Saturday, August 22, 2009

A Falésia

Este episódio, onde tristemente faleceram 5 pessoas, que por sinal, passavam férias no Algarve, é à parte da evidente tragédia, também a tradução da nossa estupidez enquanto povo no que às regras e recomendações diz respeito. Como é sabido, a zona estava identificada como sendo perigosa, mas mesmo assim, as pessoas insistiram em utilizá-la.

O povo português tem uma relação estranha com as autoridades e com as mensagens que as mesmas lhe enviam; obedecemos cegamente ao Dr. Salazar anos a fio, e agora desobedecemos cegamente a todas as entidades conhecidas. Vamos para baixo das falésias, para penhascos praticar pesca (já morreram uns quantos também), bebemos quando conduzimos, aceleramos até não dar mais nas estradas, fazemos ultrapassagens perigosas, em contra-mão ou em curvas, quanto maior o perigo melhor. E fazemos isto tudo porquê? Porque sabemos que as consequências dos nossos actos têm pouca ou nenhuma repercussão. Pagamos umas multas, ou não as pagamos de todo, porque o nosso sistema judicial é uma porta aberta ao chico-espertismo e as coisas vão andando. Se acontecer alguma coisa é fácil: a culpa é do Estado. E se o Estado usar da força para nos proibir de comportarmo-nos como crianças rebeldes podemos sempre chamar os meios de comunicação social que tão facilmente agitam a bandeira do fascismo em qualquer oportunidade.

Existem actualmente dois inimigos públicos em Portugal: a Brigada de Trânsito e a ASAE. Os primeiros são acusados de caça à multa. O problema afigura-se simples: se as pessoas cumprirem as regras não há alegada caça à multa que resista.
A ASAE, imagine-se, cumpre directivas europeias, obrigando alguns costumes (como as bolas de berlim com creme nas praias) a verem um fim, e vem o povo revoltado dizendo que é um exagero este tipo de actuação, e de novo, a ladainha fascista. A verdade é que um qualquer doutor - à boa maneira portuguesa - conseguiu encontrar uma falha na forma como a ASAE foi criada pelo governo e será provavelmente declarada inconstitucional e grande parte dos seus actos poderão provavelmente ser revogados e os visados recompensados pelas suas badalhoquices.

Já alertei que o problema de Portugal é tanto dos governantes como dos governados. Temos uma sociedade civil fraca, que toma decisões fracas. Os erros e as más decisões têm que ser pagas mais cedo ou mais tarde. Algumas vezes e de forma triste.. com a vida.

Não me admira que neste caso nenhum estrangeiro faça parte da lista de vítimas. Estrangeiros dessa longínqua Europa, cumpridora de regras e com níveis de vida dignos de seu nome. Recordando um culto e engraçado comparsa: "A Europa meu amigo.. acaba nos Pirenéus"

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