Tuesday, August 3, 2010

O Fundamentalismo


Dizia um opinador há meses atrás, que o fundamentalismo era o grande problema do nosso tempo. Eu vou mais longe, digo que é e foi o problema de todos os tempos. A conotação que abrange este conceito está tradicionalemente associada a movimentos religiosos e políticos, contudo, e em muitas vertentes, vai muito além das grandes questões que dividem os homens.

As convicções que o fundamentalismo consigo traz, já nos presentearam com guerras, matanças e outras simpatias que a Humanidade se lembrou de criar.

Num primeiro plano - mais abstracto - alguém que não seja fundamentalista não é levado a sério. Ensinam-nos de certa forma, que devemos defender as nossas convicções e opiniões; qualquer pessoa concorda com isto, as nossas opiniões devem ser defendidas com veemência. Será? É exactamente este fenómeno de clausura cerebral que conduz ao fundamentalismo bacoco. Para nós estarmos certos relativamente a uma convicção (e sublinhe-se, uma convicção não é uma verdade absoluta, como um mais um ser dois) alguém tem de estar errado. É a partir desta fricção que resultam os mais hediondos comportamentos que o Homem consegue apresentar.

É assim, porque de outra forma, uma pessoa que não seja "convicta", é acusada de ser incoerente, sem ideias, contraditória e por aí fora. O que será de um sujeito que defende por exemplo, a dinâmica do liberalismo e a importância do Estado Social? A crise de 2007 curiosamente trouxe para a praça este interessante fenómeno: governos de direita conduzindo os países pela faixa da esquerda. A culpa das circunstâncias assim o ditou e até à data, nenhum governo caiu por assim proceder.

Não será mais sensato deixar um espaço (pequeno que seja) para aceitar outros pontos de vista sem perder a essência dos valores em que acreditamos? É mais difícil viver assim é um facto, vivemos mais desasossegados neste estado permanente de nos questionarmos se estamos certos ou errados, mas não deixa de ser uma forma mais tolerante e mais salutar de viver e que conduz a mais diálogo e a menos fricção.

Um exemplo contemporâneo daquilo a que chamo o micro-fundamentalismo. É frequente entre as diferentes tribos sociais, discriminar aqueles que não fazem parte do dito grupo com base em argumentações serôdias, como a música que determinada pessoa ouve, a roupa que alguém veste ou o local onde faz férias. Assume-se de forma peremptória, que aquela pessoa não deve ser boa pessoa, ou que não nos identificamos com ela e não merece o nosso tempo porque traz consigo vestida, uma blusa encarnada e um lenço azul e vai de férias para Málaga. Sim, por vezes, é estúpido a este ponto, ainda assim, acontece com frequência.

Fazendo a transposição para os nossos profundos valores, como a existência de um Deus ou um sistema político, temos o caldo montado para a construção de uma sociedade patética.

Enquanto fomos capazes de evoluir no sentido do conforto, fomos incapazes de identificar a estereotipação do indivíduo como um dos grandes males da sociedade.

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