Monday, December 28, 2009
Coitadinhos
Por diversas vezes critiquei aqui o papel da sociedade civil; sendo certo que os políticos desempenham um papel preponderante na degradação da nossa qualidade de vida, nós enquanto membros de um Estado de direito que nos possibilita alguma intervenção, não vamos muito além da banal conversa de café que não produz um milímetro do que quer que seja.
De qualquer forma a nossa inacção tem motivos, um deles penso eu, está relacionado com a pressão efectuada por organizações que funcionam mais como força de bloqueio do que como força dinamizadora. O Sindicato dos Jornalistas pediu a intervenção da ERC (outra entidade mirabolante que nos protege de coisa nenhuma) porque o jornal Destak começou a utilizar publicidade contextual, ou seja, num texto jornalístico determinadas palavras quando clicadas ou quando o cursor do rato as sobrepõe conduzem o leitor para outra página ou accionam um pop-up com a dita publicidade.
Está com medo o Sindicato, que os textos sejam desvirtuados para que se possa incluir publicidade nas notícias. Esta preocupação em manter a verdade nas notícias é no mínimo divertida: conhecemos todos a enxurrada de notícias que são veiculadas sem se ter a certeza do que é que se está a dizer e que origina de resto, consequências graves na imagem pública de muita gente. Por outro lado, é de registar que somos dos poucos países desenvolvidos onde os jornais se declaram como independentes. Em democracias avançadas como a do Reino Unido ou dos EUA até as séries de desenhos animados com cariz de crítica social se assumem como liberais ou conservadores.
Cabe ao comum cidadão decidir se quer ou não ler estes ditos textos com publicidade contextual, sendo esse julgamento que deve decidir a existência deste tipo de notícias. Se o público rejeitar a ideia, as empresas na sua lógica económica abandonarão a ideia. Já somos adultos o suficiente para decidir o que é bom ou mau para nós.
Thursday, December 24, 2009
Wednesday, December 23, 2009
Agenda Pessoal
Da discussão política em Portugal pouca coisa se consegue espremer; em vez de um debate construtivo do qual possa resultar algo em benefício do comum cidadão, assistimos de forma continuada a acesas lutas de argumentos vazios em torno de questões onde supostamente, devia reinar a convergência. Qual é o objectivo do País, pergunte a qualquer político. Mesmo assim, voltando um pouquinho atrás e lembrando o pacto de Justiça entre PS e PSD, aquilo que se verificou no fim, foi cada partido a arrogar para si mesmo o ónus de uma decisão alegadamente produtora de benefícios para todos. Conhecemos também o lamaçal em que a Justiça se encontra, não é preciso derivar muito sobre o tema. Ora, se em divergência nada se consegue produzir e em convergência também nada se consegue produzir, qual é a solução?
Mudar de políticos não é de certeza, enquanto forem os partidos a elaborar por sua vontade as listas de deputados, os futuros políticos resultarão sempre das simpatias e influências conseguidas e nunca do seu mérito. Naturalmente, na altura de tomar decisões e assumir posições, alinharão as suas insignificantes vontades com a conveniência dos poderosos que lhes abriram as portas. Portanto, esqueça-se os políticos, pelo menos no modelo que se encontra em vigor.
Este sistema político, tendo em conta as características da nossa forma de ser, é impraticável. É preciso criar regras que evidenciam o mérito baseado nas especificidades próprias do indivíduo e não na sua capacidade de se relacionar ou de causar boa impressão.
Tuesday, December 22, 2009
Monday, December 21, 2009
Portugal i love you, but you're bringing me down
Roubei o título deste post a uma música de LCD Soundsystem e que ilustra na perfeição, o sentimento que tenho neste momento pelo meu País. Não que tenha viajado este mundo e o outro, mas dizia o outro, não há nada como a nossa terra e mesmo com todos os nossos defeitos, gosto deste cantinho, mais do que outro sítio qualquer.
Mas para viver na nossa terra, temos que o fazer com um mínimo aceitável, que no caso de alguns está muito bom, para outros nem por isso. Pessoalmente, pareço um gajo em desespero a remar, remar, sem sair do mesmo sítio. Uma metáfora bem simples, mas que tal como não haver nada como a nossa terra, também não há nada pior que remar sem sair do mesmo sítio. As notícias que têm surgido são devastadoras, não estando o adjectivo longe da verdade ou exagerado que seja. Já falei aqui sobre défice e endividamento externo, o fim de ano a coincidir com o fim de uma década, trouxe mais dados alarmantes.
O nosso poder de compra per capita desceu, tendo como referência o valor do ano 2000 ou seja, trabalha-se o mesmo, compra-se menos. E este ano os preços desceram por causa da crise internacional veja-se bem o descalabro. Não é que se viva na miséria generalizada, o país melhorou nos últimos 20 ou 30 anos (em km de auto-estrada e rotundas pelo menos), mas o objectivo é viver ao nível do resto da Europa, não retroceder (ambição, um quase crime capital neste país).
Fez-se um acordo que previa o aumento sucessivo do salário mínimo para 500 euros até 2011. A confederação do patronato diz que em 2010, pretende que o salário suba para 460 euros em vez dos 475 previstos. E faz-se mais contas. Chegou-se à conclusão que o salário mínimo actual, em proporção, é inferior ao praticado em 1974, ano da bendita revolução. Para ser igual ao de 74 deveria o salário mínimo ao dia de hoje, rondar os 568 euros. Pergunto eu, que raio de tecido empresarial temos nós, que paga salários mínimos equivalentes aos de 30 anos atrás? Quando se diz que o País evoluiu, alto e pára o baile, que muitas reticências há que colocar nesta insidiosa afirmação. A melhoria do nosso nível de vida esteve directamente relacionada com a enxurrada de fundos provenientes de Bruxelas, que beneficiaram alguns mas que nada de novo trouxe a outros. A vida do comum cidadão melhorou, mas numa medida indirecta, ou seja, sempre dependente do que os grandes interesses económicos definiram como benéfico para eles. As auto-estradas são provavelmente o melhor exemplo desta pescadinha de rabo na boca, toma lá conforto para andares a curtir de norte a sul, dá cá impostos que a coisa não é barata. E os planos para o País em vez de serem definidos pelo Estado, foram definidos por todos os que fizeram negócios com o Estado.
Que se pare dois minutos para pensar na questão do poder de compra e do salário mínimo e conclua-se com responsabilidade, o que se deve exigir dos políticos. A velha conversa de que são todos iguais e mal por mal, vota-se no do costume, tem uma consequência perigosa: não é mais do mesmo. Se assim fosse, os indicadores estagnavam. Mas suas excelências, têm tido a capacidade de fazer retroceder a qualidade generalizada do nível de vida. A capacidade está cá, contudo, mal aproveitada e ceifada por regulações que servem os interesses do costume. Business as usual, ao seu melhor nível.
Friday, December 18, 2009
Cartas Soltas - Empregado de Luxo
Um empregado de um restaurante de luxo, invectiva sobre os detalhes pitorescos dos seus últimos 30 anos.
"Nos últimos 30 anos, fui desenvolvendo relações nalguns casos, de amizade com muitos dos clientes que passaram por este balcão. Estão a ver aquele estereótipo do tipo que se senta num balcão depois de ser despedido? Eu sou o gajo que ouve e serve os whiskies de 50 euros o copo. Durante este tempo, aprendi bastante. As pessoas com muito dinheiro até nem são antipáticas de todo. Comecei a interessar-me pelos assuntos que me iam chegando aos ouvidos. E gostava de ler nos semanários, notícias sobre as pessoas que servia tantas vezes. Curiosamente, os que pareciam super simpáticos na televisão revelavam-se autênticos trastes. O mesmo para os que pagavam com o bendito cartão de crédito com a inscrição DR.
Muitos familiares e conhecidos meus perguntavam-me o que é que levava as pessoas a gastarem tanto dinheiro em comida. Eu que estou dos dois lados do balcão, tentei explicar, em vão diga-se de passagem, que a questão não era a comida. Para além da comida ser de facto, diferente do restaurante onde eu vou quando as minhas filhas fazem anos, a prestação do serviço em si, é outra loiça. Como dizem os experimentados homens do marketing, aquilo não é um almoço ou um jantar. É uma experiência. A sincronização dos empregados, a atenção ao ponto de não ter que levantar o dedo para que lhe encham de novo o copo, a delicadeza do trato e a simpatia crónica sem o sentido depreciativo do termo. Isto tudo junto, vale dinheiro. Bastante dinheiro. Mas deve ser daquelas coisas que só passando por elas. É a mesma coisa que a psicologia penso eu. Ora, que qualificações tenho eu para ouvir gente que tem problemas que eu nunca hei-de ter na vida? Nada. Sirvo lagosta ao balcão. Por exemplo. Devo ter aquela coisa de ser bom ouvinte. Não sei como é que o faço. Mas faço. E resulta pelos vistos. Senão não tinha durado 30 anos aqui. Os empregados mais novos dizem que já devo 10 anos à terra. E eu acho o mesmo. Mas gosto disto. Vivi uma vida de rico, sendo remediado. Ou melhor, conheci-a de perto. E fiz parte dela de certa forma. No meu caso, tal como os clientes, fui mais que um empregado de balcão. Isto também, foi uma experiência. Do caraças."
1755
“Amanheceu o dia, em que a Igreja celebrava a festa de Todos-os-Santos, que era em um sábado, sereno, o sol claro e o céu sem nuvem alguma. Pouco depois das nove horas e meia da manhã [...] começou a terra a abalar com pulsação do centro para a superfície; e, aumentando o impulso, continuou a tremer, formando um balanço para os lados do norte a sul com estragos dos edifícios, que ao segundo minuto de duração começaram a cair, ou a arruinar-se, não podendo os maiores resistir aos veementes movimentos da terra, e à sua continuação. Duraram estes, segundo as mais reguladas opiniões, seis para sete minutos, fazendo neste espaço de tempo dois breves intervalos de remissão este grande terramoto. Em todo este tempo se ouviu um estrondo subterrâneo, por modo de trovão, quando soa ao longe. Escureceu-se algum tanto a luz do sol, sem dúvida pela multiplicação de vapores, que lançava a terra, cujas sulfúreas exalações muitos perceberam. Foram vistas em várias partes fendas na terra de bastante extensão, mas de pouca largura. A poeira, que causou a ruína dos edifícios, cobriu o ambiente da cidade com uma cerração tão forte que parecia querer sufocar todos os viventes.A estes impulsos da terra se retirou o mar, deixando nas suas margens ver o fundo às suas águas, nunca dantes visto; e encapelando-se estas em altíssimos montes, se arrojaram pouco depois sobre todas as povoações marítimas, com tanto ímpeto que parecia quererem submergi-las, estendendo os seus limites. Três irrupções maiores, além de outras menores, fez o mar contra a terra, destruindo muitos edifícios e levando muitas pessoas envoltas nas suas águas.Como era dia solene, estavam as igrejas cheias de gente, ficando imensa debaixo de suas ruínas logo que as abóbadas e paredes destas se desfizeram, e caíram. Os que estavam ainda em casa e transitavam as ruas, igualmente uma grande parte foi vítima da mesma calamidade. Os gritos alaridos, clamores ao Céu pedindo misericórdia, sucedendo-se uns aos outros, tudo consternava e movia a lágrimas. Nem os pais buscavam os filhos, nem esposas os consortes, nem mesmo os bens terrenos eram objecto do amor de seus proprietários; ninguém cuidava senão em salvar a vida, e pedir a Deus a salvação de suas almas.Tinha muita gente buscado as margens do Tejo para se livrarem dos edifícios, temendo as suas ruínas: porém, entrando o mar pela barra com uma furiosa inundação de águas, fizeram o mais lamentável estrago, passando os seus antigos limites; e, lançando-se por cima de muitos edifícios, fez aumentar o horror com a voz vaga, que por toda a cidade se espalhou, que o mar crescia.Logo depois do terramoto, primeiro se começou a ver arder o palácio do marquês de Louriçal, a Igreja de São Domingos, o Recolhimento do Castelo, e outros edifícios, em que as luzes, ou fogões das casas, tinham comunicado o fogo aos madeiramentos. Isto, que aumentou as desgraças, fez multiplicar o susto. [...]Continuaram os tremores de horas a horas com menos violência, mas com igual horror, temendo-se que a terra se abrisse com a veemência de tantos abalos.”
Notícia do Terramoto, Cláudio da Conceição, Lisboa, Frenesi, 2005 (1.ª ed. Gabinete Histórico, tomo XIII, cap. VII, 1829) pág. 11-13
Notícia do Terramoto, Cláudio da Conceição, Lisboa, Frenesi, 2005 (1.ª ed. Gabinete Histórico, tomo XIII, cap. VII, 1829) pág. 11-13
Tuesday, December 15, 2009
Open Mind
Ter uma mente aberta é um exercício de elevada complexidade e determinação. Numa primeira observação, ou percepção se quiserem, ter a mente aberta é aceitar as diferenças dos outros. Entendem-se neste plano, as coisas mais básicas e que a nossa simpática e compreensível sociedade teve a amabilidade de nos ensinar: aceitar o facto de algumas pessoas não terem a mesma cor de pele que nós e por esse motivo não as discriminar. O mesmo se aplica a pessoas com deficiências, emigrantes e por aí fora (em resumo, as minorias). A nossa condescendência com estas minorias vai aumentando de acordo com o passar do tempo, ou seja, quanto maior é o nosso nível de convivência e habituação com um dado grupo, maior será a nossa aceitação perante o mesmo (lembre-se da reacção há uns anos, que a maior parte das pessoas tinha, quando via dois homens de mão dada).
E se aceitarmos tudo isto, temos a tal.. open mind? Afinal de contas, somos um motor da sociedade! Não. Somos tolerantes, que é diferente de ter uma mente aberta. Carregamos intrinsecamente toneladas de preconceito connosco. Quantas vezes avaliámos uma pessoa pela roupa que veste? Pelos acessórios que tem no carro? Pela música que ouve? Pelo penteado? Por ser gordo? A precipitação dos nossos julgamentos superficiais são precisamente a origem da falta de tolerância. Mais, quando formamos uma percepção superficial sobre alguém ou alguma coisa, de imediato formamos crenças que suportem esta percepção. Um maluco para ser maluco, consegue sempre apresentar razões para o ser.
Viver sem preconceito é utópico, ter a mente aberta é possível, implicando contudo, um exercício diário, passível de se tornar, digamos, inquietante. A expressão separar águas não fica neste caso, muito longe do seu sentido estritamente literal.
Sunday, December 13, 2009
Cartas Soltas - Medo do escuro
A morte tenta marcar consulta num psicólogo, para deixar de ter medo no escuro.
"Senhor Doutor,
Pretendo com esta carta antes de mais, sensibilizá-lo para a realidade que me prende e atormenta numa voraz vontade de viver a vida como outro conceito qualquer. A sociedade em que o doutor se insere, foi a que mais se desenvolveu na compreensão de fenómenos tortuosos. Diga-se de passagem, que foi também, a que mais se esforçou para os desenvolver e aplicar. De qualquer forma, esta introdução serve para explicar que o meu pedido vai no sentido de lhe mostrar que falo verdade e que não se trata de nenhuma brincadeira. Até à data, nenhum dos seus colegas acreditou nas minhas sinceras palavras. E deste problema doutor, tenho que me livrar.
Ora, por estranho que pareça, eu, a morte, tenho medo do escuro. Bem sei, que à luz de todas as percepções que a sociedade tem de mim, isto é no mínimo, um paradoxo. Mas eu não tenho culpa que me associem a uma coisa má. Eu não sou boa nem má. Nem vou buscar ninguém de barco. Nem tão pouco peguei numa foice na vida. Mesmo que uma coisa desses existisse, imagine a sujeira que não seria, levar as pessoas para o outro lado, ceifadas como se diz. Bem sei que é uma metáfora, mas mesmo assim, é um exagero de todo o tamanho. Portanto, como qualquer outra coisa que habita este mundo, tenho os meus medos e as minhas incertezas. O escuro é uma delas, e segundo percebo, é possível através dos vossos estudos, compreender este medo e fazer com que ele desapareça. Só peço um pouco mais de qualidade de vida. Já sei o que é que está a pensar. A morte a pedir qualidade de vida. É um paradoxo, bem sei. Mas se eu existo, estou viva. Compreende o meu drama? Estar vivo, não é o contrário de estar morto no meu caso. Aí tem doutor, uma coisa para pensar, vocês que tanto gostam de reflectir sobre tudo e mais alguma coisa. Eu, na minha simples existência, só quero perder este medo. Pensando bem e voltando atrás, se calhar estar morto é o contrário de existir, faz mais sentido. Assim podem incluir-me nestas vossas tiradas pitorescas.
Tendo tudo em conta, compreenda o meu sufoco, e guarde meia-hora do seu dia para mim. Bem sei que me dedicará uma eternidade daqui a uns anos, mas por agora, preciso só de meia-horinha durante umas semanas.
Certa da sua sensibilidade, aguardo notícias suas. De uma forma ou de outra, falaremos um dia (isto não foi uma ameaça doutor, a vida é mesmo assim, ou melhor, a morte é mesmo assim.. bom, como quiser, só não quero ferir a sua sensibilidade).
Cumprimentos,
A Morte"
Thursday, December 10, 2009
Sentidos
Formulamos certezas de forma intrínseca. As certezas que temos trazem-nos segurança. Aparente, porque muitas certezas têm na sua essência outro significado qualquer; lá porque temos a certeza não quer dizer que estejamos certos. Quantos de nós, chegaram a uma qualquer fase da vida, e como que desabando uma montanha sobre nós perguntamos: "Mas afinal o que é que eu sei?"
Chegar a esta fase, apesar do sentimento desagradável que é sentir a pesada estaca zero, deve ser uma vitória. Acabamos por, intrinsecamente de novo, tentar construir uma nova rede de crenças, desta feita com mais cautela, mais precaução, mais inseguros e de início com um pouco menos de fé. Mas inicia-se um novo ciclo, com menos erros espera-se, a esperança diz o povo, o resto já sabem.
A partir daqui os caminhos divergem: errar é humano, duas vezes é animal. E por aí fora. E errar duas ou mais vezes pode ser mais do que emoção. Pode ser de novo, o desejo súbito da certeza e a serenidade aparente que a mesma traz. Viver constantemente em questão é algo trabalhoso. O sentido que as coisas tornam, o rumo que nos decide e a certeza do que será, são uma periclitante equação, com resultados sempre diferentes. A cada minuto. E a hora, a hora em que desistimos da questão, quando a resposta é para sempre, é desistir, para sempre também, daquilo que queremos. Entregar-nos, não é o mesmo que nos mandarmos de cabeça. O que é que se perde com tanta ponderação? E o que é que se ganha com tanto ímpeto? Tudo e nada. Não há respostas certas. E é esta premissa que nos tortura e que nos leva a tirar, as tais conclusões precipitadas. Quantas vezes ouviu "Não tires conclusões precipitadas", quer o tipo dizer, que podes cair do precipício e lá vão as certezas todas embora. Ninguém gosta de ouvir disto. O fantasma da estaca zero. Quantas vezes é preciso voltar ao zero? Mais uma pergunta por responder. E como é que se vive assim? Para esta a resposta é simples: não se pensando nisso. E termino com este paradoxo, pensar demais aflige, pensar de menos leva ao erro. E agora?
Monday, December 7, 2009
Copenhaga
O aquecimento global será sem dúvida um dos grandes temas deste século. Sinceramente, não sou propriamente um activista da causa, apesar de reconhecer a seriedade e gravidade do fenómeno. Já hoje, se sente em muitas partes do globo, fenómenos climáticos extremos e com consequências graves (uma ilha com cerca de 300 habitantes e que se estima que irá desaparecer por causa da subida do nível das águas, já firmou um acordo com a Austrália para alojar a sua população quando o inevitável acontecer).
Basicamente, os países que mais emitem CO2 (como é o caso da China e EUA), não podem de uma hora para a outra, reduzir as suas emissões para os níveis pretendidos pelos ambientalistas. É muito interessante ser a favor de menos emissões, mas sabe muito bem, ter todo o conforto ocidental à porta de casa (que implica emissão de CO2). Segundo dados recentes, o território da França tem capacidade para produzir alimentos para um máximo de 650.000 pessoas (não recorrendo a qualquer tipo de indústria e consequentemente à não emissão de gases de efeito de estufa). A população estimada do país é de 64,4 milhões de pessoas.
Apesar de acreditarmos nas consequências graves que os cientistas nos apresentam, não conseguimos imaginar-nos num mundo com fenómenos extremos a cada três dias, fome, destruição, secas extremas, falta de alimentos, migrações e o diabo a sete. Uma catástrofe bíblica resumindo. Alguém consegue imaginar isto? Claro que não. Portanto, o esforço e vontade para a redução necessária das emissões de CO2, ficarão circunscritos a pequenos actos (que têm o seu valor), insuficientes para dar a volta à coisa.
Soluções? 27.000 conferencistas em Copenhaga a partir de hoje. Vamos ver.
Sunday, December 6, 2009
Carta de Reclamação - A Morte
A morte, indignada, escreve uma carta a organizações religiosas, reclamando sobre a percepção que tem sido transmitida às populações sobre si própria.
"Boa tarde,
O vosso esforço por me evitar é no mínimo, divertido. A tradição judaica ensinou-vos, nos últimos 3.000 anos, que existe vida para além da morte. Pouco me importa. Querem achar que são eternos, força. Porque não? Até compreendo. Atravessam uma vida louca, cheia de obstáculos, sensações, emoções, tristezas, alegrias e tremoços. A micronésima parte que vocês representam no universo não passa disso mesmo, mas entendo, que sendo uma experiência para vocês tão complexa e atribulada, não possa acabar assim, sem mais nem menos.
Durante muito tempo, a vossa famigerada instituição, tranquilizou milhões de almas perdidas. Se havia vida depois da morte, nada havia a temer. E se querem a minha opinião, naqueles tempos, mais valia estar morto que estar vivo. Mas tudo mudou. Lentamente, mas mudou. As vossas miseráveis vidas, tornaram-se ligeiramente menos miseráveis em alguns sítios. Os vossos corpos duram agora muito mais tempo, e os cavalheiros das batas brancas vivem numa luta desbravada para adiar a bendita hora. Os únicos que admiro, sinceramente, são os que escolhem viver. A maior parte de vós, não entende, o que é pensar em mim e sentir alívio. Quando a ideia de partir se torna agradável, ficar aí, significa qualquer coisa. Divirto-me também com toda a literatura que vocês desenvolveram ao longo dos anos e o medo de mim, tornou-se de tal forma gritante, que até já diagnosticam pessoas com a tal da hipocondria, que sim, em última análise, é medo também de morrer.
Aquilo que pretendo, de uma vez por todas, é que se transmita a minha importância enquanto parte de um ciclo natural; o vosso mundo tem um fim. Tudo começa e acaba. Eu sou um simples símbolo de determinados fins. Não tem que ser uma alegria, nem uma tristeza. É o que é. Um fim. Tratem das vossas massas como eu trato do meu poder: com muito cuidado. Descobrirão, mais rápido do que pensam, que não devem ter medo da verdade. A bem, ou a mal.
Despeço-me, não para sempre claro."
Wednesday, December 2, 2009
Pictures inside my head
De acordo com o Público de hoje, todos os dias há um bebé português que vai nascer a Espanha. São estes os pequenos (para já) sinais da nossa debilidade económica. Maternidades encerraram, obviamente, porque era necessário reduzir o défice. A falta de dinheiro para manter as estruturas básicas do país (e uma maternidade é uma estrutura básica) tem uma consequência, igualmente, básica: se a organização Estado não tem capacidade de assegurar serviços básicos, outras organizações o farão, neste caso, o Estado espanhol.
À medida que nos vamos endividando mais e mais, a nossa cotação internacional vai descendo e a nossa capacidade de contrair crédito é cada vez menor. Menos crédito significa dinheiro mais caro para quem dele precisa para investir. Nada é catastrófico, porque em matéria política, tudo é volátil. Contudo, se continuarmos a optar pela esquizofrenia das obras inúteis, as organizações, leia-se, os Estados com acesso a dinheiro mais barato, tomarão o seu lugar nas nossas instituições, deslocalizando os centros de decisão para algures na Europa.
Se acham a tirada rebuscada, o que dizer de recentes comentários do governo espanhol, insinuando a necessidade de consertar posições entre Portugal e Espanha relativamente a matérias de decisão no âmbito da UE? Pequenos passos, nada inocentes. Vivemos numa época sem fronteiras, onde a soberania de cada país, de capital depende. Todos os que dependem do Estado para viver, mais cedo ou mais tarde, compreenderão (à força provavelmente) que as benesses intermináveis de que gozam conhecerão um fim amargo.
Tuesday, December 1, 2009
Random Sentences
A intranquilidade do relativismo, deve ser tudo, menos um susto para a nossa calma.
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