Wednesday, June 16, 2010

Esclarecimento


Do nosso bem estar depende a qualidade das nossas decisões a todos os níveis. Para tomar decisões acertadas precisamos de nos esclarecer, informar e tomar uma posição relativamente a cada matéria. Deixar que os outros moldem a nossa opinião não é por si só maligno, mas a aceitação imediata do que ouvimos só porque vem de uma caixa com som e imagem, é perigoso.

A assimetria da informação - já aqui abordada - ilustra estas diferenças e permite a compreensão dos fenómenos que conduzem a certas desigualdades. A questão a partir daqui é a seguinte: de quem é a culpa? Do Governo, que tem como obrigação fazer aproximar as diferentes classes e mitigar a diferença? Do cidadão, que deve ser mais informado e decidir com mais qualidade? Ou dos movimentos intelectuais, eticamente responsáveis por uma sociedade melhor?

O Governo primeiro. Portugal tem sido marcado por governos PS (houve apenas uma legislatura com o PSD no governo, a de Durão Barroso) nos últimos anos. O socialismo, no seu ADN, entre muitas coisas, defende uma redução premente das diferenças entre classes. Em Portugal esta ideia tem sido defendida pela via legislativa e numa óptica reactiva, ou seja, temos mais pobres, implementaremos o Rendimento Social de Inserção. Temos mais reformados sem dinheiro para o antibiótico, implementaremos o Complemento Solidário para Idosos. O grande objectivo, em vez de ser reduzir as desigualdades através de um enriquecimento global, centra-se numa navegação à vista, apagando fogos aqui e ali e adiando - com consequências graves a curto prazo - o problema do crescimento.

O cidadão. O sistema que tanto criticamos e odiamos é formado por nós, os cidadãos. Segundo sei, nenhum dos nossos representantes políticos se auto-elegeu, alguém teve que votar em suas excelências para que estas por sua vez, defendam os nossos superiores interesses (?). Já se sabe que a linguagem utilizada pelos políticos e pelos economistas não é simples de decifrar; é um subterfúgio que serve, mais do que para exteriorizar a sua pretensa erudição, para escamotear a verdade e confundir as pessoas. Por outro lado, a vontade das pessoas se informarem e formarem uma opinião lúcida é diminuta. A maior parte das pessoas considera que ver o telejornal das 8 às 9 e ouvir falar três minutos sobre um dado acontecimento é o suficiente para formar uma opinião e consequentemente tomar uma decisão se necessário. 500 anos depois de Guttenberg muitas pessoas perguntam-me espantadas: como é que tens paciência para ler? A culpa não é só dos políticos.

Os intelectuais. Apesar do anónimo cidadão não se interessar muito por aquilo que realmente interessa, a verdade é que quem produz conteúdos sobre estes temas preocupa-se com tudo, menos com as massas. Escrevem-se livros para os colegas da reitoria, para o currículo ficar com mais uma página ou simplesmente porque escrever para as massas "não é bem". Neste processo, os agentes responsáveis (sim, quem tem oportunidade de expressar aquilo que pensa tem uma responsabilidade ética e social) pela disseminação de informação relevante, perdem-se num egoísmo centrado na carreira relegando as suas críticas para as forças políticas, quando eles próprios, pouco fazem na verdade. Os grandes pensadores pertencem a outro tempo.

PS: De destacar a iniciativa de António Barreto através da Fundação Francisco Manuel dos Santos, ao disponibilizar três livros para o mercado, leia-se, para o anónimo cidadão e não para a tribo intelectual errante, sobre Portugal e os nossos problemas. Extremamente acessíveis (cerca de 3 euros) e com apenas 100 páginas cada, de fácil leitura. Nas palavras do próprio, "é importante as pessoas conhecerem a verdade".

Sem informação, não chegamos a parte alguma.

No comments: