Monday, November 9, 2009

Cartas de Reclamação - A Sonolência


Um tipo que acorda mal disposto de manhã (todos os dias), escreve ao Instituto de Comportamentos em Sociedade (acho que isto não existe, mas não era de admirar que existisse) reclamando sobre os habituais procedimentos matinais em sociedade.

"Exmos. Srs.,

Permitam-me desde já sublinhar a importância da vossa instituição na nossa sociedade e agradecer pessoalmente o grande contributo que têm dado, no sentido de educar as massas e fazê-las perceber, que cumprindo pequenas regras, conseguiremos viver de uma forma mais harmoniosa e de certa maneira, de uma forma também mais relaxada. Desde a fundação da vossa instituição que noto uma significativa melhoria no comportamento dos portugueses em geral.

Contudo, há um ligeiro detalhe nas vossas orientações, que eu penso que deveria ser coberto, mas que - julgo que não seja propositado - não consta da vossa preciosa documentação. Falo do direito social que cada um tem em estar mal disposto de manhã.

Vou utilizar-me a mim próprio como exemplo; acordo todo o santo dia com uma má disposição digna de um abutre. Não exteriorizo essa má disposição de uma forma activa; se ninguém se meter comigo, eu também não me meto com ninguém. Agora, o simples facto de alguém me dizer "Bom Dia" com aquele tom de vendedor motivado, deixa-me de rastos. Até chegar ao trabalho, vivo num suplício: nos dias que preciso de abastecer o meu carro com gasolina, o simpático empregado da bomba fuzila-me no pagamento; ouço um bom dia, pergunta-me se tenho cartão de pontos, pergunta-me se é tudo e agradece no fim. E continuo eu o meu caminho, sempre um pouquinho mais mal disposto. Só quero seguir o meu caminho sem me chatearem! Mais uma provação: a portagem. Não dizer bom dia na portagem fica mal. Digo o bendito bom dia e sigo viagem. No emprego então, espera-me um pelotão ditatorial: vários bons dias, de torneadas cores e tamanhos, invadem a minha deplorável matinalidade. Fico assim, até ao meio da manhã, nesta luta indelével, refém do meu estado crónico.

Solicitava assim, por este meio, não em desespero (mas lá perto), a inclusão de literatura que aligeire o tratamento dado pelos bens dispostos aos mal dispostos no período matinal. Tendo em conta que os bens dispostos não têm culpa da nossa má disposição, e podem até não se aperceber da mesma, sugiro a utilização de um código ou um símbolo que nos identifique, e que impeça o bombardeamento de simpatia a que somos sujeitos diariamente. É a mesma ideia do "Do Not Disturb" dos hotéis mas para pessoas.

Esta é a única solução que me resta, não tentem sugerir-me yoga ou pacificações do género, já tentei tudo, continuo a acordar mal disposto.

Melhores Cumprimentos"

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