emprego (outro motivo para não se arranjar emprego é o facto da capacidade de mobilidade das pessoas ser diminuta, traduzindo, ninguém quer sair do poiso onde nasceu).
Muitas pessoas que têm uma vida confortável não tiraram curso nenhum. Muitos têm a 4ª classe. São pessoas que têm o seu valor e que conseguiram lutar para ter o que queriam da vida. Pergunte-se agora quantos anos demoraram estas pessoas a chegar aonde chegaram? E a que preço? E quantos como eles ficaram pelo caminho? E que alternativas têm se algo correr mal?
Esta é a grande diferença; um arquitecto recém licenciado a trabalhar no Mcdonalds tem a perspectiva de sair dali. Um jovem que desistiu de estudar no 9º ano no mesmo Mcdonalds que perspectivas tem?
Tanto um como outro podem chegar longe na vida, o que tem o 9º ano pode até superar o arquitecto, mas em teoria, quem tem mais hipóteses? A teoria, goste-se ou não, quando provada, ainda que em estimativa, supera sempre a subjectividade da opinião.

Em 2009, discute-se por cafés em Portugal, se vale a pena tirar um curso ou se o tabaco faz mal à saúde. É interessante verificar que as mesmas pessoas a defender afincadamente estas posições são os que querem ver os filhos com um curso superior e nem sonham vê-los a fumar. Quando é que vamos começar a olhar para cá para fora, da mesmo forma que um cinto de segurança?

Random Sentences

Com que olhos pensa o mundo?

Monday, November 9, 2009

Cartas de Reclamação - A Sonolência


Um tipo que acorda mal disposto de manhã (todos os dias), escreve ao Instituto de Comportamentos em Sociedade (acho que isto não existe, mas não era de admirar que existisse) reclamando sobre os habituais procedimentos matinais em sociedade.

"Exmos. Srs.,

Permitam-me desde já sublinhar a importância da vossa instituição na nossa sociedade e agradecer pessoalmente o grande contributo que têm dado, no sentido de educar as massas e fazê-las perceber, que cumprindo pequenas regras, conseguiremos viver de uma forma mais harmoniosa e de certa maneira, de uma forma também mais relaxada. Desde a fundação da vossa instituição que noto uma significativa melhoria no comportamento dos portugueses em geral.

Contudo, há um ligeiro detalhe nas vossas orientações, que eu penso que deveria ser coberto, mas que - julgo que não seja propositado - não consta da vossa preciosa documentação. Falo do direito social que cada um tem em estar mal disposto de manhã.

Vou utilizar-me a mim próprio como exemplo; acordo todo o santo dia com uma má disposição digna de um abutre. Não exteriorizo essa má disposição de uma forma activa; se ninguém se meter comigo, eu também não me meto com ninguém. Agora, o simples facto de alguém me dizer "Bom Dia" com aquele tom de vendedor motivado, deixa-me de rastos. Até chegar ao trabalho, vivo num suplício: nos dias que preciso de abastecer o meu carro com gasolina, o simpático empregado da bomba fuzila-me no pagamento; ouço um bom dia, pergunta-me se tenho cartão de pontos, pergunta-me se é tudo e agradece no fim. E continuo eu o meu caminho, sempre um pouquinho mais mal disposto. Só quero seguir o meu caminho sem me chatearem! Mais uma provação: a portagem. Não dizer bom dia na portagem fica mal. Digo o bendito bom dia e sigo viagem. No emprego então, espera-me um pelotão ditatorial: vários bons dias, de torneadas cores e tamanhos, invadem a minha deplorável matinalidade. Fico assim, até ao meio da manhã, nesta luta indelével, refém do meu estado crónico.

Solicitava assim, por este meio, não em desespero (mas lá perto), a inclusão de literatura que aligeire o tratamento dado pelos bens dispostos aos mal dispostos no período matinal. Tendo em conta que os bens dispostos não têm culpa da nossa má disposição, e podem até não se aperceber da mesma, sugiro a utilização de um código ou um símbolo que nos identifique, e que impeça o bombardeamento de simpatia a que somos sujeitos diariamente. É a mesma ideia do "Do Not Disturb" dos hotéis mas para pessoas.

Esta é a única solução que me resta, não tentem sugerir-me yoga ou pacificações do género, já tentei tudo, continuo a acordar mal disposto.

Melhores Cumprimentos"

Saturday, November 7, 2009

Clueless


No programa Ídolos, centenas (arrisco a dizer milhares) de pessoas tentam a sua sorte no programa, não tendo - nem de perto - capacidade para cantar o que quer que seja. O motivo que leva estas pessoas a concorrer a um programa deste género é o mesmo que leva outras pessoas a escolher o curso ou o trabalho errado, e que na pior - e infelizmente - das hipóteses leva à desmotivação e às suas consequências práticas: desemprego, falta de ambição e por aí fora. Este caldinho, num país exageradamente pessimista, é o cozinhado perfeito para anos de estagnação.

Lembro-me de Miguel Sousa Tavares ter escrito que em novo mostrou um texto seu à sua mãe e ela disse-lhe, frontal e abertamente, para ele esquecer aquele registo. Assim o fez e hoje em dia, conhecemos todos a capacidade de escrita da pessoa em questão e o seu sucesso na área. O próprio reconheceu que apesar da frustração do momento, foi o melhor favor que a mãe lhe podia ter feito.

Ser directo e frontal - sem perder a pose e a educação - não é nenhuma afronta, pelo contrário, provavelmente estamos a fazer um favor a alguém, ou se por outro lado ocuparmos a posição contrária, estará alguém a fazer-nos um favor. Não temos que ter jeito para tudo, nem temos que ter jeito para aquilo que achamos que são os nossos sonhos (é porreiro ser pop star, mas não é para todos). Conhecer as nossas limitações e encontrar caminhos alternativos não é um caminho fácil, mas é provavelmente, o único caminho.

Mais um mimo autarquico nacional - O caso do MIJA

Há dias um amigo meu contou-me que um ex-professor dele foi parte integrante de uma lista de cidadãos independentes que no anos 80 venceu as eleições para a Junta de Freguesia de São Pedro do Sul. Até aqui tudo bem não fosse esse movimento designar-se por Movimento Independente de Jovens Autarcas, isto é, o MIJA.
De início nem sequer acreditei no que me acabavam de contar mas ao fim de algumas pesquisas verifiquei a veracidade da história. Bom entre propostas absurdas como a construção de um estádio de futebol com capacidade para 90 mil pessoas e um slogan de campanha que era "MIJA para a frente que para trás mija a burra", a verdade é que venceram as eleições em democracia...............dá que pensar......................

Thursday, November 5, 2009

Gay Marriage


José Sócrates chamou a si a legitimidade sobre esta matéria; é uma posição assumida por ele próprio e pelo PS há algum tempo, e de facto, não se justifica o referendo popular. Se era esta a opinião do governo antes de ser eleito e os cidadãos escolherem-no de novo, tem a Assembleia da República toda a competência para se debruçar sobre o assunto. A direita, naturalmente mais conservadora, através de Ribeiro e Castro (lembram-se dele?) sugeriu a realização de um referendo. Se a direita é contra, façam como Ferreira Leite, e digam assumidamente que são contra. Não utilizem subterfúgios (como é o caso do suposto referendo) para assumir posições, é o meu humilde conselho.

Quanto à lei propriamente dita: é facilmente compreensível que as pessoas que gostam de pessoas do mesmo sexo, devem ter os mesmo direitos que os que gostam de pessoas de um sexo diferente. É uma liberdade que não interfere com a liberdade das outras pessoas. Como tal, devem usufruir dos mesmos benefícios que todos os outros: redução de impostos, direitos de sucessão e herança ou o casamento civil, entre outras benesses. O argumento da natalidade é arcaico: ninguém vai deixar de ser gay só porque ter filhos reduz a carga fiscal (nem os hetero os têm em número suficiente portanto..).

A questão mais complexa para mim, prende-se com a possibilidade de adopção (que duvido que seja incluída neste pacote legislativo). Os próprios psicólogos dividem-se nesta matéria. Em vez de pai e mãe, pode passar a existir pai e pai ou mãe e mãe. O problema contudo, vai para lá da criança ser confrontada com esta situação na escola ou digamos, pela sociedade (há uma multiplicidade de motivos para as crianças serem alvo de chacota).

É preferível deixar uma criança crescer num orfanato ou entregá-la a um casal gay?

O fundo da questão deve partir sempre da problemática da criança e não dos direitos dos adultos. Nesta questão específica (a adopção), os direitos da criança, devem sobrepor-se aos eventuais direitos decorrentes das opções sexuais dos adultos, ou seja, a conquista de direitos deve ser feita, tendo sempre em conta, a possível interferência e conflito com direitos já existentes, e que devem claro está, ser profundamente analisados.

Espero que a discussão pública sobre a adopção, não redunde num, "eles têm, nós também queremos". Vai muito para além disso. Adoptar crianças não é o mesmo que preencher o modelo 3 do IRS.

Wednesday, November 4, 2009

Realismo


O realismo surgiu no séc. XIX como uma corrente filosófica, que defendia o facto empiricamente averiguado, as ciências exactas e o consequente progresso técnico. Criticava também o romantismo, dono de idealizações exageradas e insidiosas excentricidades, que de certa forma - e apesar de belas - ofuscavam o verdadeiro sentido e natureza das coisas. No campo intelectual, a corrente deu lugar a descrições pormenorizadas e exactas da sociedade e do homem. A crítica em vez de ser subliminar, passou a ser objectiva e sem rodeios.

A minha introdução serve para ilustrar o discurso do governo português e o discurso da Comissão Europeia (CE) - perspectiva romântica e realista respectivamente.
Vejamos.

A CE prevê um défice de 8% para 2009 e de 8,7% para 2011.
A dívida pública bate também um simpático recorde, atingindo 77,4% em 2009, prevendo-se ainda 91,1% (!!!) em 2011.
A despesa do Estado atinge finalmente a barreira psicológica dos 50% do PIB.

O desfecho deste discurso romântico pode resultar num desgosto complicado de digerir. Sempre que virem um primeiro-ministro vigoroso a defender o TGV na televisão, lembrem-se dos números da CE. Curiosamente, as pessoas com quem falo e que defendem obsessivamente o investimento público como motor para a economia, são os que menos beneficiam destas políticas e de resto, os directamente afectados pela subida galopante de impostos dos últimos anos.

Uma nota relativamente aos impostos: não se pense, que só porque se recebe reembolso do IRS ou porque temos um ou outro benefício resultante de um escalão de rendimentos inferior, que somos uma espécie de privilegiados relativamente ao resto da nação. Todo o santo dia, o estado cobra-nos receita (independentemente da nossa condição económica) que vai depois utilizar (ou melhor, inutilizar) nas suas aventuras. Desde o simples pão, passando pelo automóvel, um copo de vinho, cigarros ou até um livro, contribuímos todo o santo dia para a aventura romântica destes senhores (todos os dias consumimos alguma coisa). Sei que para alguns o último parágrafo parece demasiado óbvio, mas a abstracção mental relativamente a esta matéria em que muitos vivem, justifica a declaração de interesses do escriba.

Repara-se no ciclo perverso em que estamos presos: o Estado investe com pouco retorno. Precisa de cobrar mais impostos para gerar mais receita. Ficamos com menos dinheiro disponível. Consumimos menos. A economia ressente-se. Gera menos receita. O estado tem que aumentar de novo os impostos. Ficamos de novo com menos dinheiro. O ciclo tem um fim, nada interessante, como devem calcular.

O grande favor que o estado nos podia fazer, não é a torrente interminável de paliativos disponibilizados para quando as coisas nos correm mal. O que nós precisamos, de uma vez por todas, é que as coisas nos corram bem, ou seja, que não se precise do estado para nada! Mas nesse dia, quantos interesses instalados morriam?

Recomendo ao prezado 1º Ministro (pessoa conhecedora de muitas frases feitas e diversas citações) a leitura de Madame Bovary de Gustave Flaubert (se já leu, leia de novo).

Tuesday, November 3, 2009

Livro de Reclamações - A Gripe


A gripe comum - influenza - escreve uma carta à sua congénere gripe A, reclamando uma série de pontos não cumpridos pela última, relativamente a um acordo firmado entre as duas em 2008. Assim reza:

"Exma. Senhora,

É com grande admiração e consternação que verifico que Sua Excelência, não teve a dignidade e transparência, de respeitar na sua suposta honra e galantaria, o acordo por nós firmado no ido ano de 2008. Recordo-lhe que o acordo foi assinado por ambas, e que do seu não cumprimento resultariam consequências legais e de resto aplicáveis a todos os países onde a nossa actuação fosse constatada. Podemos começar exactamente por aí.

Como sabe, eu detenho o monopólio de uma das doenças mais célebres que atinge a Humanidade. Com o tempo, tenho vindo a firmar acordos com os humanos, no sentido de reduzir as taxas de mortalidade a mim associadas. Disponibilizo atempadamente a minha estirpe, para que a vacinação seja feita a tempo e horas e verdade seja dita, eles ganham uns trocos valentes com esta brincadeira e eu também. Ora, no nosso acordo, combinou-se que a sua actuação ficaria restrita a dois continentes. Você não fez a coisa por menos e decidiu instalar-se em todos os continentes, violando assim uma parte importantíssima do acordo. Agora tenho governos do mundo inteiro à perna porque estão a gastar rios de dinheiro com esta brincadeira. Argumentam que se soubessem disto não tinham comprado tantos lotes da minha estirpe. Para o ano, se surgir outra gripe qualquer, qual é a minha credibilidade?

Combinou-se também, que todo e qualquer vírus de gripe tinha que ter um nome científico interessante e coloquial, que soe bem ao ouvido. H1N1? Mas que raio de nome é este? Seria um bom nome para uma personagem da guerra das estrelas ou um modelo novo de micro-ondas. Não compreendo a sua insistência quase esquizofrénica em ser tratada desta forma.

Por último, e não menos importante, recordo-lhe que não se atreva a matar mais gente que eu. Nem pensar! Veja bem a gripe espanhola de 1918. Nunca mais a vê nem pintada. Falei com um vírus que conhece umas pessoas e limpei-lhe o sarampo, como se costuma dizer.

Sugiro-lhe que faça como a sua colega das aves, que cumpriu todas as partes do acordo e vive agora sossegada numa ilha do Pacífico.

Melhores Cumprimentos,
Influenza, PhD

Monday, November 2, 2009

PS.. D?


O PSD atravessa mais uma das suas fases endémicas, em que sucessivos pseudo-líderes tentam chegar ao poiso. Alguns reclamam um corte geracional, deixando Marcelo de lado. Outros, reclamam alguém com capacidade de unificação e com altos níveis de popularidade (e sim, Marcelo leva grande vantagem nesta matéria).

Independentemente destas guerras - que nos últimos anos têm prejudicado mais a imagem do partido do que feito algo positivo por ele - a verdade é que nos últimos anos, o PS tem ganho eleições. Compare-se os indicadores económicos do ano 2000, repare-se que faltam 2 meses para chegar a 2010 e ninguém me apelidará de maluco se, eu adjectivar esta década, como uma década perdida. Não somos o primeiro país a atravessar uma década assim e a ter outra fulgurante a seguir. Contudo, é impossível mudar, se continuarmos a utilizar a fórmula demente e cadavérica dos últimos anos.

E é aqui que reside a grande falha do PSD: a incapacidade ao longo de todo este tempo, de explicar às massas, que toda a panóplia de serviços e benesses disponibilizadas pelo Estado, só têm contribuído para um aumento incapacitante da carga fiscal sobre as pessoas e as empresas, que servem exclusivamente meia dúzia de interesses e que depauperam a economia a um ritmo pujante. O PSD devia, de uma vez por todas, assumir-se claramente como um partido de direita, e deixar definitivamente o território das 'ofertas' para os partidos de esquerda.
Tem simplesmente, que centrar o seu discurso naquilo que é a alternativa ao socialismo desenfreado, cheio de auto-estradas, pontes e viadutos, e claro está, cheio de bancos para financiar esta irresponsabilidade. Se continuar a dizer que as benesses se mantêm em vigor, não existe nenhum factor de diferenciação.

Só mesmo o D no fim.

Sunday, November 1, 2009

Visível ou invisível?


O trabalho das pessoas ligadas ao marketing e à publicidade, é entre várias coisas, dar vida às marcas. As marcas funcionam como uma referência para os consumidores. Sabemos que um determinado nome ou símbolo representa qualidade, transmite-nos confiança e sabemos que podemos efectuar uma determinada compra com a certeza que a experiência será satisfatória (a definição é mais abrangente pode ser consultada aqui, por exemplo).

Agora experimentem dizer a um publicitário que uma marca é intangível, ou seja, e em termos brutos, algo em que não se pode tocar. Bom, mas é possível tocar num iogurte Danone, numas calças Diesel ou num automóvel BMW. Mas, estes produtos em que estamos a tocar ou até a consumir, são marcas, ou são produtos? Um carro é um carro. Ou é um BMW?

O meu argumento, é que as marcas servem exactamente como elemento referenciador e diferenciador, mas têm uma natureza não física. Têm sim, uma exteriorização física, ilustrada pelos produtos ou serviços associados a essa marca. Se arrancarmos os símbolos incrustados num BMW o carro continua a andar. O mesmo para umas calças de ganga ou um iogurte (vestidas e comido respectivamente, neste caso). Aquilo que existe, é uma atribuição de um significado a uma marca, que nos move depois, a comprar umas coisas. O que uma marca é na verdade, é um significado na nossa cabeça, a que depois - e num plano distinto - se associam produtos ou serviços.

A marca é intangível. Existe, mas nunca no sentido físico-literal do termo.

Friday, October 30, 2009

Noite


Sempre que falo com dinossauros da noite, dizem-me sempre que a noite está diferente. Que já não é a mesma coisa, é só miúdos, bebedeiras excessivas, já não há aquela magia. Os tempos mudam, as pessoas também e as novas gerações da noite pensam e agem de outra forma. A tal magia que os dinossauros falam, provavelmente, já não volta.

As discotecas são um caso estranho de análise; existe uma multiplicidade de espaços de divertimento nocturno, contudo, existe algo comum, em todos eles: desconfiança. Se abordar, com a mesma frase, a mesma pessoa, numa discoteca e no meio da rua às 4 da tarde, receberá, com toda a certeza, respostas completamente diferentes. Deve-se apenas ao factor engate? Não. Apesar do factor engate contribuir em larga escala para esta diferença de comportamentos, por si só, não justifica a estranha paranóia que inunda as discotecas.

Quando forem a uma discoteca (ou clube se quiserem), reparem na forma como a maior parte das pessoas olham umas para as outras. É como se estivessem à espera do próximo movimento furtivo. É por vezes engraçado, interpelar alguém para saber as horas ou pedir um cigarro e ver uma reacção idêntica à de alguém que está a ser assaltado num multibanco.

Os empregados, com raras excepções, apresentam regra geral, uma antipatia de todo o tamanho. As discotecas devem ser dos poucos negócios onde ainda é possível o pessoal de contacto (barmans etc..) ser altamente antipático e os clientes continuarem a frequentar o espaço.

Por último, como se vive um clima de desconfiança esquizofrénico, quando aparece alguém bem disposto de sorriso na cara, é visto como uma espécie de zombie. A conclusão imediata é que o indivíduo em questão é portador de uma valente moca. Pode estar só bem disposto, afinal de contas, saiu com esse propósito. Antes de sair à noite, qual é o seu propósito?

Thursday, October 29, 2009

Jogo de Cintura


Sou da opinião que os comportamentos desviantes aumentam na proporção da permissividade das leis vigentes. Um cidadão, comete os actos que lhe são permitidos. Mais, comete mais facilmente actos em que à partida sabe, que as consequências negativas do mesmo, poderão ser torneadas.

A corrupção em Portugal goza de um estatuto especial; engavetar um maduro por corrupção é obra. Mesmo quando as provas assim o indicam. A defesa de Isaltino Morais solicitou o parecer de dois penalistas (professores catedráticos por sinal) que tentam agora destruir o caso na secretaria. Fala-se em prescrição de crime (uma figura jurídica ridícula, um crime de corrupção é um crime de corrupção, hoje ou daqui a 50 anos) e na forma alegadamente ilegal de obtenção de provas na Suiça.

Mesmo que se consigam provar estas duas situações, eticamente, um comportamento criminoso, vai para lá das barreiras jurídicas. Falei aqui, antes das eleições autárquicas, que nós temos o poder de fazer alguma coisa. Falhando amanhã a Justiça e permanecendo Isaltino livre de fazer o que entender, nós já falhámos enquanto cidadãos quando elegemos este senhor.

Neste caso, e se Isaltino for ilibado, não foi só a Justiça que falhou.

Wednesday, October 28, 2009

Fulgurante


Foi a entrada da nova Ministra da Segurança Social, Helena André, ex-sindicalista e desprovida ao momento das declarações, de assessor de imprensa e relações públicas, lançou para meditação a seguinte pérola: "A ideia de que há muita burocracia na função pública não se confirma".
É verdade que o nível de burocracia nos últimos anos tem vindo a ser desagravado por muitas medidas governamentais, mas sabemos, que existe um caminho que deve continuar a ser percorrido. Vamos dar o benefício da dúvida à nova ministra e esperar que ela compreenda que, declarações em política, por mais inocentes que sejam os seus propósitos, estão sujeitas à devida extrapolação (pode a ministra aconselhar-se junto do ex-ministro Pinho sobre esta matéria).

Ainda sobre comunicação.

Devia ser incluído nos programas escolares (tão cedo quanto possível) aulas dedicadas à eficácia da comunicação. Não falo de gramática, construção frásica ou correcta utilização de figuras de estilo. Julgo ser importante formar as pessoas no sentido de conseguirem explicar o que quer que seja com um grau mínimo de desenvoltura. Quem trabalha directamente com clientes todos os dias sabe do que falo; muitas pessoas para descreverem um problema ou solicitar/cancelar um novo serviço fazem um esforço hercúleo para levar até ao fim uma tarefa, que supostamente, devia ser simples.

Ao contrário do que se diz, não acho que nas relações humanas exista falta de comunicação. Existe sim, excesso de comunicação, normalmente, por falta de capacidade de sintetização. E depois, há pessoas que gostam de falar mais que os outros, qual é o problema? Nenhum, se estiver num café sábado à tarde a beber um Trinaranjus. Mas tendo em conta o problema estrutural de baixa produtividade que temos, o entupimento crónico em centenas de serviços, tem que ser pensado, evitado e os respectivos comportamentos alterados. Comunicação QB. Aulas de comunicação nas escolas! Como é que vamos ser melhores que os outros sem aprendermos as bases?

Tuesday, October 27, 2009

O Seguro


Um texto que escrevi há uns tempos, perdido num domingo depressivo à tarde (um tipo morto, escreve uma carta de reclamação à companhia de seguros que não pagou à sua esposa o prémio do seguro de vida em causa).

Exmos. Senhores,

Venho por este meio, na condição de morto desde já sublinho, expressar a minha profunda indignação com a conduta irresponsável, execrável e arrepiante que vossas senhorias decidiram adoptar para com a minha pessoa - ainda que, indirectamente.

Durante anos a fio, paguei religiosamente (que já agora, e como vêem, não me serviu de muito ser religioso) aquilo que eu, enquanto pessoa de bem e cumpridora, e suas senhorias comigo acordaram como o preço justo para a minha morte futura. Anos a fio! Dinheiro que podia ter utilizado em tanta coisa. Não ouvimos nunca os outros dizer que a vida é curta e que para lá de Marraquexe só há areia. Pois bem, têm nesta carta um desalmado (literalmente) segurado que para além de ter poupado para a morte, nada agora deixou. Quando a minha mulher morrer com que cara é que a vou encarar, digam-me suas senhorias?

Para a cova não se leva nada. Até o fato do enterro, comprei-o em segredo anos antes. A minha mulher perguntava-me porque é que não podia mandar o fato fora. Respondia-lhe que tinha um valor sentimental. Ela lá desistiu. Na carta que deixei, disse-lhe que aquele era o fato a utilizar para efeitos fúnebres. Abanou a cabeça inconsolável, mas respeitou a minha vontade. Por tudo isto, e muitas mais coisas passei. Só porque fui eu a terminar com a minha vida, dizem vós, do alto das vossas torres que a minha mulher não tem direito a nada. Sabia que não tinha direito a arrepender-me depois de tomar uma decisão destas, mas vocês conseguiram mesmo assim, garantir, que um homem não pode descansar descansado.

E levo assim esta vida, aliás, esta morte, à espera que a minha mulher morra e me dê um raspanete. Uma semana antes de morrer, um amigo tinha ido fazer um exame à próstata. Disse-me ele que estava um homem guardado para aos 76 anos ser enrabado. Metáforas à parte e para além da frustração, deixais-me vós assim, em posição de quem perdeu a guerra, logo eu, que nem costela alemã tenho.

Solicito por fim, que reavaliem a minha situação, que deixam um homem na sua pretensa paz e que pela primeira vez, tendo em conta a força das circunstâncias, deixem um morto sossegado. Neste caixão, nem voltas dou, bem se veja.

Melhores Cumprimentos

Monday, October 26, 2009

Previsões


O mercado das probabilidades tem o melhor de dois mundos: por um lado, os seus serviços são imprescindíveis para ajudar a tomar decisões, por outro, as previsões não passam disso mesmo, ou seja, de previsões. De outra maneira passariam a ser certezas.

O impacto das probabilidades nas nossas vidas é significativo; a responsabilização dos meios emissores de probabilidades por outro lado, é praticamente nulo. O que quero dizer, é que mesmo em caso de desajuste face à realidade, no momento do estudo ou da previsão, em muitos casos, o estudo ou a previsão são feitos de qualquer maneira. Se alguma coisa correr mal, era um estudo, uma previsão. Se houvesse certezas deixava de o ser.

Assim foi recentemente nas eleições com as sondagens (houve casos de diferenças de 8 e 9 pontos percentuais) e assim é também com as já famosas previsões meteorológicas. Quem tiver oportunidade de visitar um centro ou instituto de meteorologia fica impressionado com toda a parafernália high-tech à disposição das ciências da previsão. Oferecem-nos "ciência" e se algo correr mal na previsão, já se sabe, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance.

Alternativas? Ficar sossegadinho se não tivermos dados que nos permitam tirar conclusões. Nas ciências e na vida.

Friday, October 23, 2009

Expectativas


Formado que está o novo Governo, neste ciclo eleitoral deposito as minhas expectativas na sociedade. Confio mais nela e na sua capacidade do que nos políticos. Bem ou mal, decidimos eleger suas excelências para governar parte do nosso destino.

Em teoria, a classe política pode fazer aquilo que bem entender; é a gravidade da consequência das suas acções que ditam o seu futuro. Para que estas consequências sejam correctamente avaliadas e para que daí se possam tirar ilações construtivas, a sociedade (nós todos) tem que perder um pouco de tempo, e dar o seu contributo.

O meu desejo para este ciclo, é ver a sociedade (ou uma parte significativa da mesma) a perceber um conceito simples, e de resto, popular entre economistas: "Não há almoços grátis." Basicamente, quer-se dizer que quando o Estado "oferece" alguma coisa, a dita coisa,no imediato tem o seu custo e mais cedo ou mais tarde, alguém vai pagar a factura. Como Portugal tem um tecido produtivo fraco em comparação com o resto da Europa, as nossas empresas não conseguem gerar receita suficiente (impostos) por forma a cobrir a despesa do Estado (compreendem agora porque se insurgem os economistas quando no Orçamento de Estado se prevê o aumento da despesa). Ora, se as empresas não estão em posição de contribuir de forma a que o Estado cumpra as suas obrigações, a quem é que o Estado vai pedir dinheiro? A nós, claro está (percebe agora também porque é que paga IVA a 20%, por exemplo).

Mas o Estado só faz isto tudo, e continua na sua senda despesista por um motivo simples: porque nós, enquanto sociedade, pressionamos pouco o poder político. O PS ganhou as últimas eleições com um défice previsto para 2009 de 5,9% (o Pacto de Estabilidade prevê 3%) e a prometer um TGV e um aeroporto. Mais despesa portanto. E o défice tem forçosamente que baixar. Dê lá por onde der.

Quando for preciso reduzir o défice, julgam que o Estado vai fazer o quê? Reduzir a despesa ou aumentar impostos? Os últimos 15 anos de governação em Portugal servem como resposta.