Friday, March 5, 2010
Merecer?
Ciranda por aí uma ideia, a partir da qual se pretende legislar, no sentido de punir as familías que não acompanham devidamente a educação dos seus filhos, nomeadamente o seu desempenho, comportamento e conduta escolar.
Isto leva-me a pensar no estado em que vivemos e como é que aqui se chegou. Para algo acontecer existe sempre mais do que um motivo, contudo - e normalmente - um motivo será mais preponderante e mais saliente do que outros. Nos últimos trinta anos, o poder político foi transmitindo de uma forma errada à população quais eram os seus direitos e quais eram os seus deveres.
Mal no caso dos direitos, porque uma grande franja da população está convencida de que tem direitos, significando isto, que devem lutar por esses pretensos direitos, ultrapassando tudo e todos e levando até ás últimas consequências aquilo que se apelida de luta. Um exemplo recente: ontem mesmo, tivemos uma greve geral da função pública, por melhores condições e melhores salários. Precisamos de reduzir o défice para 3% até 2013, ou seja, dez mil milhões de euros por ano. O argumento dos cidadãos plenos de direitos, é que se deve ir aos bolsos dos ladrões resgatar esse dinheiro. Estes mesmos injustiçados cidadãos, em época de eleições, votam nos tais ladrões, porque sabem que eles cedem em caso de protesto. És ladrão, mas se me deres o que eu quero, eu tolero-te.
Relativamente aos deveres, o trabalho feito é bem pior que no caso dos direitos, apesar de estar com eles relacionado: como o cidadão tem direitos inalienáveis e fechados a sete chaves num cofre, os seus deveres por sua vez, não passam de uma figura escrita em papel. E melhor, a maior parte dos nossos maus comportamentos podem ter o Estado como culpado: contraímos seis créditos e temos a vida virada do avesso. O Estado deve proteger melhor os consumidores. Temos um acidente de automóvel, o arranjo do carro são 3.000 euros. A culpa é nossa e o seguro não paga. O Estado deve proteger melhor os consumidores. Bem sei que o sector da banca e dos seguros são tudo menos vítimas, mas também não torcem o braço a ninguém para vender um cartão de crédito ou um seguro de vida. Chegamos então ao assunto inicial, as escolas. Existe uma ideia generalizada, que é responsabilidade das escolas educar os filhos dos outros e certificarem-se que passam de ano. Os pais, nos últimos anos, foram demitidos de educar os seus filhos. Chegou-se mesmo ao estranho tempo - este - em que as repreensões a alunos podem resultar em agressões (dos pais!) aos professores.
O caminho para um país diferente passa naturalmente por melhores políticos. Contudo, só os conseguimos obter formando pessoas melhores. Um passo - inevitável - é a atribuição de culpas e responsabilização do nosso estado actual, não exclusivamente aos outros, mas também e serenamente, a nós próprios.
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