Wednesday, November 4, 2009
Realismo
O realismo surgiu no séc. XIX como uma corrente filosófica, que defendia o facto empiricamente averiguado, as ciências exactas e o consequente progresso técnico. Criticava também o romantismo, dono de idealizações exageradas e insidiosas excentricidades, que de certa forma - e apesar de belas - ofuscavam o verdadeiro sentido e natureza das coisas. No campo intelectual, a corrente deu lugar a descrições pormenorizadas e exactas da sociedade e do homem. A crítica em vez de ser subliminar, passou a ser objectiva e sem rodeios.
A minha introdução serve para ilustrar o discurso do governo português e o discurso da Comissão Europeia (CE) - perspectiva romântica e realista respectivamente.
Vejamos.
A CE prevê um défice de 8% para 2009 e de 8,7% para 2011.
A dívida pública bate também um simpático recorde, atingindo 77,4% em 2009, prevendo-se ainda 91,1% (!!!) em 2011.
A despesa do Estado atinge finalmente a barreira psicológica dos 50% do PIB.
O desfecho deste discurso romântico pode resultar num desgosto complicado de digerir. Sempre que virem um primeiro-ministro vigoroso a defender o TGV na televisão, lembrem-se dos números da CE. Curiosamente, as pessoas com quem falo e que defendem obsessivamente o investimento público como motor para a economia, são os que menos beneficiam destas políticas e de resto, os directamente afectados pela subida galopante de impostos dos últimos anos.
Uma nota relativamente aos impostos: não se pense, que só porque se recebe reembolso do IRS ou porque temos um ou outro benefício resultante de um escalão de rendimentos inferior, que somos uma espécie de privilegiados relativamente ao resto da nação. Todo o santo dia, o estado cobra-nos receita (independentemente da nossa condição económica) que vai depois utilizar (ou melhor, inutilizar) nas suas aventuras. Desde o simples pão, passando pelo automóvel, um copo de vinho, cigarros ou até um livro, contribuímos todo o santo dia para a aventura romântica destes senhores (todos os dias consumimos alguma coisa). Sei que para alguns o último parágrafo parece demasiado óbvio, mas a abstracção mental relativamente a esta matéria em que muitos vivem, justifica a declaração de interesses do escriba.
Repara-se no ciclo perverso em que estamos presos: o Estado investe com pouco retorno. Precisa de cobrar mais impostos para gerar mais receita. Ficamos com menos dinheiro disponível. Consumimos menos. A economia ressente-se. Gera menos receita. O estado tem que aumentar de novo os impostos. Ficamos de novo com menos dinheiro. O ciclo tem um fim, nada interessante, como devem calcular.
O grande favor que o estado nos podia fazer, não é a torrente interminável de paliativos disponibilizados para quando as coisas nos correm mal. O que nós precisamos, de uma vez por todas, é que as coisas nos corram bem, ou seja, que não se precise do estado para nada! Mas nesse dia, quantos interesses instalados morriam?
Recomendo ao prezado 1º Ministro (pessoa conhecedora de muitas frases feitas e diversas citações) a leitura de Madame Bovary de Gustave Flaubert (se já leu, leia de novo).
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