Monday, November 30, 2009

Islamigrante


A Suiça, país de chocolates, relógios e contas bancárias chorudas, decidiu referendar uma questão incómoda: a utilização de minaretes em mesquitas. O resultado do referendo foi um rotundo não, estando agora a construção desse tipo de edifícios, limitada por legislação vigente e resultado da vontade do povo. Imperou a soberania e costumes de um país às vontades religiosas de uma cultura.

Para lá de vontades e mentalidades, a questão de fundo é esta: como é que se desenrola o equilíbrio entre os que querem tentar uma vida melhor noutro país e os que devem (?) acolhê-los? O fantasma do nacionalismo está bem presente em toda a Europa, que durante o século XX, sofreu na pele, o idealismo exacerbado da corrente isolacionista. Dentro desta lógica, existe vontade política no sentido de acolher emigrantes, basicamente por dois motivos e não pelos seus lindos olhos: mão-de-obra para trabalhos desqualificados e um boost na natalidade. A lenga lenga da integração e compreensão serve estes dois propósitos. A integração real, contudo, não é fácil. O esforço da integração deve ser maior por parte de quem chega, ou dos que cá estão? Num mundo ideal não haveria esforço, mas sabemos que vivemos num mundo para lá de imperfeito. O tempo passa e a memória também. Muitos países (Portugal incluído) fazem um teste linguístico e tornam o processo de legalização, ao contrário do que se pensa, cada vez mais burocratizado. Podes vir, mas com cuidado, é esta a mensagem.

Descobriremos, em pouco tempo julgo, os limites da igualdade europeia pós-guerra. A fossa entre o que os homens idealizam e aquilo que realmente acontece, cresce funda dentro de nós, curiosamente, no mesmo local de onde a mesma devia desaparecer.

Sunday, November 29, 2009

Random sentences

A argumentação absolutista é um bom ponto de partida para uma conversa inerte.

Wednesday, November 25, 2009

Os jargões


O jargão, uma palavra por mim considerada, um valente palavrão, equiparável apenas, a esplendorosos termos como idiossincrasia, hermenêutica ou especificidade, tem uma natureza, no mínimo, preocupante. O jargão é, basicamente, a gíria utilizada por alguns grupos profissionais que caracteriza a sua forma de falar enquanto especialistas de um dado ramo: advocacia, economia, política etc..

Para que serve o jargão então? A justificação do lado de lá da barricada é que a precisão inerente a determinadas actividades profissionais não pode ter margem de erro considerável, sendo portanto necessária, a utilização de complexos termos, suficientemente diferenciadores e que dissipem qualquer confusão. Deste lado da barricada, defendo eu que o jargão serve, traços gerais, um grande propósito: aumentar margens de lucro de uma forma pornográfica.

A assimetria da informação está na base da desigualdade em termos negociais: quando não estamos completamente seguros daquilo que nos estão a dizer fazemos perguntas. É nesta fase que entra o jargão. Não compreendendo aquilo que o jargão nos quer dizer, resta-nos aceitar aquilo que ele prega. Esta codificação aparentemente harmoniosa serve curiosamente, praticamente em exclusividade, actividades que envolvem muito dinheiro e que são por costume, caras e indispensáveis: banca, justiça, política, economia. Apesar das desigualdades que provocam, as sociedades sem estes pilares, são lugares bem piores do que os que conhecemos hoje.

Tendo em conta que o Estado não nos consegue proteger da mesma forma que protege estas classes (porque depende das mesmas para sobreviver), devemos nós, esforçar-nos por conseguir descodificar estes enredos linguísticos. O caminho, para que a presença asfixiante do Estado, seja menor nas nossas vidas, depende também, daquilo que somos capazes de fazer.

Monday, November 23, 2009

Criação (In)Válida


Alguns autores e a sua respeitável turba de seguidores, defendem que as criações, ou a criatividade se assim lhe quiserem chamar, só existe, se conseguir chegar ao mercado. Um quadro, um livro, uma escultura e por aí fora, só são consideradas património criativo se forem validadas pela sociedade onde se inserem como tal.

Que verdade é esta? O que pensar do fenómeno criativo póstumo? Van Gogh, considerado hoje um génio, morreu com 37 anos, louco, sem dinheiro e com fome. Os seus quadros valem agora milhões de euros. É muito mais barato negociar com um criador morto do que com um vivo. E é aqui que se aglutina esta história da criatividade: em dinheiro. É perfeitamente possível, ser criativo, determinado e mesmo assim, não chegar muito longe. Fernando Pessoa publicou dois livros em vida, curiosamente, nenhum deles alvo da paranóia intelectual (justificada de resto) que hoje habita a nossa sociedade.

Uma criação, é uma criação. Pelo simples facto de não atingir as massas, ou os circuitos comerciais que as distribuem, não lhes retira significado de qualquer natureza. O homem e a sua criação, existem, para lá das sociedades, dos seus filtros e até do próprio tempo que as caracteriza. De outra forma, a disrupção fica limitada a extremos: da empolada simplicidade ao disparate desnecessário.

Friday, November 20, 2009

O Paradoxo Best-Seller


Os dizeres, como é o caso dos provérbios, têm um problema: a sua verdade superficial, não se deve aplicar dogmaticamente a tudo o que mexe. Basicamente, não se podem utilizar estas verdades culturais para tirar conclusões. "Depressa e bem não há quem" é um bom exemplo para ilustrar a superficialidade da coisa: algumas tarefas implicam calma e discernimento, outras nem tanto. De qualquer forma, o problema estrutural das tarefas e a consequente produtividade, reside na eficiência das mesmas. A questão não é a velocidade a que as coisas se fazem, mas antes, o que é preciso fazer para que as coisas corram, depressa, e bem. Do ponto de vista estrutural e de sociedade, os provérbios são uma fonte de atraso.

Por outro lado e por diversos motivos, habita a seguinte ideia dentro de nós: se muita gente tem, não deve ser grande coisa. O que eu acabo de escrever, tem naturalmente as suas limitações e não se podem tirar conclusões para tudo e mais alguma coisa, com base nesta afirmação. Mas podem-se inferir algumas coisas e em particular, no campo cultural. As modas, ou seja, os acontecimentos que mais vezes se verificam, são efémeros em parte por isto; se toda a gente tem, a dada altura, deixa de ser grande coisa. E vem outra moda.

A música não é diferente: é comum encontrar pessoas que adoram uma banda a dia 1 e a odeiam a dia 15. Muitas vezes tem a ver com o facto da tal banda ser agora conhecida, logo, deixou de ser grande coisa. E aplique-se a mesma ideia aos livros. Um Dan Brown, quando sai, é catalogado de imediato como mainstream. Se todos lêem, não deve ser grande coisa. Pergunte aos eruditos se já leram um Dan Brown. Respondem todos com um esgar arrepiante. Apesar de já o terem lido.

O próprio comum dos mortais, perante um fenómeno mainstream, quando consome algo desta natureza, tem que ter, para si próprio e para os outros, uma justificação para o fazer. Ninguém gosta de se associar a algo que - por preconceito - não é grande coisa.

Não temos que catalogar o que vemos, lemos ou ouvimos de acordo com a massificação do próprio fenómeno. A distribuição mais ou menos disforme de um conceito não deve servir nenhum propósito conclusivo. Lá porque queremos ser elitistas não temos que trucidar o que muitos gostam. Contudo, não quero ser absolutista na minha opinião, muita coisa das massas é má. Mas muita coisa 'elitista' na busca da disrupção e do diferencialismo produz também coisinhas muito más. Outro factor a ter em conta, é o tempo. Muitos fenómenos que foram mainstream no seu tempo, são hoje admirados pelos elitistas (anti-mainstream), o que não deixa de ser interessante.

Concluo então, e em parte, que um elitista cultural é um mainstreamer fora de prazo.

Thursday, November 19, 2009

Cartas de Agradecimento - O Divórcio


A instituição divórcio, escreve uma carta ao estado português, agradecendo a constante evolução da sua quota de mercado.

"Digníssimos Senhores,

Durante o período a que suas excelências apelidam de "tempo da outra senhora" eu praticamente não existia no vosso país. Fiz muita pressão junto dos órgãos de comunicação social, tentando associar a minha existência, a uma sociedade aberta, moderna e desenvolvida, onde a liberdade de cada um era agora mais abrangente. O amor, queria eu que vocês entendessem, não era para toda a vida. E não sendo para toda a vida, o divórcio era inevitável. Mas no "tempo da outra senhora" ninguém acreditou em mim. A família, era o núcleo da sociedade. E assim, assisti, impávido e pouco sereno devo dizer, à construção de eternas histórias de amor. Ou pseudo-amor? Bom, vamos acreditar por agora, que seriam histórias de amor. E a paranóia pelo casamento foi de tal ordem, que enviavam vocês rapaziada para a guerra e as meninas casavam-se por procuração. E onde é que já se viu isto, um casamento sem noite de núpcias? Onde é que andava toda a gente com a cabeça?

Aquando da queda "da outra senhora" veio a liberdade e eu claro, não me fiz rogado e entrei país adentro. Onde chega a Coca-Cola, chega o divórcio. Eu, gostem ou não, faço parte da evolução social. Um homem ou uma mulher toma uma decisão, arrepende-se e tem como dar a volta a coisa. À custa, por vezes, de muito dinheiro é certo, mas ainda assim, tem como dar a volta. Não compreendo, de todo, a revolta de algumas instituições, religiosas por exemplo, contra a minha condição. Clamam o livre arbítrio para a humanidade, mas reduzem-nos a um amor que se revela a longo prazo moribundo e arcaico. O amor humano? Não me façam rir.

Compreendo por outro lado, que existe uma motivação económica agregada ao casamento. Faz parte da sua génese e contra isso, nada de nada. Agora, porque é que uma pessoa tem que morrer agarrada a outra só porque no início da vida teve que.. tratar da vida? E os que se casam com a paixão a sair-lhes pelas orelhas? Que não percebem que a paixão é o mais insidioso dos sentimentos? E que gostem ou não, passa. Não como vento, mas passa. E a teoria que depois da paixão vem o amor, não é uma teoria. Para o ser, precisaria de ser demonstrada, e quem, no seu perfeito juízo, consideraria o amor a médio prazo, uma verdade demonstrada?

Aproveito hoje, o dia do meu aniversário, para agradecer o vosso empenho tremendo em aumentar a minha taxa de ocorrência. Em Portugal, ao que parece, metade das pessoas que se casam, divorciam-se. Uns redondos 50%. Sei também que à volta de 70% desta taxa se deve a problemas financeiros, coisa que no vosso país, é o status quo. Este factor aliado à ideia de que o casamento é uma das vias para a felicidade, garante-me um futuro risonho. Deixo-vos um conselho e contra mim falo: não hipotequem a felicidade dos vossos cidadãos em nome da natalidade. A vossa libertação não deve depender de um papel.

Tuesday, November 17, 2009

A traficância do trato


Que a justiça em Portugal é lenta, cara e semi-inoperante não é novidade. Que contribui para o nosso atraso económico e em certa medida, para algum atraso civilizacional é também verdade. Por grande que seja a capacidade e propensão de um povo para a evolução, se vir constantemente as suas iniciativas frustradas por mecanismos (como é o da justiça) que o impedem de alcançar os seus objectivos, pouco pode fazer nesta matéria. Se eu estiver doente, posso tratar-me noutro país. Posso estudar noutro país se quiser. Mas se tiver um problema legal em Portugal, não o posso resolver na Suécia (mesmo que tenha as contas com muitos zeros).

Vem ao caso a situação do processo Face Oculta; na rede tentacular em que os vários arguidos do processo se moviam, imperavam os conhecimentos, os favores à família e aos amigos e a conivência de poderosos intervenientes. A desacreditação do comum cidadão na justiça é visível, não pelo comentário habitual relacionado com a impunidade dos poderosos a braços com a lei, mas pela percepção que formam acerca da relação que os outros países têm com a corrupção. Começa a grassar a ideia - errada - que o fenómeno da corrupção é idêntico em todos os países. Forma-se a ideia de que nas mesmas circunstâncias, o mesmo aconteceria noutros locais. Que o problema reside no comportamento dos criminosos e não no sistema que os regula. Não é verdade e mais, pode-se facilmente estabelecer a relação entre baixos níveis de corrupção e altos níveis de qualidade de vida e desenvolvimento (norte da Europa, América do Norte, Austrália etc..). Haverá certamente corrupção nesses países, contudo, não existe um sistema penal permissivo como é o nosso. Em Portugal, a expressão "pena leve" é levada à letra aquando da formulação das leis.

Sabendo que os políticos farão apenas o esforço, fruto da pressão exercida pela sociedade (que não é muita) para alterar o estado actual da coisa, cabe à própria Justiça encarregar-se (tendo legitimidade para o fazer) de ocupar a posição que merece junto da opinião pública e que é de resto, fulcral para o desenvolvimento do País e dos seus cidadãos.

Fica a pergunta. Quem é que fiscaliza a Justiça?

Monday, November 16, 2009

Random Sentences

E se a tua vida não der um livro?

Sunday, November 15, 2009

Sistemas


Os sistemas ditos sociais, sejam eles de que natureza forem, são criados, mantidos, alterados e destruídos pelo homem. Para que num sistema democrático - como é o nosso - as coisas funcionem de acordo com os salutares princípios da pseudo-igualdade (sim pseudo, o conceito perverso de igualdade absoluta não passa de uma utopia idêntica em termos filosóficos às ideias de Marx e Engels), é importante que as regras que desenham as formas de actuação e consequentemente os comportamentos em geral, estejam imbuídas de um espírito igualitário. Há uma tendência para deslocar a conversa da igualdade para os direitos sociais, mas repare-se na importância que não é dada a esse princípio nas matérias económicas e nas delapidantes consequências da não aplicação do mesmo.

Um exemplo recente. O Tribunal de Contas chumbou a adjudicação de duas novas auto-estradas porque ao preço inicialmente proposto pelas empresas vencedoras do concurso acrescem agora mais de 300 milhões de euros. O sistema protege o contribuinte de uma situação em que aparentemente o estado português sairia lesado (através do Tribunal de Contas). Por outro lado, é possível, dentro do mesmo sistema, e com base no princípio da igualdade, às Estradas de Portugal recorrer da decisão do Tribunal de Contas alegando as razões que julga serem pertinentes para se adjudicar os trabalhos independentemente do novo preço. O sistema, incompreensivelmente, permite que as obras se iniciem antes da decisão dos tribunais. Ou seja, as construtoras fazem as auto-estradas e se no final o nosso moroso sistema judicial decidir a favor da não adjudicação dos trabalhos, as auto-estradas já estão feitas e as construtoras são indemnizadas, recebendo mais do que o novo preço proposto! Igualdade?

Apesar das matérias desta natureza, conferirem algum grau de complexidade na sua interpretação, é fundamental, começarmos a prestar mais atenção aos discursos políticos que vão de encontro à escalpelização destes temas.

Friday, November 13, 2009

Carta de Reclamação - O Desgosto


Depois da namorada pôr fim a 8 anos de namoro, um jovem de 23 anos decide suicidar-se, deixando claro está, a tradicional carta de suicídio.

"Olá Rita,

O que sinto hoje é tão avassalador como o dia em que te conheci. Mais avassalador que o primeiro beijo que te dei ou do que te disse ao ouvido naquele dia no metro. A intensidade desta dor supera tudo o que senti e que vivi contigo. Consigo fazer esta comparação porque é tudo tão vivo em mim. Depois do que me disseste há uma semana lembro-me de tudo como se fosse hoje. Inundou-me de sensações e sinto-me perdido num turbilhão estranho de mágoa, revolta e saudade. É insuportável.

Tento distrair-me durante o dia, faço tudo para que a minha mente viaje para outro sítio qualquer. É um esforço hercúleo. E patético. Não paro de pensar em ti. Até um simples cheiro de perfume me deixa paranóico. Mandei fora as cartas todas que me escreveste. Tive a falar com o meu primo sobre isto, ele diz-me que preciso de ser mais racional e que não devo ficar chateado contigo. As pessoas deixam de gostar o suficiente umas das outras. A vida é mesmo assim. Mas este dia-a-dia imensamente triste não é a vida. Sou eu sem ti. Para sempre. É este o meu drama. Pensar que não te vou ter mais nenhuma vez. E ter essa certeza em mim. Ouço em repeat a Someone Great dos LCD.. adormeço com lágrimas nos olhos e com o sonho em ti. Que não passa disso. De um sonho.

Falam sempre em tornar os sonhos em realidade. Tu conseguiste transformar a minha realidade num sonho. Literalmente. Não digo isto para te sentires mal, mas é estranho para mim constatar que muitas palavras têm agora outro significado. Hoje sou eu e as minhas circunstâncias. Hoje, mais tremendas que nunca. E o problema maior é que ninguém fala a minha língua. A de hoje, pelo menos. Se eu sinto isto tudo ao mesmo tempo, como é que posso ter calma? Ou esperar que o tempo cure o que quer que seja? O que eu queria, eras tu. Mas já sei que não te posso ter. Nunca mais.

Disse muitas vezes, a muitos amigos, que me pediam conselhos sobre como terminar relacionamentos, que nós é que somos importantes e que o que interessa é sentir que estamos bem. Hoje sou eu a conhecer o egoísmo - necessário compreendo - dessa retórica. Aquilo que eu decidi fazer hoje, não é um acto de coragem, pelo contrário, coragem era eu ficar aqui a lidar com o meu sonho. Isto é egoísmo, puro, não muito diferente dos conselhos que dei aos meus amigos. O importante hoje, é isto passar, ir embora. É eu ficar bem. E ironicamente, mesmo sem estarmos juntos, depois de eu fazer isto, sou eu que ponho um fim na nossa história. Perdoa-me o protagonismo, mas como dizem, é o que se leva desta vida.

Despeço-me de ti com um beijo, intenso como sempre, mas hoje, e também para sempre, com outro sabor. Deixo cá o meu sonho e parto sozinho, para outra realidade."

Thursday, November 12, 2009

O Cerco


Iniciado outro ciclo legislativo, a incongruência entre as estratégias apresentadas para dar um novo rumo ao País e aquilo que na prática vai acontecer, começa já, cedo, a dar sinais de si.

De acordo com o governo eleito, parar com o investimento público (auto-estradas e demências de natureza similar) significa parar de incentivar a economia e contribuir para o descalabro total. É possível escalpelizar de forma fácil a questão das estradas, mas deixemos esse exercício para outro dia (só como nota de rodapé, para uma auto-estrada ser rentável, deve a mesma registar, um tráfego diário de 15.000 veículos, não sendo portanto difícil, pensar em meia dúzia delas que nem 1/4 deste valor atingem).

Não se pare então com o investimento público. Muito bem. Contudo, não parar com o investimento público, implica gastar mais dinheiro. Existem duas hipóteses de alimentar a besta: financiar a coisa com impostos (impossível, na medida em que a carga fiscal, quer das empresas, quer das famílias, já está no limite) ou fazer investimentos com retorno (no caso das estradas, os tais 15.000 veículos/dia que não se sabe bem de onde é que vêm, cada vez que se inaugura uma brincadeira destas).

Quando se gasta dinheiro da conta e não se arranja maneira de colocar lá dinheiro novamente o que é que acontece? Voilá.

Sem nenhuma saída, porque fazemos parte do Euro e as contas serão saldadas queira-se ou não, resta-nos cortar na despesa e manter o mesmo nível de impostos. Traduzindo, dar o mesmo e usufruir cada vez menos.
Sempre que reclamarmos mais Estado, devemos ter em mente onde é que o mesmo vai arranjar dinheiro para nos continuar a dar brinquedos (um bom exemplo são os estádios construídos no âmbito do Euro 2004, alguns deles votados hoje ao abandono, com retorno zero e sem nenhuma perspectiva válida que remende o imbróglio causado).

Random Sentences

Só tem problemas, quem tem alternativas.

Tuesday, November 10, 2009

A Parábola do Cinto


Existem várias razões para o nosso subdesenvolvimento. Uma delas, reside na nossa luta, inigualável penso, em aceitar que vivemos num mundo de probabilidades.

Muitos comportamentos podem ser determinados pelas probabilidades; podemos escolher algo ou aceitar o cumprimento de uma dada lei, com base na crença que temos das probabilidades. Sabemos que o uso de cinto de segurança nos automóveis, não garante - mesmo cumprindo todas as regras do código da estrada - que em caso de acidente, os ocupantes saiam ilesos do dito cujo. Mas dizem os números, que morrem mais pessoas sem cinto de segurança do que com cinto. Logicamente, não nos passa pela cabeça (por algumas passa, mas são felizmente, cada vez menos), deixar viajar crianças num carro sem o cinto devidamente colocado. Mesmo sabendo que o cinto não garante a vida eterna. Simples. Aceitamos o facto e não colocamos a vida dos pequenos, em risco desnecessário.

Quando introduzimos as probabilidades nos estilos de vida a coisa começa a emperrar. O consumo exagerado de álcool ou tabaco aumenta as probabilidades de contrairmos doenças graves. Se não incorrermos em comportamentos de risco reduzimos essa possibilidade. O que não impede que morram pessoas em idade jovem e que nunca tenham fumado ou bebido. Quem nunca ouviu a história do velho que morreu aos 98 anos e que fumava dois maços por dia? Passem no IPO e ouçam as histórias dos que fumavam 2 maços por dia. É óbvio, que o número de pessoas afectadas pelo tabaco, é muito maior do que os que fumaram a vida toda sem nada lhes ter acontecido. É interessante ouvir o argumento do velhinho vezes sem conta. Quando este argumento desaparecer demos um passo importante em termos de mentalidade. (PS: não me incomoda as escolhas que cada um faz, eu próprio não sou nenhum santo; não precisamos é de defender os nossos excessos para lá da racionalidade)

Outra barreira psicológica engraçada e relacionada com as probabilidades é o grau de habilitações. Dizem os números que quanto maior o grau de habilitações, menor o tempo no desemprego e maior o rendimento. Quando tenho esta conversa com alguém sou bombardeado com o primo que ganha 600 euros no call center, o filho que tirou Direito e é vendedor ou o amigo que tirou Arqueologia e está desempregado. É a realidade, muitas pessoas com cursos superiores, não trabalham na sua área de formação. É também verdade, que muitas universidades primam pelo facilitismo e que muitas pessoas que tiram um curso superior não adicionaram nada por aí além ao seu intelecto. Uma coisa é o que escrevemos num currículo, outra é o que de facto, evoluímos. A realidade, dura, é que muita gente, tirou o curso por tirar. Não estou a tentar desculpar a incapacidade do nosso mercado de absorver profissionais, mas este é um factor a ter em conta: se as pessoas não sabem dizer pão com queijo, não é por terem um curso que vão arranjar trabalho. De qualquer forma, e voltando ao argumento inicial, mesmo a mais insípida das aves raras, com curso superior (a não ser que seja Mergulho), mais cedo ou mais tarde, consegue emprego (outro motivo para não se arranjar emprego é o facto da capacidade de mobilidade das pessoas ser diminuta, traduzindo, ninguém quer sair do poiso onde nasceu).
Muitas pessoas que têm uma vida confortável não tiraram curso nenhum. Muitos têm a 4ª classe. São pessoas que têm o seu valor e que conseguiram lutar para ter o que queriam da vida. Pergunte-se agora quantos anos demoraram estas pessoas a chegar aonde chegaram? E a que preço? E quantos como eles ficaram pelo caminho? E que alternativas têm se algo correr mal?
Esta é a grande diferença; um arquitecto recém licenciado a trabalhar no Mcdonalds tem a perspectiva de sair dali. Um jovem que desistiu de estudar no 9º ano no mesmo Mcdonalds que perspectivas tem?
Tanto um como outro podem chegar longe na vida, o que tem o 9º ano pode até superar o arquitecto, mas em teoria, quem tem mais hipóteses? A teoria, goste-se ou não, quando provada, ainda que em estimativa, supera sempre a subjectividade da opinião.

Em 2009, discute-se por cafés em Portugal, se vale a pena tirar um curso ou se o tabaco faz mal à saúde. É interessante verificar que as mesmas pessoas a defender afincadamente estas posições são os que querem ver os filhos com um curso superior e nem sonham vê-los a fumar. Quando é que vamos começar a olhar para cá para fora, da mesmo forma que um cinto de segurança?

Random Sentences

Com que olhos pensa o mundo?

Monday, November 9, 2009

Cartas de Reclamação - A Sonolência


Um tipo que acorda mal disposto de manhã (todos os dias), escreve ao Instituto de Comportamentos em Sociedade (acho que isto não existe, mas não era de admirar que existisse) reclamando sobre os habituais procedimentos matinais em sociedade.

"Exmos. Srs.,

Permitam-me desde já sublinhar a importância da vossa instituição na nossa sociedade e agradecer pessoalmente o grande contributo que têm dado, no sentido de educar as massas e fazê-las perceber, que cumprindo pequenas regras, conseguiremos viver de uma forma mais harmoniosa e de certa maneira, de uma forma também mais relaxada. Desde a fundação da vossa instituição que noto uma significativa melhoria no comportamento dos portugueses em geral.

Contudo, há um ligeiro detalhe nas vossas orientações, que eu penso que deveria ser coberto, mas que - julgo que não seja propositado - não consta da vossa preciosa documentação. Falo do direito social que cada um tem em estar mal disposto de manhã.

Vou utilizar-me a mim próprio como exemplo; acordo todo o santo dia com uma má disposição digna de um abutre. Não exteriorizo essa má disposição de uma forma activa; se ninguém se meter comigo, eu também não me meto com ninguém. Agora, o simples facto de alguém me dizer "Bom Dia" com aquele tom de vendedor motivado, deixa-me de rastos. Até chegar ao trabalho, vivo num suplício: nos dias que preciso de abastecer o meu carro com gasolina, o simpático empregado da bomba fuzila-me no pagamento; ouço um bom dia, pergunta-me se tenho cartão de pontos, pergunta-me se é tudo e agradece no fim. E continuo eu o meu caminho, sempre um pouquinho mais mal disposto. Só quero seguir o meu caminho sem me chatearem! Mais uma provação: a portagem. Não dizer bom dia na portagem fica mal. Digo o bendito bom dia e sigo viagem. No emprego então, espera-me um pelotão ditatorial: vários bons dias, de torneadas cores e tamanhos, invadem a minha deplorável matinalidade. Fico assim, até ao meio da manhã, nesta luta indelével, refém do meu estado crónico.

Solicitava assim, por este meio, não em desespero (mas lá perto), a inclusão de literatura que aligeire o tratamento dado pelos bens dispostos aos mal dispostos no período matinal. Tendo em conta que os bens dispostos não têm culpa da nossa má disposição, e podem até não se aperceber da mesma, sugiro a utilização de um código ou um símbolo que nos identifique, e que impeça o bombardeamento de simpatia a que somos sujeitos diariamente. É a mesma ideia do "Do Not Disturb" dos hotéis mas para pessoas.

Esta é a única solução que me resta, não tentem sugerir-me yoga ou pacificações do género, já tentei tudo, continuo a acordar mal disposto.

Melhores Cumprimentos"

Saturday, November 7, 2009

Clueless


No programa Ídolos, centenas (arrisco a dizer milhares) de pessoas tentam a sua sorte no programa, não tendo - nem de perto - capacidade para cantar o que quer que seja. O motivo que leva estas pessoas a concorrer a um programa deste género é o mesmo que leva outras pessoas a escolher o curso ou o trabalho errado, e que na pior - e infelizmente - das hipóteses leva à desmotivação e às suas consequências práticas: desemprego, falta de ambição e por aí fora. Este caldinho, num país exageradamente pessimista, é o cozinhado perfeito para anos de estagnação.

Lembro-me de Miguel Sousa Tavares ter escrito que em novo mostrou um texto seu à sua mãe e ela disse-lhe, frontal e abertamente, para ele esquecer aquele registo. Assim o fez e hoje em dia, conhecemos todos a capacidade de escrita da pessoa em questão e o seu sucesso na área. O próprio reconheceu que apesar da frustração do momento, foi o melhor favor que a mãe lhe podia ter feito.

Ser directo e frontal - sem perder a pose e a educação - não é nenhuma afronta, pelo contrário, provavelmente estamos a fazer um favor a alguém, ou se por outro lado ocuparmos a posição contrária, estará alguém a fazer-nos um favor. Não temos que ter jeito para tudo, nem temos que ter jeito para aquilo que achamos que são os nossos sonhos (é porreiro ser pop star, mas não é para todos). Conhecer as nossas limitações e encontrar caminhos alternativos não é um caminho fácil, mas é provavelmente, o único caminho.

Mais um mimo autarquico nacional - O caso do MIJA

Há dias um amigo meu contou-me que um ex-professor dele foi parte integrante de uma lista de cidadãos independentes que no anos 80 venceu as eleições para a Junta de Freguesia de São Pedro do Sul. Até aqui tudo bem não fosse esse movimento designar-se por Movimento Independente de Jovens Autarcas, isto é, o MIJA.
De início nem sequer acreditei no que me acabavam de contar mas ao fim de algumas pesquisas verifiquei a veracidade da história. Bom entre propostas absurdas como a construção de um estádio de futebol com capacidade para 90 mil pessoas e um slogan de campanha que era "MIJA para a frente que para trás mija a burra", a verdade é que venceram as eleições em democracia...............dá que pensar......................

Thursday, November 5, 2009

Gay Marriage


José Sócrates chamou a si a legitimidade sobre esta matéria; é uma posição assumida por ele próprio e pelo PS há algum tempo, e de facto, não se justifica o referendo popular. Se era esta a opinião do governo antes de ser eleito e os cidadãos escolherem-no de novo, tem a Assembleia da República toda a competência para se debruçar sobre o assunto. A direita, naturalmente mais conservadora, através de Ribeiro e Castro (lembram-se dele?) sugeriu a realização de um referendo. Se a direita é contra, façam como Ferreira Leite, e digam assumidamente que são contra. Não utilizem subterfúgios (como é o caso do suposto referendo) para assumir posições, é o meu humilde conselho.

Quanto à lei propriamente dita: é facilmente compreensível que as pessoas que gostam de pessoas do mesmo sexo, devem ter os mesmo direitos que os que gostam de pessoas de um sexo diferente. É uma liberdade que não interfere com a liberdade das outras pessoas. Como tal, devem usufruir dos mesmos benefícios que todos os outros: redução de impostos, direitos de sucessão e herança ou o casamento civil, entre outras benesses. O argumento da natalidade é arcaico: ninguém vai deixar de ser gay só porque ter filhos reduz a carga fiscal (nem os hetero os têm em número suficiente portanto..).

A questão mais complexa para mim, prende-se com a possibilidade de adopção (que duvido que seja incluída neste pacote legislativo). Os próprios psicólogos dividem-se nesta matéria. Em vez de pai e mãe, pode passar a existir pai e pai ou mãe e mãe. O problema contudo, vai para lá da criança ser confrontada com esta situação na escola ou digamos, pela sociedade (há uma multiplicidade de motivos para as crianças serem alvo de chacota).

É preferível deixar uma criança crescer num orfanato ou entregá-la a um casal gay?

O fundo da questão deve partir sempre da problemática da criança e não dos direitos dos adultos. Nesta questão específica (a adopção), os direitos da criança, devem sobrepor-se aos eventuais direitos decorrentes das opções sexuais dos adultos, ou seja, a conquista de direitos deve ser feita, tendo sempre em conta, a possível interferência e conflito com direitos já existentes, e que devem claro está, ser profundamente analisados.

Espero que a discussão pública sobre a adopção, não redunde num, "eles têm, nós também queremos". Vai muito para além disso. Adoptar crianças não é o mesmo que preencher o modelo 3 do IRS.

Wednesday, November 4, 2009

Realismo


O realismo surgiu no séc. XIX como uma corrente filosófica, que defendia o facto empiricamente averiguado, as ciências exactas e o consequente progresso técnico. Criticava também o romantismo, dono de idealizações exageradas e insidiosas excentricidades, que de certa forma - e apesar de belas - ofuscavam o verdadeiro sentido e natureza das coisas. No campo intelectual, a corrente deu lugar a descrições pormenorizadas e exactas da sociedade e do homem. A crítica em vez de ser subliminar, passou a ser objectiva e sem rodeios.

A minha introdução serve para ilustrar o discurso do governo português e o discurso da Comissão Europeia (CE) - perspectiva romântica e realista respectivamente.
Vejamos.

A CE prevê um défice de 8% para 2009 e de 8,7% para 2011.
A dívida pública bate também um simpático recorde, atingindo 77,4% em 2009, prevendo-se ainda 91,1% (!!!) em 2011.
A despesa do Estado atinge finalmente a barreira psicológica dos 50% do PIB.

O desfecho deste discurso romântico pode resultar num desgosto complicado de digerir. Sempre que virem um primeiro-ministro vigoroso a defender o TGV na televisão, lembrem-se dos números da CE. Curiosamente, as pessoas com quem falo e que defendem obsessivamente o investimento público como motor para a economia, são os que menos beneficiam destas políticas e de resto, os directamente afectados pela subida galopante de impostos dos últimos anos.

Uma nota relativamente aos impostos: não se pense, que só porque se recebe reembolso do IRS ou porque temos um ou outro benefício resultante de um escalão de rendimentos inferior, que somos uma espécie de privilegiados relativamente ao resto da nação. Todo o santo dia, o estado cobra-nos receita (independentemente da nossa condição económica) que vai depois utilizar (ou melhor, inutilizar) nas suas aventuras. Desde o simples pão, passando pelo automóvel, um copo de vinho, cigarros ou até um livro, contribuímos todo o santo dia para a aventura romântica destes senhores (todos os dias consumimos alguma coisa). Sei que para alguns o último parágrafo parece demasiado óbvio, mas a abstracção mental relativamente a esta matéria em que muitos vivem, justifica a declaração de interesses do escriba.

Repara-se no ciclo perverso em que estamos presos: o Estado investe com pouco retorno. Precisa de cobrar mais impostos para gerar mais receita. Ficamos com menos dinheiro disponível. Consumimos menos. A economia ressente-se. Gera menos receita. O estado tem que aumentar de novo os impostos. Ficamos de novo com menos dinheiro. O ciclo tem um fim, nada interessante, como devem calcular.

O grande favor que o estado nos podia fazer, não é a torrente interminável de paliativos disponibilizados para quando as coisas nos correm mal. O que nós precisamos, de uma vez por todas, é que as coisas nos corram bem, ou seja, que não se precise do estado para nada! Mas nesse dia, quantos interesses instalados morriam?

Recomendo ao prezado 1º Ministro (pessoa conhecedora de muitas frases feitas e diversas citações) a leitura de Madame Bovary de Gustave Flaubert (se já leu, leia de novo).

Tuesday, November 3, 2009

Livro de Reclamações - A Gripe


A gripe comum - influenza - escreve uma carta à sua congénere gripe A, reclamando uma série de pontos não cumpridos pela última, relativamente a um acordo firmado entre as duas em 2008. Assim reza:

"Exma. Senhora,

É com grande admiração e consternação que verifico que Sua Excelência, não teve a dignidade e transparência, de respeitar na sua suposta honra e galantaria, o acordo por nós firmado no ido ano de 2008. Recordo-lhe que o acordo foi assinado por ambas, e que do seu não cumprimento resultariam consequências legais e de resto aplicáveis a todos os países onde a nossa actuação fosse constatada. Podemos começar exactamente por aí.

Como sabe, eu detenho o monopólio de uma das doenças mais célebres que atinge a Humanidade. Com o tempo, tenho vindo a firmar acordos com os humanos, no sentido de reduzir as taxas de mortalidade a mim associadas. Disponibilizo atempadamente a minha estirpe, para que a vacinação seja feita a tempo e horas e verdade seja dita, eles ganham uns trocos valentes com esta brincadeira e eu também. Ora, no nosso acordo, combinou-se que a sua actuação ficaria restrita a dois continentes. Você não fez a coisa por menos e decidiu instalar-se em todos os continentes, violando assim uma parte importantíssima do acordo. Agora tenho governos do mundo inteiro à perna porque estão a gastar rios de dinheiro com esta brincadeira. Argumentam que se soubessem disto não tinham comprado tantos lotes da minha estirpe. Para o ano, se surgir outra gripe qualquer, qual é a minha credibilidade?

Combinou-se também, que todo e qualquer vírus de gripe tinha que ter um nome científico interessante e coloquial, que soe bem ao ouvido. H1N1? Mas que raio de nome é este? Seria um bom nome para uma personagem da guerra das estrelas ou um modelo novo de micro-ondas. Não compreendo a sua insistência quase esquizofrénica em ser tratada desta forma.

Por último, e não menos importante, recordo-lhe que não se atreva a matar mais gente que eu. Nem pensar! Veja bem a gripe espanhola de 1918. Nunca mais a vê nem pintada. Falei com um vírus que conhece umas pessoas e limpei-lhe o sarampo, como se costuma dizer.

Sugiro-lhe que faça como a sua colega das aves, que cumpriu todas as partes do acordo e vive agora sossegada numa ilha do Pacífico.

Melhores Cumprimentos,
Influenza, PhD

Monday, November 2, 2009

PS.. D?


O PSD atravessa mais uma das suas fases endémicas, em que sucessivos pseudo-líderes tentam chegar ao poiso. Alguns reclamam um corte geracional, deixando Marcelo de lado. Outros, reclamam alguém com capacidade de unificação e com altos níveis de popularidade (e sim, Marcelo leva grande vantagem nesta matéria).

Independentemente destas guerras - que nos últimos anos têm prejudicado mais a imagem do partido do que feito algo positivo por ele - a verdade é que nos últimos anos, o PS tem ganho eleições. Compare-se os indicadores económicos do ano 2000, repare-se que faltam 2 meses para chegar a 2010 e ninguém me apelidará de maluco se, eu adjectivar esta década, como uma década perdida. Não somos o primeiro país a atravessar uma década assim e a ter outra fulgurante a seguir. Contudo, é impossível mudar, se continuarmos a utilizar a fórmula demente e cadavérica dos últimos anos.

E é aqui que reside a grande falha do PSD: a incapacidade ao longo de todo este tempo, de explicar às massas, que toda a panóplia de serviços e benesses disponibilizadas pelo Estado, só têm contribuído para um aumento incapacitante da carga fiscal sobre as pessoas e as empresas, que servem exclusivamente meia dúzia de interesses e que depauperam a economia a um ritmo pujante. O PSD devia, de uma vez por todas, assumir-se claramente como um partido de direita, e deixar definitivamente o território das 'ofertas' para os partidos de esquerda.
Tem simplesmente, que centrar o seu discurso naquilo que é a alternativa ao socialismo desenfreado, cheio de auto-estradas, pontes e viadutos, e claro está, cheio de bancos para financiar esta irresponsabilidade. Se continuar a dizer que as benesses se mantêm em vigor, não existe nenhum factor de diferenciação.

Só mesmo o D no fim.

Sunday, November 1, 2009

Visível ou invisível?


O trabalho das pessoas ligadas ao marketing e à publicidade, é entre várias coisas, dar vida às marcas. As marcas funcionam como uma referência para os consumidores. Sabemos que um determinado nome ou símbolo representa qualidade, transmite-nos confiança e sabemos que podemos efectuar uma determinada compra com a certeza que a experiência será satisfatória (a definição é mais abrangente pode ser consultada aqui, por exemplo).

Agora experimentem dizer a um publicitário que uma marca é intangível, ou seja, e em termos brutos, algo em que não se pode tocar. Bom, mas é possível tocar num iogurte Danone, numas calças Diesel ou num automóvel BMW. Mas, estes produtos em que estamos a tocar ou até a consumir, são marcas, ou são produtos? Um carro é um carro. Ou é um BMW?

O meu argumento, é que as marcas servem exactamente como elemento referenciador e diferenciador, mas têm uma natureza não física. Têm sim, uma exteriorização física, ilustrada pelos produtos ou serviços associados a essa marca. Se arrancarmos os símbolos incrustados num BMW o carro continua a andar. O mesmo para umas calças de ganga ou um iogurte (vestidas e comido respectivamente, neste caso). Aquilo que existe, é uma atribuição de um significado a uma marca, que nos move depois, a comprar umas coisas. O que uma marca é na verdade, é um significado na nossa cabeça, a que depois - e num plano distinto - se associam produtos ou serviços.

A marca é intangível. Existe, mas nunca no sentido físico-literal do termo.