Wednesday, March 31, 2010

Educação e Crescimento


O Banco de Portugal divulgou no seu boletim de Primavera, entre as más notícias de revisão em baixa de vários indicadores económicos, um estudo sobre o retorno económico que o investimento em educação representa, quer para a sociedade, quer para a economia. Tal como todos os outros estudos efectuados sobre esta matéria, mais uma vez se chegou à conclusão que quanto maior for o grau de habilitações, maior é o rendimento auferido pelo indivíduo. O ordenado médio de um não licenciado era em 2006 de 805 euros enquanto que o de um licenciado era de 1625 euros. Naturalmente, os indivíduos que têm ordenados mais elevados, têm maior poder de compra, representando uma mais valia para a economia.

Comparando estes números com os de outros países, rapidamente se compreende que o grau de escolarização de um povo está directamente relacionado com o seu desenvolvimento económico. O mesmo estudo refere que a actual distribuição educacional da população activa em Portugal é a mesma que os EUA tinham nos anos 30 do século XX. Os dados divulgados cruzam ainda mais variáveis que reforçam estas ideias.

Em Portugal, por outro lado, existe um argumento disseminado e devidamente amplificado pela comunicação social: tirar um curso para quê? Obviamente, por todos os motivos que referi acima, tirar um curso, continua a significar menos tempo desempregado e rendimentos mais elevados.
Nesta fase da conversa entra o argumento dos milhares de licenciados desempregados. Concordo, é negativo (o número devia ser substancialmente inferior), contudo, devo de novo sublinhar que no último trimestre de 2009 encontravam-se desempregadas 563,3 mil pessoas. Deste bolo, na fatia dos licenciados cabiam 55 mil pessoas. 9.76% do bolo total de desempregados portanto, significando então (e desculpem a verdade de La Palisse) que 90.24% dos desempregados não têm um curso superior. Perante esta disparidade evidente, parece-me razoável afirmar, que não ter curso superior, significa maior probabilidade de desemprego.

De seguida, o argumento call center. Muitos licenciados, apesar de ter trabalho, têm trabalhos que nada têm a ver com as suas habilitações e são regra geral, mal remunerados. Nesta fase, concordo com os que dizem que a economia não tem capacidade de assimilar todos os licenciados. Sabemos que Direito e Arquitectura são áreas saturadas com dificuldade em colocar recém-licenciados no mercado de trabalho correspondente. Soluções? Crescimento. A economia precisa de se desenvolver, renovando continuadamente o tecido empresarial, que por sua vez, necessitará de pessoal qualificado para se manter competitivo. Menos licenciados e menos qualificação significa que as empresas continuarão a ser dirigidas pela iliteracia e que o seu desenvolvimento ficará para sempre comprometido.

Esqueçam a história do senhor que tinha a quarta classe e ficou rico. Não é que não aconteça, mas entre todos os que têm a quarta classe representa uma quantidade ínfima - em 2006, o salário médio dos que tinham apenas quatro anos de escolaridade era de 588 euros.

Os caminhos poderão ser muitos, mas nunca menos escolaridade ou menos habilitações. A educação é um pilar do desenvolvimento económico-social desde que o homem se conhece. Quem detém mais conhecimento, ganha a corrida. Concluo concordando com os autores do documento que referi, eu também, não tenho conhecimento de nenhum país desenvolvido que não invista em educação. Porque será?

Estudar, continua a valer a pena.

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