Sunday, February 14, 2010

Indignação de capote


Miguel Portas no último Sol, marcado pela capa do polvo, questiona na sua habitual coluna porque raio o défice deve baixar para 3% e porque é que o nível de endividamento deve rondar os 60% do PIB em vez dos actuais 100%. Diz que não entende e que muitos gostariam de perceber; estas descidas vão implicar muitas medidas, estamos para ver quais até 2011, e Miguel Portas, um paladino da defesa do povo, indigna-se com a castração de que vamos ser alvo.

É óbvio que Miguel Portas sabe perfeitamente porque é que o défice e o nível de endividamento devem diminuir. Não o faz porque.. deixarei à imaginação do leitor as suas motivações. O que posso fazer, é dentro do meu limitado conhecimento de macroeconomia, exemplificar o perigo de um nível alto de endividamento e défice.

As economias desenvolvidas para crescerem precisam de financiamento; fazem-no como é sabido junto de instituições bancárias. Estas instituições por sua vez, financiam-se junto de outras entidades e cobram aos seus clientes um spread, que funcionará como a sua margem de lucro. Este spread que os bancos têm que pagar quando vão pedir dinheiro emprestado varia em função da situação económica do país. São utilizados indicadores macroeconómicos, como o défice e o nível de endividamento. Quanto maior for o seu valor, maior é o risco de incumprimento, maior é o spread aplicado e mais caro fica o dinheiro para as empresas e para as famílias quando vão pedir empréstimos ao banco (como aconteceu esta semana).

Passando para a vida real: um conhecido pede-lhe 100 euros emprestados. Você sabe que ele recebe 1000 euros por mês e que tem encargos mensais de 1010 euros. Percebe rapidamente que ele não vai conseguir tão cedo pagar a sua dívida. Empresta-lhe o dinheiro?

1 comment:

Rui Caldeira said...

Eu empresto porque sou um bacano e acredito que no espaço de 2 ou 3 meses me vai sair um prémio no Euromilhões ahahahah