Friday, November 20, 2009

O Paradoxo Best-Seller


Os dizeres, como é o caso dos provérbios, têm um problema: a sua verdade superficial, não se deve aplicar dogmaticamente a tudo o que mexe. Basicamente, não se podem utilizar estas verdades culturais para tirar conclusões. "Depressa e bem não há quem" é um bom exemplo para ilustrar a superficialidade da coisa: algumas tarefas implicam calma e discernimento, outras nem tanto. De qualquer forma, o problema estrutural das tarefas e a consequente produtividade, reside na eficiência das mesmas. A questão não é a velocidade a que as coisas se fazem, mas antes, o que é preciso fazer para que as coisas corram, depressa, e bem. Do ponto de vista estrutural e de sociedade, os provérbios são uma fonte de atraso.

Por outro lado e por diversos motivos, habita a seguinte ideia dentro de nós: se muita gente tem, não deve ser grande coisa. O que eu acabo de escrever, tem naturalmente as suas limitações e não se podem tirar conclusões para tudo e mais alguma coisa, com base nesta afirmação. Mas podem-se inferir algumas coisas e em particular, no campo cultural. As modas, ou seja, os acontecimentos que mais vezes se verificam, são efémeros em parte por isto; se toda a gente tem, a dada altura, deixa de ser grande coisa. E vem outra moda.

A música não é diferente: é comum encontrar pessoas que adoram uma banda a dia 1 e a odeiam a dia 15. Muitas vezes tem a ver com o facto da tal banda ser agora conhecida, logo, deixou de ser grande coisa. E aplique-se a mesma ideia aos livros. Um Dan Brown, quando sai, é catalogado de imediato como mainstream. Se todos lêem, não deve ser grande coisa. Pergunte aos eruditos se já leram um Dan Brown. Respondem todos com um esgar arrepiante. Apesar de já o terem lido.

O próprio comum dos mortais, perante um fenómeno mainstream, quando consome algo desta natureza, tem que ter, para si próprio e para os outros, uma justificação para o fazer. Ninguém gosta de se associar a algo que - por preconceito - não é grande coisa.

Não temos que catalogar o que vemos, lemos ou ouvimos de acordo com a massificação do próprio fenómeno. A distribuição mais ou menos disforme de um conceito não deve servir nenhum propósito conclusivo. Lá porque queremos ser elitistas não temos que trucidar o que muitos gostam. Contudo, não quero ser absolutista na minha opinião, muita coisa das massas é má. Mas muita coisa 'elitista' na busca da disrupção e do diferencialismo produz também coisinhas muito más. Outro factor a ter em conta, é o tempo. Muitos fenómenos que foram mainstream no seu tempo, são hoje admirados pelos elitistas (anti-mainstream), o que não deixa de ser interessante.

Concluo então, e em parte, que um elitista cultural é um mainstreamer fora de prazo.

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