Sunday, June 20, 2010
Encruzilhada
A implantação do sistema democrático em países desenvolvidos que hoje conhecemos trouxe consigo muitas vantagens e como qualquer outro sistema, trouxe também desvantagens. Os partidos políticos têm como objectivo principal, não o superior interesse dos cidadãos que representam, mas antes, a conquista do poder. Os interesses das pessoas que elegem os seus representantes são uma consequência desse desejo e não o sentimento primário de cada força política. Nesta afirmação, encontramos a razão para a qual a maioria das pessoas em Portugal não se sente representada pelos governantes do nosso país. O que está em causa, são as suas ideias e as suas convicções, não aquilo que o povo realmente deseja.
Assim sendo, a hoje assistimos ao que se designa por combate político. Cada partido defende uma série de posições sobre uma infinidade de temas e o anónimo cidadão que supostamente se revê nessas posições vota de acordo com as mesmas. O problema do combate político e da conquista do poder é que conduz ao absolutismo das opiniões. Em teoria, o PS defende a intervenção do Estado na economia, o PSD a sua ausência (mais ou menos), o CDS a sua ausência numa perspectiva mais conservadora e o BE e PCP são do contra.
Quais são os interesses dos cidadãos na generalidade? Não os que se interessam por política ou economia, pela liberalização dos casamentos gay ou do limite que deve ser imposto à despesa do Estado. O cidadão anónimo, que nada quer saber da política, o que é que pretende? Viver melhor. É tão simples quanto isto. Dá-lhes igual que seja com intervenção, sem intervenção, de fato e gravata ou de fato-macaco. As pessoas querem viver melhor. Simples. Duvido que algum político eleito tenha feito esta pergunta a si mesmo. O que é que preciso fazer para que as pessoas vivam melhor?
Pelo contrário, fazem outras perguntas. Como é que me posso diferenciar do PSD ou do CDS? O que é que tenho que prometer para ser eleito? Quem devo atacar? De quem me devo defender? Se o PS defende uma auto-estrada o que devo eu defender? E nesta lista interminável de perguntas reside algures o superior interesse dos cidadãos.
Claramente, os nossos interesses não são defendidos de forma alguma. Pior, na senda pela diferenciação entre partidos, o choque constante entre os mesmos e a falta de consenso leva a que não exista plano nenhum. Uns gritam investimento público, outros gritam liberalização, outros menos impostos, outros menos benesses. Em que é que ficamos?
Pinto Balsemão, há semanas atrás e no âmbito de uma conferência, aproveitou para falar sobre liberdade. Decorria o inquérito na comissão parlamentar sobre o alegado conhecimento de Sócrates do negócio PT/Media Capital e Pinto Balsemão disse que a luta pela liberdade nunca está ganha.
Com a política e os nossos representantes acontece precisamente o mesmo: votar (ou não votar) não nos absolve das consequências desse acto. As eleições não são uma solução chave na mão em que depositamos a responsabilidade de governar o País a meia dúzia de pessoas. Cabe-nos escrutinar e fazer tudo o que está ao nosso alcance para fiscalizar as acções que as diferentes forças políticas vão tomando.
E isto não é um ataque ao governo em funções; a responsabilidade é de todos. Um exemplo: o CDS e o insuspeito (?) Bloco de Esquerda prometeram a pés juntos que iriam solicitar a realização de uma comissão de inquérito relativamente ao plano de contrapartidas negociado no âmbito do célebre caso dos submarinos. Até à data, nada. Questionados pelo Expresso sobre a matéria, o CDS nada respondeu e o Bloco de Esquerda disse que o Presidente da Assembleia (Jaime Gama) pediu para não se solicitar nada na medida em que estariam duas comissões parlamentares a decorrer. Já não nos chegava uma Justiça lenta, temos agora um Parlamento no que a este tipo de diligências diz respeito, também lento. Não se compreende.
A melhoria da qualidade dos nossos políticos, depende também, de nós mesmos.
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