Saturday, December 27, 2008

Camões

Que terá dito e escrito: "Jamais haverá ano novo, se continuarmos a copiar os erros dos anos velhos." Disse isto o homem que passou pelas agruras da vida, ficou sem um olho, e mesmo assim descreveu o amor como ninguém - o tal fogo que arde sem se ver.

Vem aí 2009, e circulam já nos media os habituais highlights de 2008 e prognósticos para 2009. Na sobrecarregada sociedade em que vivemos, onde o número de palavras num hipermercado é superior ao vocabulário de um indivíduo que acaba uma licenciatura - 12000 e 8000 palavras respectivamente - era possível destacar uma série de acontecimentos relevantes a nível nacional e internacional, por uma questão de brevidade e santa paciência destacarei um por área e com subsequente previsão para 2009 (se o Marcelo falha eu também tenho direito de arriscar previsões):

- Política: ano dominado por algumas reformas levadas a cabo pelo nosso Engenheiro; umas melhores, outras piores, de qualquer forma é justo dizer que comparando com as últimas três legislaturas já não se via ninguém a governar assim há algum tempo, isto é, levando as reformas até ao fim e concretizando na medida do possível alguns pontos do programa eleitoral. Longe da perfeição é certo, mas o suficiente para deixar a quilómetros-luz um confuso e conflituoso PSD, um albanês CDS, um avulso BE e um ridículo PCP. Temos eleições para o ano (legislativas, autárquicas e europeias), e a pergunta de 1 milhão de euros é se o PS consegue a maioria absoluta; o meu humilde palpite é que sim, vai conseguir. Porquê? Com o deplorável estado em que a economia se encontra aquilo que em ano de eleições se apelidaria de medidas eleitoralistas de esquerda vão ser vistas como medidas contra a crise e que no nosso país, que - e bem - à conta de rigoroso controlo orçamental tem agora oportunidade de encarar a crise com maior folga (défice actual de 2,2% quando o limite imposto pelo pacto de estabilidade é 3%).

- Economia: A reboque da crise mundial também Portugal já está a sofrer as consequências do abrandamento que se sente em todo o mundo; já soaram os alarmes no sector automóvel e têxtil, e ao que parece, a coisa não fica por aqui. Apesar de tudo, as previsões da OCDE vão para uma taxa de desemprego em 2009 a rondar os 8% (actualmente encontra-se nos 7,7%), o que apesar de não serem boas notícias, não são também as piores - aqui mesmo ao lado em Espanha a mesma taxa já ronda uns preocupantes 12%. 2009 não vai ser nada fácil, é uma realidade, mas julgo que outros países estarão muito mais expostos à crise do que Portugal; é evidente que os sectores mais ligados à exportação irão sofrer um revés maior, contudo este sector (e infelizmente para nós devo dizer), apesar de importantíssimo não representa uma fatia significativa do tecido produtivo de riqueza no país. Contamos para já com preços mais baixos, combustível e rendas mais baratas; o drama prende-se precisamente com o abrandamento económico que levará algumas empresas à falência e ao consequente e perigoso desemprego.
No que à banca diz respeito, lá se confirmaram as conversas de café: gestores do BCP compraram acções do próprio banco através de sociedades offshore, o BPN foi nacionalizado (por motivos criminais e não de crise) e o BPP de Rendeiro (já conhecido como o "portuguese Madoff"), que no dia em que lançou o seu livro onde explicava as suas fórmulas de sucesso viu-se afastado da administração do BPP pelos motivos que já todos conhecemos. Tudo bons rapazes, portanto.

- Educação: este foi o ano de todas as touradas a bem dizer. Greves, suspensões, abaixo-assinados, gritos e manifestações. A avaliação (a meu ver imprescindível), com alguns remendos vai acabar por seguir o seu tortuoso caminho e em 2009 a ministra depois de eleições será - para seu próprio alívio - remodelada. A avaliação é parte do caminho, espero que 2009 traga novas ideias para a educação, um dos, senão "o" problema chave para o desenvolvimento de um país, que com limitados recursos naturais e altamente dependente a vários níveis do exterior, precisa de mão-de-obra altamente qualificada para fazer face aos problemas que vamos encontrar. Quando conseguirmos produzir cidadãos dignos desse nome, passamos dos benditos 1% de crescimento para a média europeia. A mudança aqui não tem que ser só com reformas governamentais, mas também com uma reforma da sociedade civil, altamente responsável pela educação (ou falta dela) dos seus filhos.

- Justiça: continuou este ano no habitual ritmo arrasta-pés que já é característico. Não consigo prever mudanças para 2009, na medida em que os mesmo responsáveis pelas respectivas áreas se irão manter nos cargos que ocupam, sendo este um claro caso em que se não mudam as caras, não muda o sistema. Ludibriando a populaça com o jargão da justiça, sindicatos e governo vão adiando as decisões e as reformas. Que diferenças é que o amigo leitor sentiu no âmbito da famigerada reforma do mapa judiciário? Exactamente.

- Internacional: Barack Obama sem sombra de dúvida. Nem Martin Luther King por esta esperava se vivo fosse. Um sinal que os EUA são "A" democracia. O atentado em Bombaim foi outro marco de 2008, bem como o falhanço do Tratado de Lisboa e a mais uma vez adiada Europa por que todos clamam mas que ninguém consegue unir. 2009 será o ano de eleições em muitos países (Alemanha por exemplo), e claro está, marcado pelas medidas que os governos irão tomar em função da crise. É uma questão de tempo até a confiança voltar aos mercados e é minha modesta opinião que no final de 2009 já se farão prognósticos - ainda que modestos - positivos para 2010. Ninguém vai olhar a meios para ajudar os contribuintes (que têm andado a pagar as brincadeiras da alta finança) e podemos contar com défices a subir por aí acima. Virá depois a inflação, mas cada problema a seu tempo. Muito se espera da América e de Obama; a nível económico, e como é habitual nos EUA, será provavelmente a primeira nação a recuperar do choque e a liderar a luta contra a crise. O Médio Oriente, sempre explosivo, continuará na sua atribulada rota. Iraque e Afeganistão são para continuar em 2009, economias emergentes como a China e a Índia, com milhões de milhões de habitantes e muito dependentes das exportações terão dificuldades acrescidas. Destaque também para o Dubai e as suas imperiais construções. Teremos migrações dos centros financeiros para novas paragens? Esta não arrisco.

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