Wednesday, March 31, 2010
Educação e Crescimento
O Banco de Portugal divulgou no seu boletim de Primavera, entre as más notícias de revisão em baixa de vários indicadores económicos, um estudo sobre o retorno económico que o investimento em educação representa, quer para a sociedade, quer para a economia. Tal como todos os outros estudos efectuados sobre esta matéria, mais uma vez se chegou à conclusão que quanto maior for o grau de habilitações, maior é o rendimento auferido pelo indivíduo. O ordenado médio de um não licenciado era em 2006 de 805 euros enquanto que o de um licenciado era de 1625 euros. Naturalmente, os indivíduos que têm ordenados mais elevados, têm maior poder de compra, representando uma mais valia para a economia.
Comparando estes números com os de outros países, rapidamente se compreende que o grau de escolarização de um povo está directamente relacionado com o seu desenvolvimento económico. O mesmo estudo refere que a actual distribuição educacional da população activa em Portugal é a mesma que os EUA tinham nos anos 30 do século XX. Os dados divulgados cruzam ainda mais variáveis que reforçam estas ideias.
Em Portugal, por outro lado, existe um argumento disseminado e devidamente amplificado pela comunicação social: tirar um curso para quê? Obviamente, por todos os motivos que referi acima, tirar um curso, continua a significar menos tempo desempregado e rendimentos mais elevados.
Nesta fase da conversa entra o argumento dos milhares de licenciados desempregados. Concordo, é negativo (o número devia ser substancialmente inferior), contudo, devo de novo sublinhar que no último trimestre de 2009 encontravam-se desempregadas 563,3 mil pessoas. Deste bolo, na fatia dos licenciados cabiam 55 mil pessoas. 9.76% do bolo total de desempregados portanto, significando então (e desculpem a verdade de La Palisse) que 90.24% dos desempregados não têm um curso superior. Perante esta disparidade evidente, parece-me razoável afirmar, que não ter curso superior, significa maior probabilidade de desemprego.
De seguida, o argumento call center. Muitos licenciados, apesar de ter trabalho, têm trabalhos que nada têm a ver com as suas habilitações e são regra geral, mal remunerados. Nesta fase, concordo com os que dizem que a economia não tem capacidade de assimilar todos os licenciados. Sabemos que Direito e Arquitectura são áreas saturadas com dificuldade em colocar recém-licenciados no mercado de trabalho correspondente. Soluções? Crescimento. A economia precisa de se desenvolver, renovando continuadamente o tecido empresarial, que por sua vez, necessitará de pessoal qualificado para se manter competitivo. Menos licenciados e menos qualificação significa que as empresas continuarão a ser dirigidas pela iliteracia e que o seu desenvolvimento ficará para sempre comprometido.
Esqueçam a história do senhor que tinha a quarta classe e ficou rico. Não é que não aconteça, mas entre todos os que têm a quarta classe representa uma quantidade ínfima - em 2006, o salário médio dos que tinham apenas quatro anos de escolaridade era de 588 euros.
Os caminhos poderão ser muitos, mas nunca menos escolaridade ou menos habilitações. A educação é um pilar do desenvolvimento económico-social desde que o homem se conhece. Quem detém mais conhecimento, ganha a corrida. Concluo concordando com os autores do documento que referi, eu também, não tenho conhecimento de nenhum país desenvolvido que não invista em educação. Porque será?
Estudar, continua a valer a pena.
Saturday, March 27, 2010
No meu tempo
Sempre que atravessamos fases difíceis em matéria económica e/ou social, uma série de vozes se levantam contra os que se insurgem contra o estado actual do país, baseando-se no facto de que no seu tempo, as coisas eram bem piores. Diz-nos a história, a maior parte dos problemas que hoje são de simples resolução, há alguns anos atrás tinham consequências gravíssimas. Mesmo no mundo considerado desenvolvido, não é preciso ir muito atrás no tempo para encontrar esperanças médias de vida a rondar os quarenta anos e pessoas jovens a morrer de situações banais, como uma gripe ou uma simples infecção. A ciência foi providenciando soluções que permitem contornar estes problemas e que oferecem às populações mais qualidade de vida e conforto. Como tal, as últimas gerações, crescendo neste ambiente evolutivo mais premente, subiu os seus parâmetros de qualidade e exigência relativamente a uma série de aspectos, os quais, não sendo correspondidos, resultam normalmente em manifestações de indignação e crítica. É nesta fase, que surgem aqueles que vêm relembrar que no seu tempo, um determinado tipo de problema tinha consequências bem piores. Citando um exemplo: "Crise? Sabem lá vocês o que é crise! Era um bocadinho de pão e azeite e já gozava."
Correndo o risco de ferir algumas susceptibilidades, considero este argumento absolutamente infundado.
Em 1974 a vida era de facto pior em Portugal, em 1933 ainda pior, em 1910 pior ainda, em 1755 então nem se fala, na Idade Média a Peste matava tudo por onde passava e já agora, no ínicio do nosso calendário, os romanos crucificavam pessoas. O que quero ilustrar basicamente, é que no passado as coisas eram de facto piores, sobre isso, não há nada a refutar e as pessoas que passaram por essas dificuldades merecem toda a minha consideração e respeito. Não se pode é utilizar este argumento para justificar o estado decrépito a que algumas situações chegaram. O mundo em que vivemos ensinou-nos o contrário: com o passar do tempo, vamos aprendendo e a nossa condição vai melhorando, é este - de acordo com alguns dicionários - o significado de civilização: o resultado dos progressos da humanidade na sua evolução social e intelectual.
O passado serve para corrigir os nossos erros e fazermos melhor, não para atenuar a irresponsabilidade do presente.
Thursday, March 25, 2010
O tempo, com menos daquilo
Não vejo cinema a preto-e-branco. Não compro livros aconselhados pela elitista crítica. Não oiço música que a minha bisavó ouvia. Não uso os óculos escuros que o meu pai usava. Não uso óculos a não ser que realmente precise deles. Não deixo a barba crescer. Não uso bigode. Não uso brincos. Não uso piercings. Não tenho tatuagens. Não uso fato com ténis. Não bebo vinho num bar. Não uso t-shirts que ninguém percebe o que é que está lá escrito. Não mostro as cuecas em público. Não mudo a cor do meu cabelo. Não depilo nenhuma parte do meu corpo. Mas.. deixei de ver futebol. Estou no bom caminho.
De quem é este discurso?
De quem é este discurso?
Friday, March 19, 2010
Alienação
Vivemos num País onde o Estado actua de forma pesada sobre praticamente todos os aspectos da nossa vida. É uma herança da Revolução de Abril, e só não é mais grave, ironicamente, por culpa do próprio Estado, que se especializou em fazer investimentos sem retorno para a economia. Vendo o défice a subir e os credores a dizer que é preciso ter cuidado senão a festa acaba mais cedo, o Estado é obrigado a vender participações que tem em empresas (o que até considero positivo), desmaterializando assim, a sua asfixiante presença - a propósito, em 2011, teremos mais disto.
A população em geral, distante e alienada do que se passa à sua volta, concentrada no sensacionalismo e formando a sua opinião com base em telejornais piores que um folhetim de século dezoito, considera que a não presença do Estado na economia significa o abominável fim das suas vidas.
Esta relação paternalista, onde normalmente a exclusividade da culpa é atribuída ao Estado, tem grande parte da sua força na sociedade. Vivemos em tempos democráticos, votamos em quem queremos, e ao que parece não existe manipulação eleitoral. Nós elegemos os nossos líderes sem ter uma pistola apontada à cabeça. O problema é que tomamos essa decisão e discutimos o tema atribuindo-lhe a mesma importância de um jogo de futebol. Aliás, há jogos de futebol mais importantes que votações democráticas.
A prova viva desta alienação quase colectiva (que conduz a uma desresponsabilização individual em todas as áreas) é a qualidade de intervenção do cidadão anónimo. Perca dez minutos (sim porque vai perde-los, desde já aviso) do seu tempo a ler as caixas de comentários na internet de uma publicação de circulação considerável (Público, Expresso, etc..). Não havendo estudos sobre a matéria (que eu conheça pelo menos), da minha experiência concluo, que a maior parte da opinião expressa nestes locais, baseia-se na generalização simples e patética, vagueando entre redundâncias e disparates. Uma ou outra vez, a coisa termina em troca de insultos.
Identifiquei um motivo que me parece válido e que justifica este problema de opinião (que degenera depois numa participação cívica medíocre): naturalmente, as pessoas gostam de falar sobre os mais diversos temas e ter uma opinião. Mesmo que não saibam bem do que estão a falar. Os meios de comunicação social, que precisam de audiências para (sobre)viver, compreenderam muito bem esta dinâmica. Utilizam esquemas nas mensagens que transmitem, permitindo ao leitor/telespectador formar uma opinião de forma rápida. É uma espécie de curso intensivo diário. A pessoa chega ao fim, sente-se informada, mas na verdade, não consegue argumentar sobre praticamente nenhum assunto que acabou de ouvir ou ler. Pelo menos, de forma construtiva, não sendo de admirar portanto, o constante bota-abaixo que corre o País de norte a sul.
Dois exemplos concretos.
Há algumas semanas a maior parte dos jornais e telejornais veiculou este título: "Taxa de juro para empréstimos à habitação mais cara"
O anónimo cidadão, habituado a tirar conclusões rápidas e erradas, concluiu de imediato que a taxa Euribor tinha acabado de subir e que iria pagar um valor maior de prestação mensal ao seu banco no final do mês. De seguida, o mesmo cidadão, desinformado e alienado, começa a falar mal dos bancos, do governo, do poder de compra, do ordenado baixo e por aí fora. Na realidade, este título referia-se aos novos empréstimos, ou seja, às pessoas que vão pedir novos empréstimos para comprar casa, nas mesmas condições das pessoas que compraram casa há um ano, ser-lhes-à atribuído um spread mais alto. Repare como um simples título, consegue subverter a ideia original - e verdadeira já agora - despoletando uma indignação virulenta por parte do leitor/telespectador passivo, que nem sequer é afectado pela matéria em causa.
O outro exemplo tem menos de vinte e quatro horas: "PJ faz buscas à PJ"
Como pode reparar o título indicia uma aura de desorganização. O cidadão alienado que eu atrás referia, de imediato se ri, abana a cabeça e termina a sua detalhada análise com a famosa frase (que devia ser banida) "Só neste País". Está plenamente convencido que as instituições funcionam mal e que por algum motivo estranho a polícia faz buscas à polícia. Pensa se calhar que os colegas do primeiro andar fizeram buscas no segundo andar ou coisa que o valha. Neste exemplo, a notícia refere-se a uma ordem dada por um juiz no âmbito do caso Face Oculta que suspeitou existirem fugas de informação a partir de um departamento da PJ. Se é a própria PJ o órgão responsável por conduzir buscas, terá que ser a própria a fazê-lo, ainda que isso signifique investigar uma parte das suas instalações. Isto é banal em muitos países, e alguns deles, como é o caso dos Estados Unidos têm departamentos dedicados exclusivamente à investigação dentro de portas, os Internal Affairs.
As pessoas têm legitimidade para expressarem o seu desagrado, mas enquanto não o fizerem de uma forma séria e construtiva, ninguém as levará a sério, leia-se, os nossos políticos.
Esta formação de opinião baseada em parangonas, leva os nossos decisores a pensar que têm carta branca para fazer o que bem lhes apetecer. Se as pessoas não compreendem verdadeiramente a essência dos problemas e daquilo que está em causa, não conseguem tomar decisões minimamente fundamentadas.
O aumento da qualidade do nível de vida fica assim dependente do nível generalizado de esclarecimento.
Tuesday, March 16, 2010
Limites
A sociedade evoluiu. Apesar de todas as imperfeições que rodeiam os pilares que sustentam este tempo em que vivemos, podemos dizer com segurança, que o ser humano (em algumas partes do globo) e a forma como se relaciona quer com o meio, quer com outros seres humanos, conheceu uma distinta evolução nas últimas décadas.
Em termos de incumprimento de regras e respectiva punição por exemplo, demos um salto do absolutismo para o relativismo, que trouxe consigo a compreensão, o lado humano das coisas e a segunda oportunidade. Neste âmbito, posso também julgar com certeza, que o sistema de penalização legal português é por todos conhecido como sendo injusto: é caro, brando nas penas que aplica e dado a minudências que permitem aos culpados fugir às suas responsabilidades e deixar o apuramento da verdade perdido algures num arquivo. É nesta altura que chegamos à palavra que dá título a este texto: os limites, ou seja, o que é sensato.
Ficamos revoltados quando vemos um poderoso escapar à Justiça depois de ter desviado milhões de euros. Mas muitos de nós ficariam também revoltados se se mandasse cortar a mão a um toxicodependente por este ter assaltado um automóvel. Queremos castigos, mas não somos bárbaros (apesar de alguns continuarem a julgar que o sistema medieval é o melhor sistema).
Contudo, não se deve confundir evolução social com brandura. Recentemente, um pedófilo e um violador foram apanhados pelas autoridades. Um abusava de crianças enquanto desempenhava as suas funções de monitor de uma colónia de férias, o outro, é o badalado violador de Telheiras. Vejo com alguma apreensão, a forma como alguma comunicação social tem transmitido o desenvolvimento destes casos: o pedófilo é apresentado como uma pessoa doente, com uma patologia que não se cura assim sem mais nem menos, e que portanto merece toda a nossa bondade e compreensão. Uma criança é um ser que não tem qualquer defesa. É facilmente manipulável, não distingue bem se o que lhe estão a fazer é certo ou errado e sabemos que os traumas que dali resultam ficam para o resto da vida. Para além disso, o crime de pedofilia consegue ser mais grotesco que o da violação: enquanto que numa violação a vítima é obrigada a ter relações (por si só algo já hediondo), a pedofilia implica um jogo de manipulação, de construção de confiança com a criança, levá-la a praticar aqueles actos como se estes fossem da sua vontade. Toda esta premeditação deve ser ponderada para lá do elemento patológico. Uma coisa é um esquizofrénico esfaquear um inocente porque uma voz lhe disse que aquela pessoa constituía um perigo (também condenável, mas compreensível no âmbito da sua doença). Outra é seduzir uma criança ou um adolescente horas a fio num chat com o intuito de abusar sexualmente dessa pessoa. A loucura não pode servir para desculpar tudo.
Se como clamam os ultra-humanistas (que o são apenas até o azar lhes bater à porta), que o problema destes senhores é mental, ou seja, os seus ímpetos sexuais por muito que sejam contrariados irão sempre incidir sobre crianças, devemos então fazer o que for necessário para impedir estas pessoas de viver em sociedade. Trancá-los para sempre, que seja. Se nenhuma das ciências à disposição do Homem consegue garantir que um tipo destes depois de estar dez anos preso, vá reincidir em actos da mesma natureza, pois que esperem trancados por uma avaliação correcta.
Admira-me imenso confesso, as nossas concepções portuguesas sobre distintos ideais, como o da liberdade. Por um lado, o mínimo episódio que coloque em causa a nossa liberdade de expressão ou opinião, é atacado com a ferocidade digna de um revolucionário (a recente lei da rolha no PSD por exemplo). Por outro lado, quando chega a altura de defender uma liberdade básica, o direito de não ser violado ou abusado, muitas pessoas refugiam-se no problema mental dos agressores para justificar penas de prisão brandas. Algo contraditório?
O direito de uma criança viver a sua vida em segurança deve sobrepor-se ao direito de um tipo ser doente mental. A nossa compreensão deve ser dirigida aos mais fracos primeiro, este também, um dos pilares da nossa civilização. E uma criança é um ser mais indefeso que um alegado doente mental, que planeia e premedita o seu crime ao milímetro.
Enquanto a sociedade insistir nesta abordagem, a evolução do absolutismo para o relativismo que eu elogiava no início, corre o risco de ficar presa numa ditadura relativista, onde os crimes sobre os mais fracos, ganham um estatuto de crescente compreensão no que aos agressores diz respeito. As vítimas serão sempre, o lado mais fraco da equação.
A evolução social, depende não só da nossa flexibilidade e compreensão, mas também, daquilo que nos recusamos a aceitar. Qual é o seu limite?
Sunday, March 14, 2010
Saturday, March 13, 2010
A importância das alternativas
Dizia eu a um amigo há pouco tempo, que assim que o PSD se clarificasse a propósito do Congresso que agora decorre e das directas de dia vinte e seis, surgiria finalmente uma alternativa às políticas massivas de investimento público. Ele riu-se e disse-me que era só mais do mesmo, eu que não me entusiasmasse muito.
Daquilo que assimilo das pessoas que não ligam muito a política, mas que votam e fazem portanto parte da escolha dos destinos do País sempre que há eleições, concluo que continuam a votar PS porque simplesmente, não existe alternativa viável, que inspire confiança suficiente e que permita ver às pessoas o que é um futuro melhor. Apregoar por exemplo, que os portugueses merecem a verdade não é suficiente para inspirar confiança nas pessoas. O comum dos mortais, mete os políticos todos no mesmo saco e verdade cavalheiros e donzelas, não é território que possa ser reclamado por qualquer partido. Sejamos honestos naquilo que reclamamos. E inteligentes já agora. Sabe-se que os programas de direita defendem a liberalização do mercado e uma intervenção reduzida do Estado na economia, não esperem ganhar eleições apregoando o fim dos subsídios, mesmo que a intenção seja fazê-lo. Hoje em Portugal, a sociedade viciada em suporte estatal, não está preparada para a passagem da subsidiodependência para a força da iniciativa individual absoluta. E isto não acontece apenas nos estratos sociais com menos educação. Veja-se no campo das artes, o cinema nomeadamente, que clama constantemente subsídios ao Estado, não compreendendo que é na sua independência financeira, ou seja, com base no seu real sucesso e não insuflado por um qualquer apoio financeiro governamental, que reside a solução para a disseminação do seu sucesso.
A minha preocupação: aquele que é apontado como o provável vencedor - Pedro Passos Coelho - tem um discurso altamente liberal, anti-subsídios designadamente como foi o caso do discurso de hoje, o que é de resto natural, o homem é de direita. Contudo, como referi em cima, os que votam, não votam em menos subsídios. Apesar de eu concordar em pleno com uma intervenção menor (consideravelmente menor) do Estado na sociedade, a transição deve ser gradual, sob pena de outra forma, nem sequer se iniciar.
Wednesday, March 10, 2010
Random Sentences
Cansado do processo de descoberta preguiçoso, patético e desconcertante que carrega algumas almas.
Tuesday, March 9, 2010
Pacto, programa?
Do Programa de Estabilidade e Crescimento - assim se chama - destaco dois pontos:
- Em primeiro lugar, as medidas utilizadas para reduzir o défice são indispensáveis; apesar de alguma opinião insistir na teoria de haver vida para além do défice, a realidade é que com um défice alto, o nível de possível incumprimento é maior e o dinheiro que pedimos emprestado ao exterior é muito mais caro. Para se ficar com uma ideia, a Grécia vai pagar pelo refinanciamento da última emissão de dívida quando esta atingir a maturidade, um juro de 6.25%. Portugal, actualmente emite dívida a 2.5%. Alto défice, dinheiro mais caro, ou na pior das hipóteses, os mercados não compram estes títulos de dívida e ficamos sem dinheiro para refinanciar a mesma e consequentemente, para prestar serviços básicos à população (que recorde-se, paga impostos).
- A segunda ideia, é a habitual carga de demagogia, transversal a todos os partidos. Apesar de ser o PS a apresentar o PEC, o PSD no passado fez o mesmo, quando a Dra. Ferreira Leite vendeu dívida ao Citybank para baixar o défice, vangloriando-se depois de um feito sobre o qual, ainda hoje pagamos juros. Não há inocentes nesta parada. Ainda assim, é importante salientar as não verdades, para não lhe chamar outra coisa: dizem que só há aumento de impostos para o escalão que declara mais de 150.000 euros/ano. Caso não saiba, fica a saber, só 1% dos contribuintes se encontra neste escalão. Para além disso, dizer que os impostos só aumentam para estas pessoas é no mínimo divertido: os benefícios para todos os escalões vão ser reduzidos, não aumentam os impostos, diminuem os benefícios, chamem-lhe o que quiserem, ficamos com menos dinheiro.
Conclusão: estas medidas são necessárias. Não há outro caminho. Contudo, é apenas o início. O défice com este plano, baixa em 2011 para 8,2%. A meta é 3% em 2013. Esperam-se portanto, mais medidas severas nos próximos Orçamentos de Estado. Considero sinceramente que o País será capaz de cumprir a meta dos 3%. As minhas dúvidas residem antes na decisão que cada um vai tomar nas próximas eleições. A memória dos eleitores portugueses para estas coisas, costuma ser.. limitada.
Saturday, March 6, 2010
Whatever Works
"Ahh.. get the hell out of here, in America they have summer camps for everything. Rich kids, basketball camps, magic camps, tennis camps, movie director camp. They should have a concentration camp! Two weeks mandatory for all kids growing up, so they could understand what human race is capable of."
Excerto do filme Whatever Works de Woody Allen.
Muito bom, vejam.
Detalhes..zecos
Existe uma paranóia colectiva em Portugal com detalhes; isto não constituiria um problema se esses detalhes fossem relevantes. Existe até uma conhecida expressão, Deus está nos detalhes (alguns dizem que se deve dizer que é o Diabo, fica à sua consideração), aludindo à importância das partes que formam um todo. Naturalmente, algumas partes são importantes e devem ser discutidas, outra não são importantes e podem também ser discutidas, mas no devido tempo e nos devidos locais, sob pena de não se falar sobre o que é importante.
Há vários exemplos do que é a subversão deste princípio: José Sócrates sempre que vai em visita oficial ao estrangeiro faz jogging de manhã. A notícia, independentemente do veículo que é utilizado para a transmitir, fá-lo de uma forma jocosa. Não entendo, sinceramente, qual é o problema do homem se pôr a correr e incentivar as pessoas a praticarem exercício físico. É um detalhe que pode ser discutido, contudo, no devido tempo e nos locais apropriados (revistas cor-de-rosa por exemplo).
Hoje mesmo saiu o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC). Do pouco que vi, serão reduzidos alguns benefícios fiscais, aumentarão os impostos para a banca e ao que parece, teremos de novo privatizações. Que importância foi dada no primeiro minuto? O facto do governo recorrer a uma multinacional de relações pública para melhor conduzir o processo de apresentação do programa. Temos que reduzir o défice a ferro e fogo e o que ouço na televisão é uma KG qualquer coisa que calendarizou a data de apresentação do PEC. Mais um detalhe.
Ainda sobre detalhes, estes de incoerência: no último post, critiquei aqueles que na Função Pública protestam na rua e depois votam nas mesmas caras (a troco de aumentos salariais irresponsáveis) a quem meses antes apelidaram de ladrões. Hoje no Público, vejo que um investigador, Luís de Sousa, apresentou um estudo onde se conclui que 63% da população portuguesa tolera a corrupção desde que daí resultem efeitos benéficos para o bem geral. Se quase dois terços da população acha que ser corrupto em determinadas circunstâncias não tem problema nenhum, que moral têm para criticar os políticos? Mais, se toda esta gente pensa assim, a probabilidade de termos decisores a pensar da mesma maneira é altíssima, que conduz inevitavelmente aos episódios que vamos presenciando.
A qualidade da classe política depende em larga escala da pressão que a sociedade consegue exercer sobre ela. Neste capítulo, temos falhado redondamente. Enquanto a classe política compreender que não existem consequências para as suas práticas lesivas e que a maior parte da população vive num estado de alienação permanente, pouco ou nenhum esforço farão para mudar. Eles próprios, e o País.
Friday, March 5, 2010
Merecer?
Ciranda por aí uma ideia, a partir da qual se pretende legislar, no sentido de punir as familías que não acompanham devidamente a educação dos seus filhos, nomeadamente o seu desempenho, comportamento e conduta escolar.
Isto leva-me a pensar no estado em que vivemos e como é que aqui se chegou. Para algo acontecer existe sempre mais do que um motivo, contudo - e normalmente - um motivo será mais preponderante e mais saliente do que outros. Nos últimos trinta anos, o poder político foi transmitindo de uma forma errada à população quais eram os seus direitos e quais eram os seus deveres.
Mal no caso dos direitos, porque uma grande franja da população está convencida de que tem direitos, significando isto, que devem lutar por esses pretensos direitos, ultrapassando tudo e todos e levando até ás últimas consequências aquilo que se apelida de luta. Um exemplo recente: ontem mesmo, tivemos uma greve geral da função pública, por melhores condições e melhores salários. Precisamos de reduzir o défice para 3% até 2013, ou seja, dez mil milhões de euros por ano. O argumento dos cidadãos plenos de direitos, é que se deve ir aos bolsos dos ladrões resgatar esse dinheiro. Estes mesmos injustiçados cidadãos, em época de eleições, votam nos tais ladrões, porque sabem que eles cedem em caso de protesto. És ladrão, mas se me deres o que eu quero, eu tolero-te.
Relativamente aos deveres, o trabalho feito é bem pior que no caso dos direitos, apesar de estar com eles relacionado: como o cidadão tem direitos inalienáveis e fechados a sete chaves num cofre, os seus deveres por sua vez, não passam de uma figura escrita em papel. E melhor, a maior parte dos nossos maus comportamentos podem ter o Estado como culpado: contraímos seis créditos e temos a vida virada do avesso. O Estado deve proteger melhor os consumidores. Temos um acidente de automóvel, o arranjo do carro são 3.000 euros. A culpa é nossa e o seguro não paga. O Estado deve proteger melhor os consumidores. Bem sei que o sector da banca e dos seguros são tudo menos vítimas, mas também não torcem o braço a ninguém para vender um cartão de crédito ou um seguro de vida. Chegamos então ao assunto inicial, as escolas. Existe uma ideia generalizada, que é responsabilidade das escolas educar os filhos dos outros e certificarem-se que passam de ano. Os pais, nos últimos anos, foram demitidos de educar os seus filhos. Chegou-se mesmo ao estranho tempo - este - em que as repreensões a alunos podem resultar em agressões (dos pais!) aos professores.
O caminho para um país diferente passa naturalmente por melhores políticos. Contudo, só os conseguimos obter formando pessoas melhores. Um passo - inevitável - é a atribuição de culpas e responsabilização do nosso estado actual, não exclusivamente aos outros, mas também e serenamente, a nós próprios.
Tuesday, March 2, 2010
Random Sentences
O nosso esforço, apesar de hercúleo, pode não ser suficiente para alterar a crónica e irreparável estupidez de algumas pessoas.
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