Saturday, January 2, 2010

Escandel

Sua excelência, o Presidente da digníssima República decidiu do alto do seu respeitável ar, alertar as massas para o perigo de endividamento do País; as televisões abriram os telejornais com excertos da mensagem de ano novo, com especial ênfase claro, para as preocupações dignas de seu nome. No habitual exercício de não esclarecer devidamente a população em matéria económica, esse insidioso mundo que aos importantes detentores desse conhecimento tudo permite, a SIC colocou numa peça, um bonito recém nascido devedor de dezassete mil euros, aludindo ao valor que cada português "devia" relativamente ao endividamento do país em relação ao PIB (120% do PIB, uns 170 mil milhões de euros).

O comum cidadão, que nem das suas próprias finanças pessoais consegue por vezes dar conta, não vai nunca compreender estas mensagens. Porque sabe que não vai pagar os dezassete mil euros assim, como a coisa é apresentada. Ou melhor, e é esse o problema, vai, não é, é todo de uma vez. É em impostos e taxas que fazem de Portugal o país europeu com uma das cargas fiscais mais pesadas da Europa a 27. De todos os números que por aí vi, desde que sua excelência se pronunciou sobre o estado cadavérico de endividamento nacional, haveria um, muito mais interessante para divulgar aos cidadãos e que dá conta do nosso estado de desespero: em média, cada agregado, depois de pagar todos os seus encargos mensais, fica com 12.7% do seu rendimento total disponível.

Se não conseguimos poupar o que é que fazemos? Contraímos crédito. Mais simples que os dezassete mil euros que o bebé tem que pagar. Realidade em vez de metáforas rebuscadas. O cidadão não tem que ser um letrado economista para entender o estado em que as finanças do país se encontram.

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