Thursday, August 27, 2009

Obamacare

Barack Hussein Obama de seu nome, pretende introduzir no seu país - the land of the free - um sistema de saúde, idêntico ao que existe na maior parte dos países europeus: subsidiado pelo Estado, leia-se, pelos contribuintes. O sistema norte-americano vigente é o de seguros de saúde privados onde só os que têm dinheiro, têm acesso a cuidados de saúde. Apresentada assim a coisa, parece-nos a nós europeus, uma coisa chocante, não tratar dos enfermos só porque não têm dinheiro. Analisemos então ambas as sociedades - europeia e americana - para entender a discrepância e já agora debito a minha laracha para a fogueira.

Grande parte da Europa vive numa espécie de espírito colectivo, espírito esse que se reflecte na organização política de cada país e na própria forma de estar e de pensar dos cidadãos. Os europeus dão como certos o acesso aos cuidados de saúde, à justiça, à educação, ao trabalho e a uma miríade de direitos resultantes de uma história recente, repleta de ditaduras,que originou constituições altamente igualitárias achando-se por bem garantir tudo e mais alguma coisa a todos as pessoas. Sim, a todos, porque perante a lei e a constituição, todos são iguais! Esta forma de organização, em que a política nos diz que as coisas são grátis, origina vários problemas: o primeiro, e mais premente, é a sobrecarga terrível de impostos de que somos alvo. Porque é que acham que se pagam tantos impostos? O dinheiro que o Estado nos cobra serve para quê? Os artistas de café argumentarão que é para estradas, pontes e rotundas. Mas não é bem assim. Mais de metade do orçamento de Estado vai para a Saúde e a Educação. Quanto menos dinheiro o Estado tiver que gastar, menor é a quantidade de impostos que tem que nos cobrar. Se este esforço for suportado pelas empresas através da sua natural actividade económica, sobrará mais espaço para aliviar o comum dos cidadãos no que aos impostos diz respeito.
Segundo problema: como é o Estado que nos possibilita todos estes direitos quando alguma coisa corre mal, a culpa é do Estado e não do individuo. Esta desresponsabilização do cidadão, que em Portugal por exemplo assume níveis preocupantes, leva a que as pessoas cometam erros porque sabem que as consequências desses erros pouco impacto têm na sua vida. A tal sociedade colectivizada europeia, ensinou-nos a ter pena das outras pessoas e a ajudá-las quando elas mais precisam: na doença, no desemprego, na pobreza etc.. O problema é a avaliação de cada situação; um individuo despede-se. O patrão com pena, passa à mesma os papéis para o subsídio de desemprego. O individuo recebe ajuda estatal. É saudável. Despediu-se porque já se levantava às 7h00 todos os dias há um ano e meio. Porque é que tem que ser o individuo trabalhador a suportar estes caprichos?
Terceiro problema: esta ideologia leva também à própria deterioração da qualidade dos políticos. As suas propostas limitam-se a ir de encontro ao que as pessoas querem: mais coisas grátis. E vive-se assim na ilusão de que as coisas são grátis, quando na verdade, alguém tem que as pagar, curiosamente, o individuo saudável e trabalhador.

Vamos agora aos Estados Unidos, uma das principais economias do mundo. O PIB per capita, ou seja, a contribuição média de cada cidadão para a riqueza produzida pelo país, é no caso de Estados Unidos (e de acordo com o CIA World Factbook, dados de 2008) de 47.103$ e no caso da Europa de 38,390$. Segundo a Interbrand, das 100 marcas que mais valem no mundo, 64 são americanas. Porquê?
Primeiro, porque ao contrário da Europa, o background histórico americano baseia-se no empreendedorismo e na capacidade individual de cada um, ou seja, na responsabilização do individuo perante o seu sucesso e as suas falhas. A sociedade entende que se esforçar o suficiente consegue alcançar os seus objectivos. Se não se esforçar, a mão protectora simplesmente não existe.
Segundo, e uma consequência dessa forma de estar responsabilizadora, quando algo corre mal, a culpa não é sempre do Estado. A vida nem sempre corre bem. Nos Estados Unidos, procuram-se soluções práticas para os problemas, não quem é o culpado, ou a cor das cuecas do vizinho. Uma das grandes vantagens de uma sociedade orientada para a individualização é que se olharmos só para o nosso umbigo, conseguimos concentrar-nos nos nossos objectivos e aplicar grande parte da nossa energia naquilo que é realmente importante.
Terceiro: economicamente, se o Estado transmite aos seus cidadãos a mensagem que as coisas não são grátis, como é o caso dos Estados Unidos, consegue curiosamente ajudá-los mais do que a oferecer-lhes o que quer que seja. Se não existe a necessidade de realizar tanta receita é possível não cobrar tantos impostos e ao mesmo tempo orientar o investimento para o que realmente interessa (sabemos que nos últimos anos este investimento tem sido orientado para guerras intestinas no Médio Oriente, mas isso são contas para outro post).

Conclusão: Obama quer incutir uma espécie de socialismo na América. À primeira vista, a ideia de garantir aos que mais precisam, acesso a cuidados de saúde, tem o nosso apoio incondicional. Mas, nada é grátis. Daí toda a revolta, num país que entende que cada um, é responsável pela sua própria factura.

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