Sunday, December 6, 2009
Carta de Reclamação - A Morte
A morte, indignada, escreve uma carta a organizações religiosas, reclamando sobre a percepção que tem sido transmitida às populações sobre si própria.
"Boa tarde,
O vosso esforço por me evitar é no mínimo, divertido. A tradição judaica ensinou-vos, nos últimos 3.000 anos, que existe vida para além da morte. Pouco me importa. Querem achar que são eternos, força. Porque não? Até compreendo. Atravessam uma vida louca, cheia de obstáculos, sensações, emoções, tristezas, alegrias e tremoços. A micronésima parte que vocês representam no universo não passa disso mesmo, mas entendo, que sendo uma experiência para vocês tão complexa e atribulada, não possa acabar assim, sem mais nem menos.
Durante muito tempo, a vossa famigerada instituição, tranquilizou milhões de almas perdidas. Se havia vida depois da morte, nada havia a temer. E se querem a minha opinião, naqueles tempos, mais valia estar morto que estar vivo. Mas tudo mudou. Lentamente, mas mudou. As vossas miseráveis vidas, tornaram-se ligeiramente menos miseráveis em alguns sítios. Os vossos corpos duram agora muito mais tempo, e os cavalheiros das batas brancas vivem numa luta desbravada para adiar a bendita hora. Os únicos que admiro, sinceramente, são os que escolhem viver. A maior parte de vós, não entende, o que é pensar em mim e sentir alívio. Quando a ideia de partir se torna agradável, ficar aí, significa qualquer coisa. Divirto-me também com toda a literatura que vocês desenvolveram ao longo dos anos e o medo de mim, tornou-se de tal forma gritante, que até já diagnosticam pessoas com a tal da hipocondria, que sim, em última análise, é medo também de morrer.
Aquilo que pretendo, de uma vez por todas, é que se transmita a minha importância enquanto parte de um ciclo natural; o vosso mundo tem um fim. Tudo começa e acaba. Eu sou um simples símbolo de determinados fins. Não tem que ser uma alegria, nem uma tristeza. É o que é. Um fim. Tratem das vossas massas como eu trato do meu poder: com muito cuidado. Descobrirão, mais rápido do que pensam, que não devem ter medo da verdade. A bem, ou a mal.
Despeço-me, não para sempre claro."
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