Tuesday, June 1, 2010

O Paradoxo Especulativo


Muito se escreve e fala sobre a especulação financeira, essa terrível maquinação capitalista, que arrasta países para a bancarrota, destrói economias e faz dos mercados financeiros um casino de Las Vegas ou Macau.

O que é que acontece? As economias mais pujantes - foco nas europeias, Alemanha, França e Reino Unido por exemplo - conseguem reflectir nos salários dos seus cidadãos o vigor que os indicadores económicos sugerem: mais poder de compra e mais capacidade de poupança entre outros. Vamos supor que um individuo ao fim de um ano consegue poupar cinco mil euros. O que fazer a esse dinheiro? Duas hipóteses: investir ou gastar. Supondo de novo que o individuo decide poupar em vez de gastar, faz o que a maior parte dos pequenos investidores faz: dirige-se a um banco e acorda com essa instituição uma taxa sobre a qual, no final de um determinado período, à quantia inicial depositada, é acrescido um determinado valor. O banco por sua vez, como não tem uma varinha mágica que faz o dinheiro multiplicar-se por si só, tem que pegar nesse dinheiro depositado e colocá-lo a render. Uma das hipóteses que tem - e que é largamente utilizada - é comprar dívida a outros países.

Os países com problemas de défice orçamental (como é o caso de Portugal, que muito antes da crise actual já tinha este tipo de problemas: recorda-se o leitor no ido ano de 2003 da venda de créditos no valor de doze mil milhões euros ao Citibank para o défice ser inferior a 3%) são obrigados a emitir dívida para a financiar. Essa dívida é comprada, não por comiseração, mas com base numa taxa de juro (quanto maior o risco de incumprimento, mais alta é a taxa, como calculam no caso de Portugal, não é das mais baixas). Quem a compra? Entre várias entidades, o banco alemão, francês ou inglês que aceitou o depósito daquele senhor que serviu de exemplo.

Como vê, os terríveis especuladores muitas das vezes, são anónimos aforradores que pretendem ver as suas pequenas poupanças rentabilizadas. No processo, os países que já são ricos, comprando dívida aos mais pobres, aumentam os seus indicadores económicos, enquanto que por cá, vemos outros também a subir, o do desemprego por exemplo, 10.8% à data de hoje. É também divertido ver o Ministro das Finanças no fim dos leilões de emissão de dívida, dizer que a procura por obrigações superou claramente a oferta. Pudera.

Continue-se a escolher governantes com base em chavões como o Estado Social e o apoio aos carenciados e a breve trecho, a força dos números tomará conta de nós: a bem ou a mal.

PS: O ataque da Telefónica à PT acontece por dois motivos: vulnerabilidade económica do país e a recente caldeirada que envolveu a alegada compra da Media Capital, onde cavalheiros nomeados pelo governo para o conselho de administração e figuras subservientes ao regime, fizeram o seu joguete habitual. Vamos ver como corre.

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