Sunday, June 15, 2008

Paralelismos - Parte II

Escrevi o seguinte texto há uns dias atrás em papel e aproveito agora para o reproduzir:

Estou cansado como a merda. Acabo de chegar à cama e parece que é mentira. Estranha expressão/sensação esta. A dada altura do dia só pensava na cama e em ir descansar; quando chego à cama acho que é tudo treta. Paradoxo meio parvo este. Porque é que não somos capazes de aceitar aquilo por que buscámos o dia todo? O mesmo para algumas paixões. Queremos muito, muito aquela rapariga. A dada altura, a paixão é correspondida. "Vivo num sonho, isto até parece mentira." Mas que porra? Não querias a gaja? Ela não está contigo?

Lembro-me agora de um filme em que o jovem actor dizia num tom sapiente "Olhas tanto para trás que não consegues ver o que está à tua frente" Parece-me que o sucesso passa por olhar para o passado nem de uma forma muito insonsa, nem com demasiado sal. Acho até que o homem quando se sente feliz é precisamente em alturas de perfeito, ou quase perfeito equilíbrio. Não me parece que os bem sucedidos sejam aqueles que pura e simplesmente tiveram sorte. São provavelmente os que conseguem manter-se "equilibrados" por um considerável período de tempo. Pegando nesta ideia e observando os eficazes sistemas de produção fabril - considerados embrutecedores - chego à conclusão que são uma resposta ao natural desiquilibrio humano. O mesmo ser humano que quer uma vida cheia de conforto e cifrões na conta é o mesmo que nasce com doses consideráveis de inércia. O patronato será só sedento por dinheiro ou nasceu com outro tipo de programação? Já não sei bem, sinceramente, se foi o capitalismo que criou estas terríveis clivagens tão propagandeadas. E se simplesmente, algumas pessoas não querem trabalhar ou produzir o suficiente? E se essa motivação tiver uma origem genética?

No desporto, por exemplo, criticam-se os altos ordenados, visto que a maior parte dos atletas - em especial os do futebol - têm graus de instrução baixíssimos e níveis de cultura geral a roçar o de algumas galinhas. A verdade é que esta gente levanta o cu da cama às 7h00 todos os dias, correm vários quilómetros, não comem o que lhes apetece e pior ainda, não vão para a cama com a mulher quando bem entendem. O treinador até na sopa manda vejam bem. Outra verdade é que têm índices de produtividade e eficácia altíssimos que de resto se reflectem a breve trecho na conta bancária. Lembro também que a maior parte desta gente se dedica à sua profissão praticamente desde que começou a caminhar.

Os senhores da indústria decidiram então criar sistemas em que as pessoas não precisem de pensar e em que 80% ou mais do lucro obtido se dirija para quem perdeu horas a fio a pensar no tal sistema cruel. Quer deixar de ser explorado? Comece a pensar.

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