Saturday, March 6, 2010

Detalhes..zecos


Existe uma paranóia colectiva em Portugal com detalhes; isto não constituiria um problema se esses detalhes fossem relevantes. Existe até uma conhecida expressão, Deus está nos detalhes (alguns dizem que se deve dizer que é o Diabo, fica à sua consideração), aludindo à importância das partes que formam um todo. Naturalmente, algumas partes são importantes e devem ser discutidas, outra não são importantes e podem também ser discutidas, mas no devido tempo e nos devidos locais, sob pena de não se falar sobre o que é importante.

Há vários exemplos do que é a subversão deste princípio: José Sócrates sempre que vai em visita oficial ao estrangeiro faz jogging de manhã. A notícia, independentemente do veículo que é utilizado para a transmitir, fá-lo de uma forma jocosa. Não entendo, sinceramente, qual é o problema do homem se pôr a correr e incentivar as pessoas a praticarem exercício físico. É um detalhe que pode ser discutido, contudo, no devido tempo e nos locais apropriados (revistas cor-de-rosa por exemplo).

Hoje mesmo saiu o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC). Do pouco que vi, serão reduzidos alguns benefícios fiscais, aumentarão os impostos para a banca e ao que parece, teremos de novo privatizações. Que importância foi dada no primeiro minuto? O facto do governo recorrer a uma multinacional de relações pública para melhor conduzir o processo de apresentação do programa. Temos que reduzir o défice a ferro e fogo e o que ouço na televisão é uma KG qualquer coisa que calendarizou a data de apresentação do PEC. Mais um detalhe.

Ainda sobre detalhes, estes de incoerência: no último post, critiquei aqueles que na Função Pública protestam na rua e depois votam nas mesmas caras (a troco de aumentos salariais irresponsáveis) a quem meses antes apelidaram de ladrões. Hoje no Público, vejo que um investigador, Luís de Sousa, apresentou um estudo onde se conclui que 63% da população portuguesa tolera a corrupção desde que daí resultem efeitos benéficos para o bem geral. Se quase dois terços da população acha que ser corrupto em determinadas circunstâncias não tem problema nenhum, que moral têm para criticar os políticos? Mais, se toda esta gente pensa assim, a probabilidade de termos decisores a pensar da mesma maneira é altíssima, que conduz inevitavelmente aos episódios que vamos presenciando.

A qualidade da classe política depende em larga escala da pressão que a sociedade consegue exercer sobre ela. Neste capítulo, temos falhado redondamente. Enquanto a classe política compreender que não existem consequências para as suas práticas lesivas e que a maior parte da população vive num estado de alienação permanente, pouco ou nenhum esforço farão para mudar. Eles próprios, e o País.

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