Wednesday, May 26, 2010

Quê?


Vi ontem no Canal Q, alegadamente um canal de humor, cultura e tal, Fernanda Câncio e Paulo Pedroso, duas insuspeitas figuras (a primeira, envolta numa penumbra de isenção socialista, o segundo, claramente assumido militante rosa e que como sabem, já desempenhou cargos de alta responsabilidade na gloriosa Nação) falando sobre os grandes feitos dos governos socialistas dos últimos quinze anos.

Consegui apenas ver cinco minutos devo confessar, mudei de canal quando Fernanda disse que de acordo com um estudo publicado, apenas 17% dos portugueses não conseguem ter uma série de luxos: máquina de lavar roupa, TV Cabo, água, luz e uma refeição decente de dois em dois dias. Repare bem: de dois em dois dias. Paulo Pedroso respondia que as políticas dos últimos anos (desde Guterres) têm sido estabelecidas no sentido de aligeirar as diferenças em matéria de desigualdade social e mencionou o famoso Rendimento Social de Inserção e o Complemento Solidário para Idosos.

Vou aproveitar a oportunidade para explicar de forma simples como é que a coisa tem funcionado:

1. O Estado decide "oferecer" aos seus cidadãos um conjunto de direitos alienáveis em nome do socialismo e do combate à desigualdade

2. Para o efeito tem que gastar dinheiro e consequentemente ir buscar esse dinheiro a algum lado (impostos)

3. Como uma empresa, faz um plano de investimentos segundo o qual, irá estimular a economia e por essa via fazer crescer o País. Todos ganham! Há mais emprego, mais empresas e mais receita de impostos para sustentar a despesa e todas as benesses a que temos direito. Ninguém sofre com isso, porque crescimento gera crescimento!

4. Tempos depois, o plano de investimentos afinal é medíocre e as receitas previstas são inferiores ao que se tinha estimado (Portugal não cresce a mais de 2% desde 2001)

5. Chegado o tempo de se avaliar o que se gastou e o que se recebeu, conclui-se que a receita gerada pelo plano de investimentos ambicioso, não foi suficiente para cobrir a despesa e o défice dispara.

6. Mas.. the show must go on! O Estado emite títulos de dívida pública para pagar o défice. Paga juros para o efeito.

7. Depois de emitir dívida e porque o crescimento teima em não arrancar, o défice continua descontrolado. Tem duas hipóteses: cortar na despesa (menos benesses), ou aumentar a receita através impostos (mais IRS, mais IVA, mais IRC). Decide manter a despesa corrente alegando que o povo não pode viver sem as actuais benesses. Excluídas todas as hipóteses, tem "inevitavelmente" que aumentar os impostos.

8. O povo aperta o cinto. Decide entretanto oferecer as calças (vídeo aqui)

9. As empresas vêem-se sufocadas com mais impostos, não conseguem criar mais postos de trabalho, o desemprego aumenta (e as prestações sociais também)

10. As instâncias internacionais começam a olhar para estes números com preocupação. Os bancos portugueses começam a comprar o dinheiro mais caro porque o risco é maior e como tal, vendem-no também mais caro. As empresas que precisam de investir não conseguem financiar-se e quando não há perspectiva de crescimento, há perspectiva de falência (e mais desemprego)

Como podem observar, em dez simples passos, esta tem sido a dinâmica dos últimos anos: investimento medíocre, aumento de despesa, aumento de receita através de impostos e crescimento nulo.

Câncio e Pedroso falam alegremente no canal Q, sobre refeições decentes de dois em dois dias.

O Governo em funções ganha eleições prometendo ambiciosos projectos como o TGV e um novo aeroporto.

O povo ainda não compreendeu que os benefícios dos quais usufrui, são a sua própria miséria. Para "dar" o que quer que seja, o Estado tem depois que ir buscar dinheiro a algum lado. Curiosamente, ao próprio povo que vota de forma cega, no poderoso Estado Social. Em todo e qualquer discurso político devemos reflectir sobre a mítica frase "Não há almoços grátis"

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