Sunday, May 9, 2010

Nostradamus


Durante imenso tempo, os altos responsáveis da nação minimizaram as considerações e recomendações de todas as instâncias internacionais sem excepção. Crescimento medíocre (não se alcançam os dois pontos percentuais desde 2001), exportações em baixa, dívida externa meteórica e défice em alta. Uma boa receita para o desastre.

A tourada - penso ser este o melhor adjectivo - dos grandes investimentos continua: o ministro das Finanças diz que é preciso reavaliar. Sócrates e o ministro das Obras Públicas querem fazer atravessar o bulldozer rosa pelos próximos trinta orçamentos de Estado. Sua excelência o Presidente da República recebe um conjunto de economistas na próxima semana para reexaminar esta bodega. Mas o cão ladra e a caravana passa, ontem mesmo adjudicou-se o primeiro troço do comboio supersónico, clamam os defensores da epopeia, que o Estado vai gastar apenas uns cento e poucos milhões com a brincadeira. Repare-se como é que nos últimos anos se tem dito com frequência, são "apenas uns milhões". O esforço maior é dos privados dizem. A encher o bolso, é provável.

A juntar à supra citada carnificina, conseguimos encontrar um culpado para a irresponsabilidade que grassa: as agências de rating. Como são todas norte-americanas, pretendem através de um malévolo plano, enfraquecer o euro através de revisões negativas das dívidas soberanas dos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha, a expressão não é minha, somos assim conhecidos na imprensa do mundo desenvolvido pelas nossas habilidades em macroeconomia). Não é preciso ser economista para entender o porquê dos downgrades: nos últimos quinze anos escolhemos o caminho do betão. Impacto na economia? Têm a resposta nas vossas carteiras e nas oportunidades de desenvolverem uma carreira profissional decente no País. As organizações que nos avaliam não podem tecer comentários positivos perante tal irresponsabilidade. Sejam americanas ou de outro sítio qualquer.

E perante as recomendações - que não param de chegar - o que fez o governo da Nação? Repetir a dose. Mais investimento em betão. Ainda por cima através de parcerias público-privadas, sabe Deus (e o Papa também já agora, que vai ter a simpatia de paralisar meio país durante três dias) com quantas renegociações, que como já se sabe, transformam o reduzido investimento inicial do governo em mais uns pozinhos de défice, que precisará de ser inevitavelmente reduzido à conta por exemplo de 1 ou 2% de agravamento do IVA. Lembram-se quando se aumentou o IVA "temporariamente" de 17 para 19 e depois "temporariamente" de 19 para 21? Vamos ver quanto tempo aguenta nos actuais 20.

O que podemos fazer? Nada. Mas deixo uma recomendação: quando ouvir falar de investimento público nas próximas eleições, tenha cuidado. Muito cuidado.

No comments: