Sunday, February 28, 2010

Nós não somos a regra

Um conceito aparentemente simples, o facto de um caso único - seja qual for o assunto - não servir para tirar conclusões de absolutamente nada, é constantemente distorcido, sinceramente, nem sei bem porque razões. Reparei contundo, que é uma prática habitual e disseminada pela sociedade.

O caso mais habitual, e que tem explicação é o do tabaco. Sabemos todos, sem excepção, que fumar aumenta a probabilidade de vivermos menos tempo, com menos qualidade ou com doenças potencialmente perigosas. Ainda assim, muitos fumadores em conversa recordam sempre o velhinho de noventa anos que fumou a vida toda e morreu com noventa anos. Não é preciso ser físico nuclear para entender que o velhinho que conhecemos não representa uma amostra significativa. Contudo, as pessoas que ficam sem pulmão e que fumavam, tal como as que têm cancro de pulmão e fumavam, existem num número suficientemente grande, para que se possa formar uma correlação a esse respeito e chegar a uma conclusão. De qualquer maneira, este fenómeno é explicado pela psicologia, através da teoria da dissonância cognitiva: o fumador sabe que fumar faz mal, contudo, continua a fumar, o que o leva a um estado de tensão. Para diminuir essa tensão, adiciona factos à equação que desvalorizam o facto de fumar fazer mal, neste caso, o velhinho que fumou a vida toda e sobreviveu.

Noutro plano, onde os exemplos são vastos, não há dissonância cognitiva que salve o comum mortal da pseudo-inferência que habita tantas mentes: o cinto de segurança por exemplo. Muitas pessoas morreram porque usavam cinto de segurança. Muitas morreram porque não usavam cinto de segurança. Para lá da lei (que nos obriga a usar cinto de segurança), moralmente, devemos ou não usar cinto de segurança? A estatística fornece-nos a resposta: usar cinto de segurança, reduz a probabilidade de morte e/ou ferimentos em caso de embate. Porque é que ainda ouço tanta gente a relativizar a importância do uso do cinto de segurança? Não sei.

Random Sentences

Envelhecemos quando começamos a prestar demasiada atenção ao boletim meteorológico.

Tuesday, February 23, 2010

Rigor


Existe uma variação considerável no que à compreensão e tradução da palavra rigor diz respeito; aparentemente, a incompreensão aumenta à medida que vamos descendo do hemisfério norte para o hemisfério sul, onde naturalmente, em certa altura da viagem, Portugal se encontra.

Esta incompreensão, para além de gerar os habituais atrasos, complicações e touradas, cria dentro dos elementos que compõem a sociedade - nós todos - uma relativa condescendência perante determinados fenómenos. Há vários exemplos.

Porque é que a velocidade limite nas auto-estradas é 120? Porque não 118, ou 110 ou 140?
Porque é que para um aluno ter positiva, normalmente, tem que ter 10 valores (numa escala de 0 a 20) e não 12, ou 9, ou 14, ou 6?
Porque é que para termos acesso ao nível mais alto - Gold - de um programa de milhas de uma companhia aérea, necessitamos de ter percorrido 70.000 milhas em 12 meses consecutivos?

A resposta reside na mesma razão de fundo, apesar das motivações serem diferentes de caso para caso: porque depois de se considerar os prós e os contras, decidiu-se que aquele valor era o mais sensato para definir como regra. Simples.

Nós, entre outros povos - nisto não somos únicos - consideramo-nos individualmente o expoente máximo da inteligência. Como tal, auto-determinamos que o limite de velocidade de 120km/h é uma parvoíce e aceleramos como se não houvesse amanhã. Um aluno que teve 9,4 valores de avaliação final, foi chumbado com 9 e como tal o professor é um crápula sem sentimentos. Tal como se percorrermos 69.500 milhas num ano, os ladrões da companhia aérea por umas míseras 500 milhas não atribuiram o estatuto Gold. Está tudo contra nós, a vida é uma merda e o mundo está virado do avesso (leiam a história deste simpático mundo há apenas 100 anos e verão o que era viver do avesso).

A falta de rigor, por si só penalizadora, conduziu a sociedade a um estado permanente de vilanização de todos os agentes que cumprem as regras. Inclusive, e no nosso caso em particular, entre a enxurrada patética de desculpas empregues para justificar o constante desmazelo, destaca-se provavelmente a mais descabida, o Estado Novo, enterrado há mais de trinta anos, mas ainda assim útil, para criticar todos os que optam pelo rigor.

Sunday, February 21, 2010

Teste Americano


Existe uma forma de avaliação escrita, na qual é pedida aos alunos que escolham entre uma de três - ou mais - respostas possíveis para responder a uma pergunta. É conhecido entre nós como o teste americano. Em Portugal, a este teste é associada alguma facilidade, na medida em que habitualmente, a resposta certa distancia-se consideravelmente das erradas, tornando-se relativamente fácil para o indivíduo que pouco se preparou, ter um resultado decente.

Outro ponto de facilitismo aplicado a este teste é o facto de não se cumprir a totalidade das regras a ele associado, ou seja, sempre que uma resposta esteja errada é descontado um determinado valor á avaliação geral. Serve isto, para evitar que os alunos mal preparados não usufruam do efeito totoloto, ou seja, respondendo aleatoriamente poderão conseguir uma nota final interessante.

Faço agora a ponte da aplicação deficiente do modelo do teste americano para a nossa realidade enquanto cidadãos eleitores: não percebemos ainda,na altura de votarmos, que no meio de todas aqueles quadrados, se escolhermos a opção errada, não ficamos na mesma, pelo contrário e tal como no verdadeiro teste citado, andamos para trás.

As nossas decisões, hoje talvez mais que há dez anos, têm consequências fortíssimas.

Wednesday, February 17, 2010

Random Sentences

Dizer a alguém que a vida era ridícula antes de a conhecer. Coragem ou estupidez?

Temporadas


As séries de hoje, assumem um papel central no entretenimento de milhares de pessoas. Guardo em boa memória algumas séries que acompanhei ao longo da vida - curta, sou jovem - mas confesso que a actual paranóia cria algumas dificuldades à minha pessoa, nomeadamente no que ao seguimento de uma série diz respeito. As séries encontram-se divididas em temporadas. É aqui que a confusão se instala na minha cabeça.

Algo em que reparei é que muitas das séries agora, requerem o visionamento de todos os episódios, ou seja, se não tivermos em posse o histórico da coisa, nem vale a pena tentar perceber o que é que se passa. Quando vejo o anúncio para a temporada quatro, lá penso eu que estou a perder mais uma série que todos vêem. Outro problema são as horas, também não percebo a que horas é que dão as séries. Aparentemente ao fim de semana, repetem tudo, então as poucas que acompanho, ou melhor, que tento acompanhar, vejo-as duas e três vezes, pois tenho que esperar que passem os primeiros episódios para ver os restantes. Ao desabafar sobre a temática com um amigo, sugeriu-me ele que fizesse o download da temporada inteira. Diz ele que assim, se senta um sábado a seguir ao almoço e vê aquilo tudo de uma ponta à outra sem interrupções.

Não quero acreditar que a via ilegal é o único caminho. Aceito sugestões, na medida em que, estou Lost, não sei em que temporada.

Sunday, February 14, 2010

Indignação de capote


Miguel Portas no último Sol, marcado pela capa do polvo, questiona na sua habitual coluna porque raio o défice deve baixar para 3% e porque é que o nível de endividamento deve rondar os 60% do PIB em vez dos actuais 100%. Diz que não entende e que muitos gostariam de perceber; estas descidas vão implicar muitas medidas, estamos para ver quais até 2011, e Miguel Portas, um paladino da defesa do povo, indigna-se com a castração de que vamos ser alvo.

É óbvio que Miguel Portas sabe perfeitamente porque é que o défice e o nível de endividamento devem diminuir. Não o faz porque.. deixarei à imaginação do leitor as suas motivações. O que posso fazer, é dentro do meu limitado conhecimento de macroeconomia, exemplificar o perigo de um nível alto de endividamento e défice.

As economias desenvolvidas para crescerem precisam de financiamento; fazem-no como é sabido junto de instituições bancárias. Estas instituições por sua vez, financiam-se junto de outras entidades e cobram aos seus clientes um spread, que funcionará como a sua margem de lucro. Este spread que os bancos têm que pagar quando vão pedir dinheiro emprestado varia em função da situação económica do país. São utilizados indicadores macroeconómicos, como o défice e o nível de endividamento. Quanto maior for o seu valor, maior é o risco de incumprimento, maior é o spread aplicado e mais caro fica o dinheiro para as empresas e para as famílias quando vão pedir empréstimos ao banco (como aconteceu esta semana).

Passando para a vida real: um conhecido pede-lhe 100 euros emprestados. Você sabe que ele recebe 1000 euros por mês e que tem encargos mensais de 1010 euros. Percebe rapidamente que ele não vai conseguir tão cedo pagar a sua dívida. Empresta-lhe o dinheiro?

Saturday, February 13, 2010

Invenções


Entre as diversas razões que se podem destacar para realçar o porquê da maior parte das invenções terem origem nas principais potências económicas, é possível destacar - para além da óbvia, leia-se, capacidade de investimento - a questão da mentalidade cultural. A revolução industrial por exemplo, aconteceu primeiro em alguns países, não por obra do acaso, mas por ali se reunirem as condições necessárias para tal.

No nosso país, fizemos uma revolução política, ficou por fazer a cultural. O mérito, um factor abominado nestas terras, que é por sinal, uma das chaves para o desenvolvimento sustentado, nunca foi palco de discussão ou de iniciativas políticas que justificassem a sua grandeza. O mérito de alguém no nosso rectângulo é inveja. Haverá trinta mil motivos para alguém ter sucesso, reconhecermos que foi por mérito, isso sim, é uma escalada à montanha mais próxima.

A revolução de que falo, é simples em teoria, mas que levará umas quantas gerações a ultrapassar, o status quo no que à concepção do mérito diz respeito, faz parte do nosso sistema de valores, está enraizado em nós. Precisamos apenas de entender, que a boa sorte dos outros não limita a nossa. Um país, por pequeno que seja, tem oportunidades, e não será o que os outros alcançam que nos impedem, com o nosso mérito, de chegar onde queremos.

O individualismo, não é o quadro negro que nos venderam.

Friday, February 5, 2010

Random Sentences

Life is for professionals.

Thursday, February 4, 2010

Sonhos de terra quente

Acordei com isto na cabeça.

Meu pai, acho que eles continuam escutando a Lua. Correm montanha abaixo, atrás de olhos sem pestanas e loucos de sede de não ver. Quero dizer-lhes que ver a Lua não é tão bom como ouvi-la. Mas eles a mim não me ouvem meu pai. Só me sentem.